Startup usa videogames para tratar problemas de saúde

Crédito: Fast Company Brasil

Chris Morris 4 minutos de leitura

Os videogames sempre foram alvo de críticas por serem prejudiciais à saúde dos jogadores. Mas a ciência por trás dessas acusações é obscura, para dizer o mínimo. Agora, um dos executivos veteranos da indústria de videogames resolveu se unir a um especialista em dispositivos médicos para criar jogos projetados especificamente para ajudar a tratar problemas de saúde.

A DeepWell Digital Therapeutics planeja desenvolver videogames que entretenham e tratem uma variedade de problemas, incluindo transtornos de saúde mental entre crianças e adolescentes – uma das áreas de preocupação mais crescente entre profissionais de saúde. A empresa é uma criação de Mike Wilson, cofundador da conceituada desenvolvedora de jogos indie Devolver Digital, e de Ryan Douglas, que foi fundador e é ex-CEO da empresa de dispositivos médicos Nextern.

“Pretendemos nos concentrar na área da saúde mental e em muitas áreas carentes da saúde nas quais os videogames podem ter um grande impacto”, disse o cofundador Ryan Douglas. “Os jogos propiciam um nível de envolvimento e um aprimoramento terapêutico real para o tratamento de saúde mental. Eles provocam uma abertura de visão nas pessoas, que passam a pensar e agir de maneira diferente. A autorrealização, o biofeedback, a agência e a dramatização que se experimenta durante um jogo podem acelerar o aprendizado de novas habilidades por meio do aumento da neuroplasticidade”.

A EMPRESA PLANEJA DESENVOLVER GAMES QUE TRATEM UMA VARIEDADE DE PROBLEMAS, INCLUINDO TRANSTORNOS DE SAÚDE MENTAL ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

“O videogame é muitas vezes severamente julgado por seus impactos negativos percebidos na mente e no corpo”, diz Wilson. “Mas os games podem fazer bem aos jogadores e, graças à distribuição digital global, são uma ferramenta importante para tornar o tratamento disponível e acessível. Além disso, como jogos podem ser realmente divertidos, pacientes e jogadores tendem a buscar seus benefícios positivos repetidas vezes.”

Wilson sabe muita coisa sobre jogos que prendem a atenção. Ele tem sido o homem de negócios para o criador de Doom id Software. Também foi cofundador da Ion Storm e agente fundamental no recrutamento de Warren Spector para essa equipe. Lançou a primeira editora voltada a desenvolvedores do setor, a Gathering of Developers. E, é claro, é cofundador da Digital Devolver, a empresa por trás do popular jogo de batalha Fall Guys: Ultimate Knockout.

PESQUISAS ANTERIORES

Há anos, diversos pesquisadores vêm promovendo o potencial dos videogames para a saúde. Em 2015, por exemplo, a Ubisoft e a Universidade McGill de Montreal se uniram para criar um jogo para ajudar pessoas com ambliopia, doença mais conhecida como olho preguiçoso.  O Dig Rush só está disponível mediante receita médica. Ele mobiliza os dois olhos de modo a treinar o cérebro, usando diferentes níveis de contraste de vermelho e azul e um par especial de óculos estereoscópicos.

Existem muitos outros exemplos. Um estudo de 2015 da Universidade de Freiburg, na Alemanha, descobriu que jogos baseados em narrativas podem ser benéficos para pessoas com autismo, satisfazendo sua necessidade de socialização. Vários estudos apontam que a incorporação de videogames na fisioterapia pode ajudar pessoas com mal de Parkinson a melhorar o equilíbrio e a marcha, bem como suas faculdades mentais.

Outros agentes também estão explorando a gamificação da saúde. Empresas como a Sensorium esperam que as interações no metaverso proporcionem relaxamento e companheirismo, e que ajudem a melhorar a saúde mental dos jogadores.

GAMES PODEM FAZER BEM E SÃO UMA FERRAMENTA IMPORTANTE PARA TORNAR O TRATAMENTO DISPONÍVEL E ACESSÍVEL.

Mas o método da DeepWell é um pouco diferente dos outros.  Ela desenvolveu um conjunto de processos que seguem as diretrizes da FDA (Food and Drug Administration, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) e que ajudam a garantir que todos os requisitos regulatórios sejam atendidos durante as fases de desenvolvimento e implantação.

Além de criar seus próprios títulos, a Deep Well espera ajudar os desenvolvedores a identificar games já em desenvolvimento que possam ser benéficos para o tratamento de condições médicas. Os jogos selecionados podem aproveitar o kit de ferramentas da empresa para incorporar tecnologia terapêutica. A equipe trabalha para garantir as aprovações necessárias para que eles possam ser usados como opção de tratamento. A primeira lista de jogos está prevista para 2023.

“Agora que divulgamos publicamente o que estamos fazendo, vamos nos engajar ativamente com uma ampla gama de parceiros, de editores e desenvolvedores”, anunciou Wilson. “Se tiver que fazer uma previsão, diria que lançaremos nosso primeiro jogo produzido originalmente – e talvez ainda mais um – no ano que vem. Depois, teremos de seis a oito jogos parceiros e, o mais importante: nossa plataforma completa para orientar os jogadores na escolha dos jogos certos para eles.”


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais