Nem Japão nem EUA: China passa à frente na corrida por robôs humanoides
Essa corrida não é só sobre máquinas, é sobre quem vai liderar a próxima era da tecnologia, da segurança e do poder industrial

Acompanhei de perto os tempos em que os Estados Unidos lideravam o mundo nos avanços em robótica. Dois dos robôs humanoides que desenvolvi chegaram a ser enviados ao espaço – um deles, o “Robonaut”, hoje faz parte do acervo do Instituto Smithsonian. Mas, nos últimos 10 anos, esse ritmo de inovação perdeu força.
Nesse meio-tempo, a China ultrapassou os EUA na corrida pela liderança global em robótica – especialmente no desenvolvimento de humanoides projetados para replicar a forma e o comportamento humanos. Recentemente, o país chegou a colocar seus robôs para competir com pessoas – e não parece disposto a desacelerar.
Enquanto a inteligência artificial atrai os investimentos e a atenção da mídia, a disputa pelo protagonismo em robôs humanoides vem crescendo silenciosamente há meio século.
Agora, estamos prestes a dar um grande salto tecnológico. Em três a cinco anos, robôs humanoides produzidos em escala podem se tornar realidade – criando um mercado com potencial de movimentar US$ 38 bilhões dentro de uma década.
E a China tem tudo para liderar esse novo setor: de acordo com o Morgan Stanley, 56% das empresas de robótica do mundo estão sediadas no país. Mas essa corrida não se resume a lucro – trata-se de uma disputa por supremacia industrial.
Hoje, robôs industriais fixos conseguem ser até 10 vezes mais produtivos do que trabalhadores humanos, operando quase sem interrupções e com altíssima precisão. Com a chegada dos robôs humanoides móveis, capazes de circular por fábricas inteiras, essa eficiência tende a crescer ainda mais – superando tanto os robôs fixos quanto os operários humanos.
Empresas norte-americanas como a Boston Dynamics vêm desenvolvendo protótipos impressionantes – mas protótipos, sozinhos, não vencem disputas industriais. O que faz a diferença é a capacidade de escalar a produção. E, se os Estados Unidos continuarem atrás, suas empresas ficarão cada vez mais dependentes das cadeias de suprimento chinesas.
Na China, startups de robótica contam com cadeias produtivas eficientes, maior aceitação cultural e um forte apoio do governo. Já nos EUA, ainda há muito receio de que os robôs substituam empregos, especialmente na indústria.

Mas essa transformação iminente na manufatura não deveria ser motivo de medo. Pelo contrário: o temor de substituição é equivocado e pode acabar atrasando ainda mais o progresso. Robôs humanoides são ideais para tarefas perigosas, insalubres ou pouco atraentes, que normalmente não despertam o interesse de trabalhadores humanos.
É fundamental mudar a forma como enxergamos os robôs. Eles não vieram para tomar os nossos empregos, vieram para trabalhar ao nosso lado. Quando o Robonaut apertou a mão de um astronauta na Estação Espacial Internacional, ficou claro: os robôs podem – e devem – ser aliados, e não concorrentes.
É claro que ainda existem desafios técnicos e custos elevados no desenvolvimento desses robôs – como melhorar sua noção espacial e capacidade de adaptação. Mas há um dado que muitos economistas costumam ignorar: com a produção em larga escala, o custo do trabalho robótico pode cair de US$ 10 para apenas US$ 0,25 por hora em apenas uma década.
mais de metade das empresas de robótica do mundo estão sediadas na China.
Isso transformaria completamente a indústria. O país que liderar essa transformação terá em mãos o futuro da manufatura. Enxergar esse potencial de redução de custos pode ser o incentivo que falta para que governos e empresas comecem a investir desde já.
Robôs humanoides equipados com inteligência artificial e conectividade via internet das coisas darão origem a fábricas inteligentes – mais ágeis, precisas e com produtos de maior qualidade.
A ampla rede de armazéns dos EUA já está pronta para integrar esses robôs, que podem automatizar tarefas como triagem, embalagem e transporte, trabalhando lado a lado com humanos para reduzir custos e aumentar a produtividade. Isso já está acontecendo: fábricas como a da BMW, no estado da Carolina do Sul, já estão testando robôs nessas funções logísticas.
No fim das contas, essa corrida não é só sobre máquinas. É sobre quem vai liderar a próxima era da tecnologia, da segurança e do poder industrial.