“Ghosting Corporativo”: processos seletivos com IA colocam uma pressão extra nos candidatos 

Jovem com semblante triste olhando para o notebook
Com os algoritmos ganhando protagonismo nas seleções, candidatos precisam se preocupar com as palavras certas para serem identificados pelas plataformas. Créditos: Freepik.

Guynever Maropo 1 minutos de leitura

Buscar emprego exige esforço e pode causar exaustão. Na era da hiperconectividade, da produtividade extrema e da automação nos recursos humanos, esse desgaste emocional tem se intensificado, e um fenômeno tem colaborado com isso, o ghosting corporativo, ou seja, a ausência de retorno nos processos seletivos.

Segundo o Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental, no Brasil, 83% das pessoas que procuram emprego relatam ter pouca energia, e 71% afirmam ter perdido o prazer nas atividades cotidianas. A rotina de enviar currículos, participar de seleções longas e não receber retorno tem levado muitos candidatos ao esgotamento emocional.

A psicóloga do trabalho Ariana Fidelis, da PUC-GO, aponta que o desgaste é provocado tanto pela incerteza financeira quanto pela carga emocional do próprio processo de recolocação. A ausência de resposta após diversas tentativas compromete a autoestima e gera frustração. “A pessoa entra num ciclo de tentativas frustradas que colocam em dúvida tudo o que ela já conquistou”, afirma.

Esse cenário se agrava com o uso dos sistemas digitais de recrutamento, como os ATSs (Applicant Tracking Systems), que utilizam Inteligência Artificial para selecionar perfis. Segundo Rui Brandão, médico e vice-presidente de saúde mental da Conexa, esses sistemas tornam o processo impessoal e intensificam a sensação de invisibilidade.

Com os algoritmos ganhando protagonismo nas seleções, candidatos precisam se preocupar com as palavras certas para serem identificados pelas plataformas. “É preciso usar as palavras certas para ser encontrado pelo robô”, alerta Deives Rezende Filho, CEO da Conduru Consultoria.

O isolamento emocional se intensifica quando a rede de apoio enfraquece. Amigos evitam convites e interações por receio de constrangimento, o que aprofunda o sentimento de fracasso. “Esse afastamento agrava ainda mais a dor emocional de quem já está vulnerável”, explica Ariana.

De acordo com o ICASM, quase um terço dos trabalhadores desempregados afirmam ter pensamentos de autolesão ou morte. A psicóloga defende a inclusão de escuta e acolhimento nos processos seletivos, mesmo os automatizados, como forma de reduzir os impactos emocionais.

A expectativa frustrada, o esforço ignorado e o silêncio recorrente reforçam a necessidade de processos mais respeitosos e humanos, especialmente em tempos como esse.

Com informações de Camila de Lira em reportagem da Fast Company


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais