Vale a pena ‘carimbar’ o dinheiro do investimento para acelerar uma meta?
Investir usando o recurso de dar nome para o objetivo que se quer alcançar, como viagens, casa própria, estudos ou a reserva de emergência, é uma estratégia para poupar e se organizar financeiramente

Guardar dinheiro ficou mais fácil — e mais eficiente — quando ele tem destino certo: uma viagem, intercâmbio, estudos ou casa própria, só para citar alguns objetivos. Recursos oferecidos pelas instituições financeiras que oferecem a possibilidade de personalizar o objetivo do investimento têm ganhado cada vez mais espaço na rotina dos brasileiros. Ao permitir que o usuário nomeie e personalize cada objetivo, essas soluções mexem com um ponto-chave das finanças pessoais: o comportamento humano.
NOMEAR OBJETIVO AJUDA A MANTER FOCO
“Ao visualizar o sonho sendo realizado tijolinho por tijolinho, com cada aporte, o cliente cria clareza, foco e motivação”, explica Paula Bento, planejadora financeira CFP® pela Planejar. Segundo ela, investir é, por definição, um exercício de renúncia: deixar de gastar agora para conquistar algo no futuro. Dar nome e propósito ao dinheiro investido é uma forma de reduzir a sensação de perda imediata e aumentar a sensação de ganho futuro.
“Separar o dinheiro por objetivos diminui a tentação de gastar e facilita o hábito de poupar"
Henrique Soares, planejador financeiro
Henrique Soares, também planejador financeiro CFP® pela Planejar, complementa: “Separar o dinheiro por objetivos diminui a tentação de gastar e facilita o hábito de poupar. As caixinhas são simples, visuais e ajudam na disciplina”.
INVESTIMENTO EM METAS CLARAS
Do ponto de vista da economia comportamental, investir por metas claras pode ser mais eficiente do que seguir uma estratégia puramente técnica. Paula destaca que esse tipo de ferramenta cria uma “âncora emocional relevante”. O simples fato de batizar o investimento com o nome de um sonho — como “viagem para o Japão” ou “reforma da casa” — ajuda o investidor a tomar decisões mais assertivas e consistentes, mesmo sem formação técnica.
“Suponha que eu receba um valor de 13º salário e tenha a divisão de caixinhas para cada um dos meus objetivos. Isso facilita que eu faça a distribuição dos recursos entre eles, conforme a minha prioridade”, exemplifica Paula.
Embora matematicamente o retorno de um investimento não mude por estar ou não num investimento ‘batizado’, o efeito psicológico é real. “Funciona como um facilitador da tomada de decisão. O cliente organiza melhor o fluxo de caixa, prioriza metas e evita girar a carteira desnecessariamente”, diz a planejadora financeira.
META: ACUMULAR PARA DESPESAS COM SHOWS
O Santander lançou há cerca de um mês o Minhas Reservas. O cliente pode aproveitar os objetivos pré-definidos, como a reserva de emergência, ou, se preferir, fazer a personalização.
Uma das novidades em relação à concorrência é o SMusic, para quem tem como meta guardar dinheiro para shows. O nome é o mesmo do braço do banco dedicado a patrocínios musicais.
Geraldo Rodrigues Neto, diretor de Pessoa Física do Santander, por meio de nota, explicou que o Minhas Reservas foi desenvolvido para atender às necessidades dos clientes que, muitas vezes, precisam se organizar financeiramente e buscam simplicidade. “Nosso novo recurso estimula o cliente a definir objetivos ao guardar o dinheiro e ainda oferece uma rentabilidade garantida”, declarou.
Cada categoria de reserva financeira definida pelo cliente renderá, segundo o banco, 100% do CDI e terá a possibilidade de efetuar resgates a partir do dia útil seguinte à aplicação, em qualquer horário. O aconselhável, segundo banco, é que o resgate aconteça após 30 dias a partir da data de cada depósito, evitando a incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) regressivo.
ATIVOS QUE SE DESTACAM
Apesar da simplicidade aparente, os investimentos com objetivo não são todas iguais. É essencial entender qual produto financeiro está por trás da ferramenta. “Nem todas rendem automaticamente”, alerta Henrique. “Algumas apenas separam o valor, sem aplicar de fato.”
Antes de investir, é fundamental verificar:
- Se há rentabilidade exibida no aplicativo;
- Qual é o ativo vinculado (como CDB, RDB, fundo e Tesouro Selic);
- Se o produto tem liquidez diária;
- Se conta com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos); e
- E se há carência para resgate ou incidência de come-cotas em fundos.
De modo geral, os investimentos com objetivo funcionam melhor para iniciantes e para objetivos de curto e médio prazo. “Mas também são úteis no longo prazo, desde que o cliente entenda que haverá oscilações e mantenha a consistência nos aportes”, pontua Paula.
PRINCIPAIS MOTIVOS PARA CRIAR METAS
No Nubank, os principais objetivos variam conforme o perfil do investidor. Para quem ganha até R$ 5 mil por mês, sonhos de consumo genéricos lideram. Já acima dessa faixa, viagens são o foco mais frequente. Investimentos para carreira e carro também aparecem com proporções semelhantes em todas as faixas de renda. A chamada Caixinha Turbo, segundo a fintech, acena com rendimento de até 120% do CDI.
Segundo Arthur Valadão, vice-presidente e gerente-geral do banco digital, a proposta é ser mais do que uma plataforma de investimento: “queremos ser parceiros na realização de objetivos”.
Já o PicPay identificou, em levantamento de 2024, que crianças e adolescentes usam os investimentos com objetivos principalmente para gastos com eletrônicos, estudos e viagens. Outras metas comuns são o primeiro carro, CNH (carteira nacional de habilitação), festas e itens de moda ou games. Para o público adulto, as reservas de emergência e organização do orçamento mensal são dois motivadores importantes.
Os investimentos com meta do PicPay prometem rendimento de 102% do CDI, liquidez diária e aporte mínimo de R$ 1.
No Mercado Pago, um levantamento com mais de 24 mil pessoas mostrou que 60% usam esse recurso de investimento para criar reserva de emergência e 32% para metas como viagens. A maioria pretende utilizar os recursos em até 12 meses, reforçando a função de curto prazo dessas ferramentas.
Ainda de acordo com os dados, a maioria tem objetivos de curto e médio prazo: 63% guardam o dinheiro para usar nos próximos seis a doze meses, enquanto apenas 21% indicam foco no longo prazo.
Clientes do Mercado Pago contam com produtos como:
- Outras opções como fundos e LCI/LCA, para todos os perfis.
- Cofrinho rendimento perfeito: até 120% do CDI para assinantes Meli+ e 115% para quem envia pelo menos R$ 1 mil/mês;
- CDBs com liquidez diária, rendendo até 107% do CDI e com proteção do FGC;
INVESTIMENTO COM OBJETIVO GERA DISCIPLINA
Ainda que não existam, segundo Paula Bento, estudos oficiais sobre a eficácia dos investimentos com uma meta estabelecida, os planejadores financeiros observam ganhos reais de adesão e disciplina quando o investimento é feito com um objetivo claro. “O cliente se sente mais organizado, diminui a ansiedade e se engaja mais com o plano”.
Já Soares ressalta que, mesmo com o apelo emocional, é preciso seguir critérios técnicos. “Caixinhas são intuitivas, mas o risco varia. Avaliar o produto por trás da ferramenta é essencial”.