Por que partir para a vingança no ambiente de trabalho é uma péssima ideia
O desejo de se vingar é algo natural, mas pode trazer sérios riscos

Você já ignorou um colega no trabalho depois de se sentir desrespeitado em uma reunião? Ou ficou imaginando formas de se vingar daquela pessoa que foi promovida no seu lugar?
Mesmo que nunca se concretize, o desejo de vingança está profundamente enraizado no nosso cérebro, de acordo com James Kimmel Jr., autor de “The Science of Revenge: Understanding the World’s Deadliest Addiction – and How to Overcome It” (A ciência da vingança: entendendo o vício mais mortal do mundo – e como superá-lo) e fundador do Yale Collaborative for Motive Control Studies.
“Uma das principais teorias da psicologia evolutiva é que os seres humanos começaram a associar a vingança ao prazer ainda na era do gelo”, explica Kimmel . “Era uma forma de fazer com que as pessoas seguissem as regras sociais do grupo.”
Hoje, no entanto, esse instinto não tem mais a ver com sobrevivência. Ele costuma aparecer quando sentimos que alguém nos prejudicou, ativando um mecanismo de autodefesa.
“O que antes era uma estratégia adaptativa, agora muitas vezes se transforma em algo destrutivo”, observa Kimmel. “Desprezo, insulto, humilhação, traição... são experiências que despertam em nós o desejo de punir ou até de ferir o outro. Com isso, acabamos destruindo relacionamentos importantes sem nem pensar no motivo evolutivo por trás desse comportamento.”
DO "GELO" À SABOTAGEM
Segundo Kimmel, todos nós temos uma espécie de “tribunal mental”, no qual julgamos as pessoas que nos ofenderam ou decepcionaram. “Muitas vezes, quem nos causou esse sentimento nem faz ideia”, diz ele. Mas a intenção pouco importa: o cérebro ativa a área responsável pela dor e busca compensar esse incômodo com algum tipo de recompensa – daí o desejo de vingança.
No ambiente profissional, esse impulso costuma se manifestar como rejeição social: ignorar alguém, excluir da conversa, cortar laços. “É como dizer: ‘não vou mais dar atenção a você. Não vou mais permitir que se sinta parte do meu grupo’”, explica. “É uma forma de retaliação.”

Esse tipo de comportamento, apesar de parecer inofensivo, pode escalar rapidamente. O que começa com um simples “gelo” pode acabar evoluindo para sabotagem de projetos, críticas anônimas ou até ataques diretos. Em casos mais graves, pode até culminar em episódios de violência no ambiente de trabalho.
OS RISCOS DE SE BUSCAR VINGANÇA NO TRABALHO
A vingança, segundo Kimmel, não é apenas uma emoção: é um impulso motivacional. “O cérebro tem uma área responsável pelo autocontrole, o córtex pré-frontal. É ele que impede que a gente faça coisas que possam nos prejudicar ou ferir outras pessoas.” Quando esse freio falha, o desejo de vingança pode se transformar em ações reais dentro do ambiente profissional.
Mesmo que, em um primeiro momento, traga uma sensação de alívio, a vingança no trabalho (e na vida) cobra um preço alto. “Você corre o risco de prejudicar um relacionamento que ainda poderia ser útil ou importante”, ele alerta. “É uma faca de dois gumes: ao tentar ferir o outro, você também acaba se machucando.”
O instinto de vingança costuma aparecer quando sentimos que alguém nos prejudicou.
A vingança ativa a liberação de dopamina – o hormônio do prazer –, mas esse efeito é passageiro. E o sentimento de dor costuma voltar ainda mais forte, criando um círculo vicioso.
Os danos podem ser ainda maiores: você pode perder o emprego, queimar pontes importantes dentro da empresa e manchar sua reputação profissional. “Essas consequências podem se estender à sua vida pessoal”, avisa Kimmel. “Tudo o que você construiu pode começar a ruir por causa da dificuldade de controlar esse impulso.”
Pessoas vingativas no ambiente profissional costumam ser vistas como “estouradas”. Mas, segundo Kimmel, a questão é mais profunda: “não se trata de maldade. É alguém que está lidando com um desejo de vingança tão forte que se torna quase um vício.”
COMO INTERROMPER O CICLO DA VINGANÇA
Uma das formas mais eficazes de controlar o impulso de vingança no trabalho é algo que também faz parte da natureza humana: o perdão. “Estudos em neurociência mostram que, ao simplesmente imaginar o ato de perdoar, o cérebro começa a desativar o circuito da dor e interrompe o ciclo do ressentimento”, diz Kimmel. “Você deixa de alimentar aquelas fantasias de vingança.”
Embora o perdão muitas vezes seja interpretado como fraqueza, Kimmel acredita que ele é, na verdade, um sinal de cura. “Perdoar é recuperar o controle sobre o próprio comportamento, ativando novamente o córtex pré-frontal – que nos ajuda a evitar atitudes impulsivas e prejudiciais.”
E o melhor: é algo que você pode fazer a qualquer momento. “Feche os olhos e imagine como seria perdoar. A maioria das pessoas relata uma sensação imediata de leveza, como se um peso tivesse sido tirado dos ombros. Isso permite deixar o passado para trás e seguir em frente.”
Se você está preso a um ambiente tóxico, pode ser necessário se afastar para preservar sua saúde mental e emocional. “Quando você busca vingança no trabalho, revive aquela dor todos os dias, trazendo-a constantemente para o presente. Mas, uma vez que a ameaça deixa de estar presente, ela se torna apenas uma lembrança – e a memória, por si só, não tem mais poder sobre você.”