OpenAI prepara navegador com IA de olho no império publicitário do Google

Esse movimento representa uma ameaça concreta ao modelo de negócios central do Google, baseado na exibição de anúncios em resultados de busca

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Mark Sullivan 3 minutos de leitura

A OpenAI está se preparando para lançar, nas próximas semanas, um navegador com inteligência artificial integrado – um movimento que pode abalar diretamente o centro financeiro do Google: sua máquina publicitária avaliada em mais de US$ 200 bilhões.

A revelação foi feita em um relatório exclusivo da "Reuters" na semana passada. A nova ferramenta pode mudar a forma como usuários acessam a web, ao centralizar não apenas a navegação, mas também tarefas automatizadas e interações em tempo real com sites, sob o controle da própria OpenAI.

Hoje, o ChatGPT já conta com mais de 400 milhões de usuários no mundo. Muitos deles o utilizam como ponto de partida para pesquisas online. Quando clicam em um link dentro das respostas do chatbot, o conteúdo se abre em navegadores de terceiros, como o Chrome. Com seu próprio navegador, a OpenAI passaria a exibir essas fontes e interações em uma plataforma proprietária.

Mais do que isso, o navegador integraria diretamente os modelos de IA e o índice web da OpenAI, transformando-se em um ambiente ideal para agentes de IA autônomos – robôs que não apenas buscam informações, mas também reservam hotéis, preenchem formulários e interagem com páginas da web de forma proativa.

DESAFIO DIRETO AO MODELO DE NEGÓCIOS DO GOOGLE

Esse movimento representa uma ameaça concreta ao modelo de negócios central do Google, baseado na exibição de anúncios em resultados de busca.

O Chrome facilita buscas via Google Search, que, por sua vez, gera receita bilionária ao exibir anúncios para quem pesquisa por produtos e serviços. O navegador também alimenta o Google com dados valiosos de navegação, usados para segmentação de anúncios com alta precisão.

Pessoa segurando um celular aberto na barra de pesquisa do Google
Crédito: Freepik

A proposta da OpenAI rompe com esse paradigma. Em vez de links e resultados baseados em algoritmos tradicionais e rastreadores, os modelos generativos oferecem pacotes personalizados de informação, construídos com base em uma versão condensada da internet – e que muitas vezes eliminam a necessidade de navegar por vários sites.

A pergunta que paira sobre o setor é: os 400 milhões de usuários do ChatGPT estariam dispostos a abandonar navegadores como Chrome ou Safari por uma experiência centrada em IA?

O mercado, por ora, parece cético. As ações da Alphabet (dona do Google) mal oscilaram após a notícia. Isso pode indicar que os investidores ainda não compreenderam a dimensão da ameaça, ou que ela já estava precificada.

UM NOVO CAPÍTULO NA GUERRA DOS NAVEGADORES

Apesar da força da OpenAI, o desafio não será simples. O Chrome domina o mercado com mais de três bilhões de usuários no mundo todo.

Mas o momento pode ser oportuno: o Departamento de Justiça dos EUA exige que o Google se desfaça do Chrome, após uma decisão judicial que considerou o navegador uma peça-chave em um presumido monopólio de buscas ilegais.

O Chrome alimenta o Google com dados valiosos de navegação dos usuários.

A OpenAI, inclusive, já afirmou que teria interesse em comprar o navegador caso o Google seja forçado a vendê-lo.

Enquanto isso, outras empresas tentam disputar espaço. A Perplexity lançou seu próprio navegador, o Comet, com foco em IA e respostas rápidas. Mas, como uma startup menor, enfrenta dificuldades para competir em escala global.

A disputa entre Perplexity e Google parece uma reedição de Davi contra Golias. Já o embate entre OpenAI e Google pode se tornar o maior duelo tecnológico da primeira metade do século 21 – um confronto entre um gigante estabelecido e um desafiante jovem, armado com uma nova e poderosa forma de lutar.


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais