A era do design thinking está acabando, mas seus princípios vieram para ficar
As empresas estão exigindo cada vez menos essa habilidade, segundo nossa análise mais recente

Durante os anos 2000 e 2010, o design thinking – a ideia de que qualquer pessoa pode resolver problemas como um designer, desde que adote a abordagem certa – foi amplamente adotado.
Mas, nos últimos anos, sua eficácia passou a ser questionada, e o conceito se tornou um dos mais debatidos (e controversos) no universo do design. Agora, há indicações de que as empresas estão, de fato, deixando esse termo para trás.
Ao analisar 176 mil vagas em design para o relatório anual Where the Design Jobs Are (Onde estão os empregos de design), buscamos especificamente por menções a design thinking nas descrições de vagas.
O resultado aponta para uma queda significativa em relação ao ano anterior: 9,1% nas vagas de design de experiência do usuário/ interface do usuário; 17,6% em design de produto e uma impressionante redução de 57,2% nas vagas de design gráfico.
Essa tendência já vinha se desenhando há algum tempo. À medida que o termo se popularizou nos anos 2000, passou a ser quase obrigatório nas empresas que queriam replicar um pouco da “mágica da Apple”, adotando uma visão centrada no design.
Minha principal crítica ao design thinking é que, no fundo, ele apenas reproduz o método científico. As etapas – formular uma hipótese, testar uma ideia, validar resultados – são praticamente as mesmas. Embora isso não seja ruim (afinal, ciência é algo positivo!), também não é exatamente uma ideia revolucionária.
Muitas empresas ainda aplicam os princípios do design thinking, mas sem citar diretamente o termo.
Outro problema é que muitos passaram a confundir design thinking com o próprio design. Essa confusão entre processo e prática acabou enfraquecendo a compreensão do que realmente é o trabalho de design. Talvez por isso tantos profissionais hoje reconheçam que o design não gerou o impacto transformador que se esperava no mundo dos negócios na década passada.
A verdade é que fazer design de qualidade exige uma combinação complexa de habilidades técnicas e interpessoais – e, às vezes, um pouco de sorte. Não é algo que se aprende apenas lendo um livro ou fazendo um workshop.
Parece que o mercado está começando a perceber isso. Para entender melhor essa mudança de percepção, conversamos com profissionais de diferentes empresas. Veja o que eles disseram.
OS QUE AINDA DEFENDEM O DESIGN THINKING
A Adobe é uma das poucas empresas que ainda mencionam design thinking explicitamente em suas vagas e valorizam a abordagem. “É parte fundamental de como nossos designers enfrentam desafios, especialmente quando o assunto é inteligência artificial”, disse um porta-voz da empresa.
“Nossos designers desenvolvem produtos focados nas pessoas, com base na resolução de problemas centrada no usuário, iteração rápida e colaboração entre áreas. O design thinking continua sendo essencial para criarmos soluções relevantes – independentemente das ferramentas ou tecnologias utilizadas.”
Mas são poucas as empresas que mantêm esse entusiasmo. Muitas ainda aplicam os princípios do design thinking, mas sem citar diretamente o termo.

A SharkNinja, por exemplo, segue alinhada com os valores da abordagem, mesmo sem mencioná-la em seus processos seletivos. “O design thinking é essencial para as nossas contratações. Todo produto nasce a partir de um problema real do consumidor, que resolvemos combinando design e engenharia”, explica Molly Delaney, porta-voz da empresa.
Já Catherine Courage, vice-presidente de UX e ciência de dados do Google, reconhece que o termo perdeu força. "Não é mais tão usado quanto antes”. No entanto, ela reforça que os princípios ainda são válidos. “Entender as necessidades do usuário, testar soluções e resolver problemas com foco nas pessoas continua sendo crucial.”
A Mattel adota uma postura mais pragmática: nem apoia nem rejeita o termo, mas prefere evitá-lo. “O consumidor está no centro de tudo o que fazemos – isso já faz parte do nosso processo”, diz Chris Down, vice-presidente executivo e diretor de design da empresa. “Tentamos fugir de expressões vazias e focamos no que realmente funciona: empatia, iteração e assumir riscos de forma inteligente.”
OS CRÍTICOS MAIS DIRETOS
Por outro lado, há empresas que já falam abertamente o que muitos designers pensam: o design thinking teve seu papel, mas hoje está cada vez mais distante da prática real do design contemporâneo.
Na Meta, por exemplo, a avaliação é de que o conceito foi útil em um momento, mas já ficou para trás. “O design thinking ajudou a valorizar o design e deu estrutura para quem estava começando na área”, diz Joshua To, vice-presidente de design de produto para realidade aumentada, IA e tecnologia vestível (weareables).
“Mas seguir um processo rígido pode atrapalhar a inovação. Muitos dos princípios do design thinking já foram incorporados ao design moderno... e não precisamos mais dar um nome para isso.”

Na Visa, o sentimento é parecido. Os princípios defendidos pelos primeiros adeptos do design thinking já fazem parte da rotina das equipes. “As exigências do design evoluíram. Hoje, são necessárias habilidades mais amplas, como estratégia de produto e pensamento sistêmico”, afirma Robb Nielsen, diretor global de design da Visa.
“O design centrado no ser humano continua sendo um pilar, mas agora ele faz parte de um conjunto mais completo de ferramentas”, complementa.
Independentemente de qual seja sua opinião sobre o tema, é evidente que a popularidade do design thinking está em queda há algum tempo. Agora temos dados concretos que mostram que as empresas também estão abandonando o termo.
Mas isso não significa que o design esteja em crise. Pelo contrário: o design sempre foi – e continuará sendo – muito maior do que qualquer moda ou metodologia. O trabalho criativo de qualidade vai continuar existindo, inclusive dentro das grandes empresas. E pouco importa o nome que se dá a ele.