Trump anuncia tarifa de 50% contra Brasil, cita Bolsonaro e Supremo

Em comunicado, o republicano avisa Lula que vai aplicar sobretaxa sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA, em uma sanção relacionada ao julgamento do ex-presidente Bolsonaro

Donald Trump em um cubo, envolto de gráficos
Dilen_ua via Getty images, Pete Linforth por Pixabay

Paula Pacheco 5 minutos de leitura

O presidente americano Donald Trump anunciou em sua rede social, a Truth Social, no final da tarde desta quarta-feira (9), que os Estados Unidos vão aplicar tarifas de importação da ordem de 50% sobre todos os produtos exportados a partir do Brasil. Sim, todos os itens que embarcarem do país em direção ao país governado pelo republicano terão a sobretaxa a partir de 1º de agosto – portanto, em menos de um mês.

OLHO POR OLHO? NÃO É BEM ASSIM

A medida não é baseada apenas na equiparação de tarifas cobradas de lado a lado, lógica que reina no comércio internacional.

O argumento de Trump, segundo o comunicado enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o questionamento do governo americano quanto ao papel do Supremo Tribunal Federal (STF), que julga ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro – alinhado ao republicano.

Portanto, trata-se de uma sanção contrária às atitudes das instituições brasileiras contra Bolsonaro, réu na Suprema Corte brasileira.

VERGONHA? CAÇA ÀS BRUXAS? ELE DIZ QUE SIM

Trump diz na carta enviada a Lula que a maneira como o Brasil tem tratado Bolsonaro é uma "vergonha" e que o julgamento contra o ex-presidente (pelo STF) é uma "caça às bruxas" que precisa ser encerrada imediatamente", trata o mandatário em tom de ameaça.

"A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!" – exclamou e escreveu em letras maísculas o presidente dos EUA.

DEFESA DAS PLATAFORMAS DE MÍDIA DOS EUA

No texto, Trump cita ainda ordens "secretas e ilegais" emitidas contra plataformas de mídia nos Estados Unidos, e violação à "liberdade de expressão de americanos".

"Por favor, entenda que o número de 50% é muito menos do que o necessário para termos o Campo de Jogo Nivelado que devemos ter com seu País. E isso é necessário para retificar as graves injustiças do regime atual. Como você sabe, não haverá Tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu País, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para obter aprovações de forma rápida, profissional e rotineira —em outras palavras, em questão de semanas."

A carta do governo americano nada tem a ver com o modelo padronizado adotado até agora pelas correspondências, que trazia como argumento para as tarifas o déficit comercial dos EUA com seus parceiros comerciais. Trump ameaçou ainda estipular uma taxação adicional de mais 50% caso o Brasil decida reagir e retaliar o país norte-americano.

Vale lembrar que o superávit comercial americano passou a ser de US$ 1 bilhão com o Brasil. Ou seja os americanos estão em vantagem quando se faz a conta entre importações e exportações.

O mandatário anunciou também que o Escritório do Representante Comercial dos EUA começará uma investigação sobre, segundo Trumo os “ataques contínuos” do Brasil ao comércio digital de empresas americanas.

No último domingo, o republicano já havia ameaçado o Brasil e os países integrantes do Brics, durante a cúpula do grupo, no Rio de Janeiro, quanto a uma possível tarifa de 10%.

Até o momento da publicação desta reportagem, o Itamaraty não havia divulgado nenhum comunicado sobre mais essa ameaça de bomba comercial. Uma possibilidade prática seria recorrer à Organização Mundial do Comércio, já que o direito comercial internacional proibe que haja elevação de tarifas sob a alegações políticas. No entanto, a OMC vem passando nos últimos anos por um esfacelamento, o que tornou o organismo multilateral pouco operante.

REAÇÃO DE LULA: SOBERANIA E RESPONSABILIZAÇÃO

Às 19h59, o Palácio do Planalto divulgou uma nota assinada pelo presidente Lula. Objetivamente, ele lembrou que o processo judicial contra os acusados de golpe de Estado está nas mãos da Justiça (portanto, não do governo).

Sobre a queixa relacionada às plataformas digitais, o mandatário brasileiro trouxe um discurso buscando conexão com os brasileiros ao dizer que "a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes...". E Lula termina anota dizendo que a Lei de Reciprocidade caso as tarifas sejam impostas.

Veja o conteúdo da nota do Planato na íntegra.

Tendo em vista a manifestação pública do presidente norte-americano Donald Trump apresentada em uma rede social, na tarde desta quarta-feira (9), é importante ressaltar:

O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.

O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.

No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática.

No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira.

É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos.

Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.

A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Presidente da República





SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais