Liderança, a IA é a menor das suas preocupações
O que acontece quando os próprios líderes começam a se automatizar?

Tem coisa que a inteligência artificial faz melhor que a gente. E não há problemas em reconhecer isso, desde que a gente não esqueça o que ainda é, e deve continuar sendo, exclusivamente humano.
Quando a liderança começa a se parecer mais com um algoritmo do que com um ser humano. Quando a prioridade vira otimizar cada reunião, cada processo, cada palavra. Quando escutar vira um comando e responder vira um output – aí temos um problema, um grande problema.
Não adianta querer eficiência no que exige presença sem presença. Muito menos métricas onde precisa de sensibilidade.
O que está em jogo não é só a produtividade. É o vínculo. É o tipo de decisão que não cabe em planilha, mas pesa no estômago, no dia a dia, na vontade, no desejo de estar ali.
Automatizar processos, sim, estamos plenamente de acordo. Mas automatizar relações, não – aí a coisa muda de figura e começamos a entrar em um território complexo, no qual as opções nunca serão as melhores.
Talvez o desafio agora não seja ensinar a IA a parecer humana, mas lembrar os líderes do que ainda os torna humanos e como fazer bom uso disso.
Os números não mentem, mas também não sentem. Quando a liderança começa a entender isso, deixa de confiar apenas neles, reduzindo os riscos de liderar a partir de dashboards.
Vivemos tempos em que dados tomam decisões, algoritmos desenham metas e a inteligência artificial começa a pautar comportamentos. Mas quem cuida daquilo que é intangível? Do incômodo que não se mede? Do silêncio entre uma fala e outra? Do sentimento de inadequação a tudo isso?

É confortável transferir tudo para a IA, inclusive o desconforto. Mas pessoas não são sistemas binários. Pessoas até tem um algo e trazem consigo um ritmo. Mas nem por isso são um algoritmo, certo?
Aliás, na minha última coluna aqui na Fast Company Brasil, falei sobre como estamos, aos poucos, deixando de agradecer aos modelos de IA porque isso custa caro. Então refleti sobre como isso pode nos anestesiar para o vínculo mais importante, o humano.
Agora, seguimos aprofundando essa discussão: o que acontece quando os próprios líderes começam a se automatizar? Se a gentileza virou custo e o cuidado virou dado, quem vai sustentar o que não cabe em código?
Automatizar processos, sim. Automatizar relações, não.
Liderar nunca foi sobre controlar tudo. Sempre foi sobre sustentar a dúvida, a escuta, o espaço. E isso não se terceiriza.
No meio de todo esse ruído tecnológico, talvez a verdadeira disrupção agora seja reaprender a cuidar. A reconhecer. A sentir.
Se a liderança se comportar como algoritmos, quem vai cuidar do que realmente importa?
Como bem disse o poeta: “gente quer comer, gente quer ser feliz, gente quer respirar ar pelo nariz”.
Até a próxima.
