Marcio Borges: “Somos moldados a resolver com pouco e a lidar com alegria frente aos desafios”

Reconhecido como o principal evento da publicidade mundial, o Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions acontece de 16 a 20 de junho, reunindo as mentes mais brilhantes e influentes desse mercado.
Este ano em sua 72ª edição, o festival vai homenagear o Brasil, primeiro a receber o título de País Criativo do Ano. A premiação, inédita, reconhece o impacto de um país no universo da criatividade, valorizando seus talentos e sua cultura local.
Como parte da homenagem, o festival terá uma programação especial dedicada ao Brasil, incluindo ativações pela cidade, eventos e exibições.
A Fast Company Brasil convidou alguns dos principais nomes do mercado publicitário nacional para falar sobre o papel da força criativa do Brasil no mundo.
Nesta entrevista, conversamos com Marcio Borges, vice-presidente executivo e diretor geral da WMcCann Rio de Janeiro e pesquisador do NetLab, da UFRJ.
Fast Company Brasil – A que você atribui a vocação brasileira para a criatividade?
Marcio Borges – O Brasil é um dos países mais culturalmente diversos do mundo. A miscigenação, a cultura, o sincretismo, as expressões populares, tudo nos coloca em um contexto de pluralidade. Somos moldados para o improviso, a resolver com pouco e a lidar com alegria frente aos desafios.
A nossa diversidade, a nossa personalidade, nossa atitude perante a vida e a nossa riqueza simbólica gera uma elasticidade criativa sem igual. Além de, no âmbito da publicidade, nós brasileiros sermos muito competitivos em um mercado com muita gente boa, o que nos coloca numa posição de evolução constante.
Fast Company Brasil – Na sua opinião, quais campanhas ou ações ajudam a ilustrar essa vocação?
Marcio Borges – Temos um universo de campanhas relevantes para destacar só uma ou duas. Mais díficil ainda por que tive o privilégio de trabalhar com Washington Olivetto durante anos. Pessoalmente, vou citar duas que gosto muito e são atemporais.
A primeira é de "Mon Bijou X Comfort". Uma rara campanha comparativa feita no Brasil. É muito bom comparar elogiando, mas o plot twist mesmo vem no segundo filme, quando Comfort pede no Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária] para tirar o primeiro comercial do ar. É uma campanha que tem muito das características que falei: poucos recursos, atitude, alegria e muita criatividade frente aos desafios.
A segunda é "Natal de Betânia", para a Coca-Cola. Partirmos de uma questão simples, mas, ao mesmo tempo, profunda. Será que no mundo atual, de profusão de imagens, existem crianças que nunca viram Papai Noel? Essa é uma campanha feita sem atores, com exceção do Papai Noel em si. O resultado também tem muito dessas características.
Mas como destacar uma ou duas campanhas em um país de agências tão competentes e talentosas como o nosso? E no ano em que somos destacados como o País Criativo do Ano e que o festival homenageia o maior publicitário que esse país já teve, Washington Olivetto.