Por que o Google pode não cumprir sua promessa de zerar carbono até 2030?

Relatório independente contesta dados da gigante da tecnologia

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Em seu próprio relatório, o Google reconhece que o crescimento da IA representa um desafio para prever e conter suas emissões futuras. réditos: Google DeepMind/ Unsplash

Guynever Maropo 2 minutos de leitura

Em 2021, o Google anunciou a meta de zerar as emissões líquidas de carbono até 2030. No entanto, desde então, a gigante da tecnologia tem aumentado o consumo de energia, especialmente com o avanço da Inteligência Artificial. O relatório mais recente de sustentabilidade da empresa mostra que, entre 2019 e 2024, suas emissões cresceram 51%.

Segundo o The Guardian, a organização sem fins lucrativos Kairos Fellowship, que publicou a pesquisa "Falhas Ecológicas do Google", esse número é ainda maior. O relatório aponta um aumento de 65% nas emissões de carbono no mesmo período e revela que, desde 2010, ano com os primeiros dados públicos da empresa, as emissões cresceram 1.515%. O maior salto ocorreu entre 2023 e 2024, com aumento de 26%.

A Kairos afirma que os dados utilizados foram extraídos dos próprios apêndices dos relatórios de sustentabilidade do Google, embora muitas dessas informações não tenham sido destacadas no corpo principal dos documentos. Os pesquisadores atribuem a diferença nos números ao uso de métricas distintas. Enquanto o Google adota emissões baseadas no mercado, que consideram contratos de energia para compensação, a Kairos utiliza emissões baseadas na localização, que refletem o consumo real das redes elétricas locais.

A pesquisa revela que a energia necessária para alimentar os data centers da empresa cresceu 820% desde 2010. Entre 2019 e 2024, as emissões relacionadas à compra de eletricidade aumentaram 121%, o equivalente ao consumo anual de energia de todo o estado do Alasca. Os especialistas afirmam que, nessa trajetória, a empresa dificilmente cumprirá a meta climática de 2030, sem pressão pública significativa.

Segundo o relatório, apenas as emissões de Escopo 1 (relacionadas às próprias instalações e veículos da empresa) apresentaram queda desde 2019, representando 0,31% do total. Já as emissões de Escopo 2 (provenientes da eletricidade adquirida) e Escopo 3 (de fornecedores, viagens e uso de produtos) seguem em alta.

O relatório também chama atenção para o consumo de água. A captação do Google aumentou 27% entre 2023 e 2024, atingindo 41 bilhões de litros, o suficiente para abastecer 2,5 milhões de pessoas por 55 dias. A Kairos alerta que, ao priorizar a construção de novos centros de dados, a empresa compromete recursos naturais escassos.

Organizações ambientais e de funcionários de empresas de tecnologia publicaram uma carta aberta nos jornais San Francisco Chronicle e Seattle Times pedindo que Google, Amazon e Microsoft se comprometam a não instalar novas usinas a gás nem adiem o fechamento de usinas a carvão. O documento destaca que, em apenas dois anos, os novos data centers dessas empresas podem consumir mais energia do que 22 milhões de lares.

Em seu próprio relatório, o Google reconhece que o crescimento da IA representa um desafio para prever e conter suas emissões futuras. A empresa também demonstra otimismo em relação à energia nuclear como solução para atingir a neutralidade de carbono. No entanto, a Kairos critica a dependência de tecnologias especulativas e a forma como a empresa apresenta seus dados, alegando que o foco em eficiência energética esconde o aumento real no consumo, que subiu 1.282% desde 2010.

A Kairos conclui que o Google adota uma abordagem ambiental falha e insuficiente, incompatível com os compromissos climáticos assumidos publicamente.


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais