Pesquisa comprova que banir sacolinhas plásticas reduz a poluição nos mares
Medidas para limitar o uso de sacolas plásticas descartáveis têm levado a uma queda significativa desse tipo de resíduo nas praias dos EUA

Nos Estados Unidos, quem vai às compras pode optar por colocar os produtos em sacos de papel ou em sacolinhas plásticas . Lá, leis e regulamentações restringindo o uso de embalagem plásticas tem, de fato, ajudado a reduzir a quantidade de sacolinhas nas praias.
Uma nova análise de dados de mutirões de limpeza no litoral mostra que, em regiões onde há proibição ou cobrança de taxas sobre o uso dessas sacolinhas, a presença desse tipo de resíduo entre o lixo coletado caiu consideravelmente.
O estudo traz algumas das evidências mais sólidas até agora de que políticas públicas voltadas ao uso de sacolinhas plásticas realmente contribuem para diminuir a poluição marinha.
UMA AMEAÇA CRESCENTE À VIDA NO MAR
“De forma geral, todas as regulamentações analisadas apontam para uma redução na proporção de sacolinhas plásticas no lixo encontrado nas praias”, afirma Kimberly Oremus, coautora do estudo e professora assistente de ciência marinha e políticas ambientais da Universidade de Delaware, nos EUA. Segundo os dados, essa redução variou entre 25% e 47%.
A estimativa da União Internacional para a Conservação da Natureza é que cerca de 20 milhões de toneladas de plástico sejam despejadas no meio ambiente a cada ano – o equivalente a mais de 2,4 quilos por pessoa no planeta.
Sacolinhas plásticas são especialmente comuns nos ecossistemas marinhos. Elas são difíceis de reciclar e, por serem leves e com grande área de superfície, têm mais chances de serem levadas pelo vento e escaparem do lixo comum, explica Erin Murphy, gerente de ciência e pesquisa em plásticos oceânicos da ONG Ocean Conservancy (que não participou do estudo).
Ela lembra que, só em 2024, os voluntários da campanha global International Coastal Cleanup (Limpeza Costeira Internacional) recolheram mais de um milhão de sacolinhas plásticas.
Além de se espalharem com facilidade pelo meio ambiente, elas representam um risco maior para a vida marinha. Animais podem se enroscar nelas, sufocar ou até confundi-las com alimentos – como águas-vivas, por exemplo, que são parte da dieta de muitas espécies.
Essas interações com o plástico podem levar à morte tanto animais comuns quanto de espécies ameaçadas, contribuindo para o declínio populacional em diversas regiões.
QUANTIFICANDO AS SACOLINHAS PLÁSTICAS
“Um dos grandes desafios ao estudar o impacto das regulamentações sobre plásticos é justamente medir esse tipo de poluição no ambiente”, afirma Anna Papp, coautora do estudo.
Para lidar com essa dificuldade, os pesquisadores utilizaram dados colaborativos de mutirões de limpeza realizados por voluntários, organizados pela Ocean Conservancy por meio do projeto TIDES (sigla em inglês para Informações e Dados sobre Lixo para Educação e Soluções). Quase 19 milhões de pessoas já participaram dessas ações de coleta de dados no mundo todo.

O estudo também analisou políticas de regulação de sacolinhas plásticas em diferentes partes dos EUA entre 2017 e 2023. De acordo com os pesquisadores, as primeiras legislações sobre o tema surgiram por volta de 2007, mas foi a partir de meados da década de 2010 que essas políticas começaram a ganhar mais força – o que forneceu a base para a análise.
Apesar de os dados mostrarem uma queda na proporção de sacolas entre os resíduos após a adoção das medidas, há um alerta importante: a poluição plástica como um todo continua aumentando.
De acordo com um relatório recente da OCDE, a produção global de plástico dobrou entre 2000 e 2019 – de 234 milhões para 460 milhões de toneladas – e a tendência é que continue se nada for feito.
NEM TODA REGULAMENTAÇÃO TEM O MESMO EFEITO
Mesmo com os avanços, os pesquisadores observam que nem todas as políticas têm o mesmo impacto. Proibições totais e taxas cobradas diretamente dos consumidores foram mais eficazes do que restrições parciais – que ainda permitem o uso de sacolas mais grossas, consideradas reutilizáveis.
Além disso, os efeitos da regulamentação foram mais visíveis em locais onde o volume de sacolinhas plásticas já era alto antes da adoção das medidas.
Os dados sugerem que a cobrança de taxas pode ser a estratégia mais eficiente para reduzir esse tipo de poluição, embora os autores ressaltem que são necessários mais estudos para confirmar isso.
“Essas políticas funcionam, mas não são uma solução definitiva para o problema do lixo plástico”, lembra Oremus. “Quem estiver pensando em adotar medidas mais amplas para regular o uso de plástico precisa olhar para além do consumo.”