Mais um efeito colateral da desinformação: ela afeta a resiliência dos negócios

Líderes precisam se preparar para um cenário de informação volátil, em que ninguém mais tem o controle absoluto da verdade

Crédito: Peshkov/ Getty Images

Justin Ángel Knighten e Michael S. George 5 minutos de leitura

Hoje, qualquer crise – seja causada por desastres naturais ou ações humanas – pode rapidamente se tornar um risco para os negócios. Se você é CEO, faz parte de um conselho ou ocupa um cargo de liderança, este é o seu sinal de alerta. E também uma chance de agir. Um bom ponto de partida é reconhecer uma ameaça que exige atenção imediata: a desinformação.

Em momentos críticos – como pandemias, ataques cibernéticos ou eventos climáticos extremos – a comunicação é tão importante quanto a resposta. No mundo polarizado em que vivemos, os impactos da desinformação já são visíveis e servem de alerta do que pode vir pela frente.

Notícias falsas podem derrubar ações, causar atrasos nas cadeias de suprimento, minar a confiança do público e até gerar boicotes. E muitas vezes, isso significa investir caro no gerenciamento de crises que poderiam ter sido evitadas.

Prevenir a desinformação com sistemas robustos, capacitação e parcerias não é só uma prática de gestão de riscos. É um investimento direto na continuidade das operações e na resiliência da marca. E sim, há um custo. Mas quase sempre, o custo de não agir é bem maior.

O QUE OS LÍDERES PRECISAM FAZER AGORA

A desinformação não é um problema exclusivo dos governos. Ela afeta todos os setores – de energia e finanças ao varejo e transporte – e afeta empresas de todos os tamanhos, desde grandes corporações até pequenos negócios.

Em grandes desastres como terremotos, enchentes ou ataques cibernéticos, as empresas que operam nas regiões afetadas desempenham um papel fundamental na recuperação. Para isso, precisam da confiança de colaboradores, clientes e comunidades. A desinformação compromete justamente essa confiança.

Mas não são só as grandes tragédias que causam estragos. No mundo atual, onde a informação circula o tempo todo, histórias falsas podem surgir do nada e se espalhar rapidamente. Quanto maior a visibilidade da empresa, maior o risco de ser alvo de alguma fake news que possa prejudicar sua reputação e seus resultados.

Apesar de muitas empresas já estarem cientes desse risco, a velocidade e a frequência com que esses eventos acontecem – de incêndios e ataques cibernéticos a interrupções nos serviços – mostram que o cenário está evoluindo mais rápido do que boa parte delas consegue acompanhar.

Muitas ainda não têm a estrutura nem a estratégia necessária para responder de forma eficaz. Por isso, é fundamental que as lideranças se preparem agora – e não esperem o próximo desastre para criar um plano de ação. Veja por onde começar:

1. Tenha um plano de crise confiável e já testado

Defina os papéis na comunicação, alinhe a estratégia entre departamentos e parceiros externos e esteja pronto para agir com rapidez diante de narrativas falsas que possam afetar a empresa. O foco deve ser, antes de tudo, fornecer informações corretas ao público – antes mesmo de se preocupar com a reputação da marca.

2. Faça treinamentos simulando crises de alto risco

A desinformação se espalha mais rápido do que a verdade, especialmente em momentos de tensão. Se sua empresa nunca testou como reagiria em um cenário desses, está despreparada. Simulações precisam refletir o mundo real: uma postagem enganosa viralizando, uma imagem manipulada circulando ou um boato envolvendo seus produtos ou executivos.

As equipes devem agir em tempo real – checar fatos, alinhar mensagens internas e externas e decidir quando e como se posicionar. Esses testes precisam envolver todas as áreas críticas: comunicação, jurídico, RH, operações. Sempre que possível, inclua também a liderança e o conselho.

Simulações realistas devem incluir variáveis como falta de tempo, dados incompletos e conflitos de interesse. E o mais importante: analise as consequências. A empresa demorou demais? Reagiu de forma exagerada? Esses treinamentos precisam acontecer antes que a crise seja real.

Crédito: Moor Studio/ Getty Images

3. Diversifique seus canais de comunicação

A desinformação não espera uma grande crise para aparecer. Pode surgir durante um recall, uma falha de serviço, um rumor nas redes ou até sem motivo claro. Nessas horas, depender de um único canal de comunicação é arriscado. E se o site sair do ar? Se as redes ficarem sobrecarregadas? Se os e-mails não forem entregues?

Por isso, é essencial ter uma estratégia multicanal. Use ferramentas que você controla, como SMS, notificações em aplicativos, e-mails e plataformas internas como Slack. Some a isso linhas diretas, comunicação via lideranças e até mensagens em embalagens.

A desinformação afeta empresas de todos os tamanhos, desde grandes corporações até pequenos negócios.

Os veículos de notícias tradicionais e locais são essenciais, mas também é importante engajar com criadores digitais que construíram suas próprias comunidades confiáveis online.

Esses são os mesmos canais que as empresas já utilizam para impulsionar vendas ou lançar produtos. Agora, elas precisam estar prontas para corrigir os fatos quando as coisas saem do controle.

Se sua empresa tem lojas ou pontos físicos, então cartazes ou panfletos também são boas opções. Se tudo mais falhar, soluções simples – como rádios locais, materiais impressos e comunicação direta pelos funcionários – podem ser as mais eficazes.

Seja em uma crise de imagem ou em uma emergência maior, o objetivo continua o mesmo: garantir que a mensagem certa chegue às pessoas certas, na hora certa – com clareza, agilidade e pelos canais disponíveis.

O CUSTO DE NÃO AGIR

Empresas que não se adaptam não estão apenas ficando para trás, estão expondo pessoas, ativos e sua viabilidade a longo prazo a riscos crescentes.

Estar preparado já não é mais apenas uma boa prática, é uma exigência de mercado. Na próxima crise, não será a verdade que moverá as ações, mas sim aquilo que as pessoas ouvirem primeiro e acreditarem mais rápido.

No entanto, há poder no que as empresas fazem em seguida. Marcas confiáveis, comunicadores claros e instituições com credibilidade têm um papel único, não apenas na proteção de sua reputação, mas também em ajudar o público a navegar pela incerteza.

Quando as empresas lideram com clareza e humanidade, elas não apenas sobrevivem à próxima crise, mas também ajudam a construir uma economia mais forte e resiliente para todos. E não é esse o verdadeiro indicador de força de uma marca hoje? Não apenas ser conhecida, mas ser acreditada quando isso realmente importa.


SOBRE O AUTOR

Justin Ángel Knighten é especialista em comunicação estratégica e Michael S. George, em administração de riscos. Ambos são especialist... saiba mais