Nem Japão nem EUA: China passa à frente na corrida por robôs humanoides

Essa corrida não é só sobre máquinas, é sobre quem vai liderar a próxima era da tecnologia, da segurança e do poder industrial

Crédito: Booster Robotics

Robert Ambrose 3 minutos de leitura

Acompanhei de perto os tempos em que os Estados Unidos lideravam o mundo nos avanços em robótica. Dois dos robôs humanoides que desenvolvi chegaram a ser enviados ao espaço – um deles, o “Robonaut”, hoje faz parte do acervo do Instituto Smithsonian. Mas, nos últimos 10 anos, esse ritmo de inovação perdeu força.

Nesse meio-tempo, a China ultrapassou os EUA na corrida pela liderança global em robótica – especialmente no desenvolvimento de humanoides projetados para replicar a forma e o comportamento humanos. Recentemente, o país chegou a colocar seus robôs para competir com pessoas – e não parece disposto a desacelerar.

Enquanto a inteligência artificial atrai os investimentos e a atenção da mídia, a disputa pelo protagonismo em robôs humanoides vem crescendo silenciosamente há meio século.

Agora, estamos prestes a dar um grande salto tecnológico. Em três a cinco anos, robôs humanoides produzidos em escala podem se tornar realidade – criando um mercado com potencial de movimentar US$ 38 bilhões dentro de uma década.

E a China tem tudo para liderar esse novo setor: de acordo com o Morgan Stanley, 56% das empresas de robótica do mundo estão sediadas no país. Mas essa corrida não se resume a lucro – trata-se de uma disputa por supremacia industrial.

Hoje, robôs industriais fixos conseguem ser até 10 vezes mais produtivos do que trabalhadores humanos, operando quase sem interrupções e com altíssima precisão. Com a chegada dos robôs humanoides móveis, capazes de circular por fábricas inteiras, essa eficiência tende a crescer ainda mais – superando tanto os robôs fixos quanto os operários humanos.

Empresas norte-americanas como a Boston Dynamics vêm desenvolvendo protótipos impressionantes – mas protótipos, sozinhos, não vencem disputas industriais. O que faz a diferença é a capacidade de escalar a produção. E, se os Estados Unidos continuarem atrás, suas empresas ficarão cada vez mais dependentes das cadeias de suprimento chinesas.

Na China, startups de robótica contam com cadeias produtivas eficientes, maior aceitação cultural e um forte apoio do governo. Já nos EUA, ainda há muito receio de que os robôs substituam empregos, especialmente na indústria.

Robonaut (Crédito: NASA)

Mas essa transformação iminente na manufatura não deveria ser motivo de medo. Pelo contrário: o temor de substituição é equivocado e pode acabar atrasando ainda mais o progresso. Robôs humanoides são ideais para tarefas perigosas, insalubres ou pouco atraentes, que normalmente não despertam o interesse de trabalhadores humanos.

É fundamental mudar a forma como enxergamos os robôs. Eles não vieram para tomar os nossos empregos, vieram para trabalhar ao nosso lado. Quando o Robonaut apertou a mão de um astronauta na Estação Espacial Internacional, ficou claro: os robôs podem – e devem – ser aliados, e não concorrentes.

É claro que ainda existem desafios técnicos e custos elevados no desenvolvimento desses robôs – como melhorar sua noção espacial e capacidade de adaptação. Mas há um dado que muitos economistas costumam ignorar: com a produção em larga escala, o custo do trabalho robótico pode cair de US$ 10 para apenas US$ 0,25 por hora em apenas uma década.

mais de metade das empresas de robótica do mundo estão sediadas na China.

Isso transformaria completamente a indústria. O país que liderar essa transformação terá em mãos o futuro da manufatura. Enxergar esse potencial de redução de custos pode ser o incentivo que falta para que governos e empresas comecem a investir desde já.

Robôs humanoides equipados com inteligência artificial e conectividade via internet das coisas darão origem a fábricas inteligentes – mais ágeis, precisas e com produtos de maior qualidade.

A ampla rede de armazéns dos EUA já está pronta para integrar esses robôs, que podem automatizar tarefas como triagem, embalagem e transporte, trabalhando lado a lado com humanos para reduzir custos e aumentar a produtividade. Isso já está acontecendo: fábricas como a da BMW, no estado da Carolina do Sul, já estão testando robôs nessas funções logísticas.

No fim das contas, essa corrida não é só sobre máquinas. É sobre quem vai liderar a próxima era da tecnologia, da segurança e do poder industrial.


SOBRE O AUTOR

Robert Ambrose é diretor de robótica e inteligência artificial na consultoria de transformação digital Alliant. saiba mais