Elon Musk precisa pensar mais longe sobre o futuro do Twitter
Como você já deve saber, Elon Musk conseguiu comprar o Twitter por US$ 44 bilhões.
Agora, muitos dos críticos de Musk estão se fazendo uma pergunta simples: como um cara que até outro dia se gabava por suas trollagens tem a cara de pau de se anunciar como a solução para moderar as discussões no Twitter?
No entanto, estou muito menos preocupado com o potencial de as novas ideias de Musk prejudicarem o Twitter do que com o fato de que ele pode não estar pensando grande o suficiente. Apesar de todas as críticas que podemos fazer, vale lembrar que foi ele quem criou o primeiro carro elétrico bom do mundo e forçou uma indústria de US$ 3,8 trilhões a pensar além dos combustíveis fósseis. Em seguida, lançou uma empresa de foguetes reutilizáveis e de pouso automático que nos permite colocar satélites e hardwares de pesquisa da NASA em órbita com menos desperdício e menor custo.
Essas ideias eram como querer transformar sonhos em realidade. Não é que as ideias de Musk para o Twitter sejam ruins. Elas são medíocres. O Twitter precisa de uma inovação fora da órbita, mas ele está sugerindo melhorias perfeitamente razoáveis, que parecem estar muito aquém do trabalho por trás de suas empresas mais impactantes. Aliás, até agora, as três melhores ideias que Musk compartilhou para o Twitter… já foram colocadas em andamento pelo próprio Twitter!
SELO AZUL DE VERIFICAÇÃO PARA TODOS
O desejo de ostentar um selo de verificação azul é mais do que uma questão de ego. É a certificação da sua identidade online, é aquilo que confirma que você é quem diz ser. Todo seguidor deveria poder ter certeza de que um usuário é, de fato, a pessoa que afirma ser. No Twitter Blue, o modelo de assinatura premium em estágio beta do Twitter, a empresa sugere que as pessoas podem pagar para receber aquele selinho de verificação azul.
Essa é uma boa solução para quem pode pagar por mais uma assinatura mensal. Mas também é uma barreira de acesso. Ninguém deveria ter que pagar uma empresa privada para provar que é quem é. Muito menos uma empresa privada que se aproveita de nossas identidades para abrigar conversas de importância e de nível global.
OS USUÁRIOS DEVERIAM PODER EDITAR TUÍTES
Na verdade, o Twitter concorda com essa premissa. Ele está trabalhando em um botão de edição desde 2021, pelo menos. Mas, e se alguém apagasse um comentário racista ou publicasse desinformação que se tornasse viral, apenas para alterá-la rapidamente quando fosse ser investigado?
O Twitter, muitas vezes, é um lugar horrível e precisamos de muito mais do que o Elon Musk tal qual o conhecemos pelo próprio Twitter para melhorá-lo.
Como designers independentes demonstraram recentemente, há muitas opções para rastrear alterações quando um tuíte é editado. Isso está longe de ser um problema impossível; até o Facebook/Meta já o resolveu de modo razoável. Ou seja: quando a funcionalidade de edição de tuítes for lançada, não se surpreenda se ela parecer menos revolucionária do que atrasada. Porque, se funcionar corretamente, a edição de tuítes parecerá tão comum quanto editar um documento do Word.
O QUE APARECE PRIMEIRO NO FEED
O Twitter costumava ser um feed com as últimas postagens das pessoas que você segue. Ponto. Não havia postagens que magicamente pulavam para o topo de centenas de milhares de feeds, ganhando visibilidade e curtidas extras. O sistema era inequivocamente justo e lógico. A voz de cada pessoa tinha o mesmo palco e aparecia com o mesmo peso.
Em 2016, quando a plataforma anunciou que seguiria o caminho do Facebook e adotaria uma linha do tempo algorítmica, muitos ficaram preocupados que a medida estragaria o Twitter da mesma forma que estragou o Facebook. Meia década depois, eu diria que isso aconteceu.
O Twitter diz que está pesquisando ativamente como compartilhar mais de seus dados algorítmicos. Mas a proposta de Musk, de abrir inteiramente o algoritmo, é sem dúvida sua melhor ideia para a rede social – e a que mais tira a plataforma de sua zona de conforto atual. Isso permitiria que o mundo dos programadores examinasse o código e os processos do Twitter, auditando as engrenagens que moldam o discurso. Em última análise, essa auditoria esclareceria as decisões tomadas no sentido de mostrar ou não um tuíte para um público maior.
MUSK PRECISA PENSAR GRANDE
Seja você um fã do bilionário da tecnologia ou não, as ideias que ele sugere são maneiras promissoras para a rede funcionar melhor e ser menos tóxica socialmente. Mas o problema é que o Twitter já sabe disso tudo!
Embora eu concorde que essas ideias podem melhorá-lo, não sei se elas vão bastar para corrigir o problema gigantesco e abrangente que é a mídia social moderna. Um mundo em que qualquer voz pode ecoar ao redor do globo em segundos, carregando consigo qualquer agenda, falsidade ou preconceito, e no qual uma voz pode atingir especificamente um estranho com notável eficiência, atacando-o com ódio, como um franco-atirador intercontinental.
O Twitter, muitas vezes, é um lugar horrível e precisamos de muito mais do que o Elon Musk tal qual o conhecemos pelo próprio Twitter para melhorá-lo. Ele pode até ser dono de um perfil com popularidade incomparável, mas o Musk que tem alguma chance de consertar o Twitter é aquele que lê projetos de foguetes russos, que encaixa painéis solares em telhados e que cria veículos que vão de 0 a 100 quilômetros por hora em 3,1 segundos, sem nunca precisar de uma troca de óleo.
Até que todos percebam a verdadeira calamidade que é o Twitter, é mais provável que eu morra em Marte do que alguém conseguir “consertar” essa plataforma aqui na Terra.
(baseado no texto original de Mark Wilson, da Fast Company)