Como é trabalhar na OpenAI? Ex-funcionário revela bastidores

O relato inédito de engenheiro revelou mais sobre os bastidores da gigante da IA

Fachada da empresa OpenAI
A cultura da empresa remete aos primeiros anos da Meta, quando o Facebook ainda "quebrava tudo" para inovar. Crédito: imagem criada com auxílio de IA via ChatGPT.

Guynever Maropo 2 minutos de leitura

Três semanas atrás, o engenheiro Calvin French-Owen, que atuou em um dos projetos mais promissores da OpenAI, pediu demissão. Ele publicou, em uma carta online, o relato detalhado sobre o ano em que trabalhou na empresa, incluindo a rotina intensa para desenvolver o Codex, agente de codificação que concorre com ferramentas como Cursor e Claude Code, da Anthropic.

French-Owen afirmou que sua saída não envolveu conflitos internos, mas sim o desejo de retornar ao empreendedorismo. Ele foi cofundador da Segment, startup de dados de clientes adquirida pela Twilio em 2020 por US$ 3,2 bilhões.

O engenheiro expôs aspectos já conhecidos, mas também surpreendentes sobre como é trabalhar na OpenAI e a cultura da empresa. Um deles foi o crescimento acelerado: em apenas um ano, o número de funcionários saltou de 1.000 para 3.000. Essa expansão reflete o avanço da empresa, que, em março, relatou mais de 500 milhões de usuários ativos do ChatGPT.

Entretanto, o crescimento trouxe desafios. French-Owen destacou problemas comuns à escalabilidade, como falhas na comunicação, estrutura de gestão, lançamento de produtos e organização interna.

A autonomia ainda predomina, semelhante ao ambiente de startups, mas a falta de alinhamento entre as equipes resulta em esforços duplicados. Ele mencionou ter visto diversas bibliotecas criadas para resolver o mesmo problema.

A habilidade técnica dos funcionários varia bastante, como as de engenheiros veteranos do Google até recém-doutores com pouca experiência prática. Isso, somado à flexibilidade do Python, transforma o repositório central de código, apelidado de “monólito do back-end”, em um sistema instável. Muitas funcionalidades quebram com frequência ou apresentam lentidão. Apesar disso, os gerentes de engenharia já trabalham em melhorias.

A cultura da empresa remete aos primeiros anos da Meta, quando o Facebook ainda "quebrava tudo" para inovar. Apesar de ser uma gigante, a OpenAI ainda opera no Slack e mantém uma mentalidade de startup. Sua equipe, composta por cerca de oito engenheiros, quatro pesquisadores, dois designers, dois profissionais de lançamento e um gerente de produto, criou o Codex em apenas sete semanas.

O lançamento foi impactante para ativar o recurso na barra lateral do ChatGPT para atrair usuários de forma instantânea. French-Owen destacou que nunca testemunhou um crescimento tão rápido com tão pouca divulgação.

Ele também observou que a empresa mantém um ambiente de sigilo rigoroso, como forma de evitar vazamentos, mas, ao mesmo tempo, acompanha de perto o que viraliza na rede social X. Segundo ele, um colega brincou que a empresa “funciona na vibração do Twitter”.

Sobre segurança da OpenAI, French-Owen apontou que o maior equívoco sobre a empresa é a ideia de que ela negligencia esse tema. Internamente, há forte atenção aos riscos práticos, como discurso de ódio, abuso, manipulação de vieses políticos, criação de armas biológicas e automutilação. Embora existam estudos sobre riscos existenciais da IA, o foco está em proteger os usuários no presente.


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais