Este mural quer manter viva a memória do ataque ao Capitólio em 2021
Obra reúne as histórias de 1,5 mil pessoas que participaram da invasão ao Congresso dos EUA

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem um modus operandi bem conhecido: gerar manchetes o tempo todo para confundir o público. Com isso, mesmo quem acompanha as notícias de perto pode ter dificuldade em se manter informado.
Mas um projeto artístico está tentando ir na contramão, recontando os fatos de forma diferente – e lançando luz sobre quem participou do ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021.
“Wall of Shame” (Muro da vergonha) é uma instalação do artista Phil Buehler, com 15 metros de comprimento por três metros de altura, montada no bairro de Bushwick, em Nova York, em parceria com a rádio comunitária Free Brooklyn. A proposta é narrar este episódio recente da história norte-americana por meio de uma grande obra visual informativa.
Com o subtítulo “Visualizing the J6 Insurrection” (Visualizando a insurreição de 6 de janeiro), o mural é composto por mais de 1,5 mil painéis de vinil impermeáveis, organizados por cores.
Cada um traz a foto, nome, idade e cidade natal de um dos envolvidos no ataque ao Capitólio, além de detalhes sobre sua atuação naquele dia, incluindo as acusações e penas recebidas. Todas as informações são públicas.

A proposta de Buehler torna o ataque mais próximo e pessoal. Em vez de mais uma imagem genérica de uma multidão com bandeiras tentando reverter o resultado de uma eleição, o mural foca nos indivíduos por trás do ato. O artista conferiu todas as informações com base em reportagens da NPR, a rádio pública norte-americana.

Essa não é a primeira vez que Buehler colabora com a Radio Free Brooklyn. Em 2020, ele criou o “Wall of Lies” (Muro das mentiras), que reunia 20 mil declarações falsas feitas por Trump durante seu primeiro mandato. Em 2022, lançou o “Wall of Liars and Deniers” (Muro dos mentirosos e negacionistas), com os nomes dos candidatos republicanos que concorreram naquele ano e negavam o resultado da eleição de 2020. O “Wall of Shame” foi inaugurado no Dia da Independência dos Estados Unidos.

Uma pesquisa realizada em fevereiro pelo jornal “The Washington Post” em parceria com o instituto Ipsos revelou que 83% dos norte-americanos se opõem à concessão de perdão presidencial a criminosos violentos envolvidos no ataque e 55% também rejeitam a ideia de perdão para crimes não violentos. No entanto, no ritmo frenético da política e das notícias, janeiro de 2021 já parece um passado distante.
Ao transformar as histórias dos invasores em arte pública, Buehler e a Radio Free Brooklyn encontraram uma nova maneira de relembrar esse episódio e manter a memória viva – a partir de centenas de pontos de vista diferentes.