Apesar do buzz, ainda não dá para levar a superinteligência muito a sério

Novo termo da moda virou um grito de guerra conveniente para CEOs de empresas de tecnologia. Mas ficar obcecado com ele é perda de tempo

imagem simbólica de superinteligência_ inteligência artificial geral
Crédito: Mininyx Doodle/ Getty Images

Harry McCracken 4 minutos de leitura

O setor de tecnologia sempre teve uma queda por metas grandiosas – e pelos jargões que vêm com elas. Mas poucos se empolgam tanto com isso quanto o CEO da Meta, Mark Zuckerberg.

O próprio nome “Meta” surgiu de um rebranding da empresa em 2021, quando ainda se chamava Facebook Inc. A mudança foi uma forma de mostrar seu compromisso com a construção do metaverso – um conceito ousado (e pouco claro) que mistura realidade virtual, aumentada e redes sociais.

Mas os planos de Zuckerberg mudaram mais uma vez. Agora, ele está totalmente focado em alcançar um novo patamar da inteligência artificial: a superinteligência. Esse é o objetivo da nova divisão da empresa, chamada Meta Superintelligence Labs, que já está sendo reforçada com alguns dos maiores especialistas em IA do mundo.

Ninguém sabe ao certo se a Meta está realmente oferecendo US$ 100 milhões para atrair certos talentos. O que se sabe é que o laboratório está sendo liderado por Alexandr Wang, que entrou na empresa em junho como parte de um acordo que incluiu um investimento de US$ 14 bilhões na Scale AI, sua própria startup – o que já é impressionante por si só.

O termo superinteligência não é exatamente novo, mas tudo indica que será o hype de 2025. Mas o que ele significa, afinal? De acordo com a jornalista Shirin Ghaffary, da “Bloomberg”, trata-se de “uma IA que não apenas se iguala aos humanos, mas os supera em todas as tarefas”.

Segundo Ghaffary, o setor tem apostado nesse conceito porque ele parece mais factível do que a chamada inteligência artificial geral, ou IAG. Shane Legg, cientista-chefe de IAG no Google DeepMind e um dos que ajudaram a popularizar o termo, o define como “um sistema que, no mínimo, consiga igualar as capacidades humanas nas tarefas cognitivas que costumamos realizar”.

COMO DEFINIR O QUE É “MELHOR QUE OS HUMANOS”?

“Ser melhor que os humanos em tudo” parece uma ambição ainda maior do que simplesmente alcançar o nosso nível de desempenho em tarefas cotidianas. Mas, segundo um artigo da IBM, embora ainda não tenhamos chegado à IAG, já teríamos alcançado a superinteligência.

Isso porque, para a IBM, a definição é bem menos exigente: basta a IA superar os humanos em algumas tarefas específicas – não em todas. O artigo cita quatro exemplos atuais: o Deep Blue (xadrez) e o Watson (Jeopardy!), ambos da IBM, além do AlphaGo (jogo Go) e do AlphaFold (previsão de estruturas de proteínas), do Google DeepMind.

Tudo isso, no entanto, traz mais perguntas do que respostas:

  • Se esses quatro exemplos não são suficientes para dizer que atingimos a superinteligência, quantos seriam necessários?
  • Quem decide o que significa “melhor do que os humanos”?
  • E se a IA for superior em algumas áreas, mas continuar muito atrás em outras?
  • Muitos dos nossos talentos envolvem o mundo físico. Para superá-los, não seriam necessários avanços em robótica, além do software?

O que dá para afirmar com alguma segurança é que, assim como a IAG, a superinteligência é uma meta aspiracional. Serve, em parte, como um objetivo simbólico – algo que motive equipes e empresas a continuar inovando. Nesse sentido, ela me lembra a corrida espacial.

A diferença é que, no caso da superinteligência, não há uma linha de chegada clara, como levar o homem à Lua. Nem vai haver um equivalente do momento em que Neil Armstrong pisou na superfície lunar em 20 de julho de 1969.

IAG OU SUPERINTELIGÊNCIA?

No começo do ano passado, escrevi que era inútil ficar obcecado com a definição da IAG e com o momento exato em que ela poderia surgir. E, para ser sincero, trocar IAG por superinteligência nessa discussão não muda nada.

Sim, todos nós temos que nos preparar para um futuro em que a IA vai disputar espaço com pessoas no mercado de trabalho. Também não podemos descartar totalmente o risco de ela representar uma ameaça existencial para a humanidade.

Crédito: Henrik5000/ Getty Images

Sem dúvida, é uma tecnologia que vai causar problemas que sequer ainda conseguimos imaginar. Mas, com sorte, também pode ajudar a resolver alguns dos nossos maiores desafios.

Essas questões continuam válidas, independentemente de como se define a superinteligência – e mesmo que ela nunca se torne realidade. Por isso, voltar toda a atenção para essa “corrida” não é a melhor forma de nos prepararmos para o impacto real que a IA vai ter nas nossas vidas.

Enquanto isso, a indústria ainda tenta encontrar aplicações práticas para os modelos atuais – que estão longe de ser superinteligentes. Se a Meta conseguir usar melhor a IA que já possui, isso sim será um bom sinal de que sua busca vai além da pura e simples ambição e pode, de fato, servir a um propósito real.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais