Um jeito ridiculamente simples de tornar as ruas mais seguras para os pedestres

Crédito: Fast Company Brasil

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Cruzamentos são lugares perigosos. Mais da metade dos acidentes que causam ferimentos ou mortes em acidentes de trânsito acontecem em intersecções de vias ou próximo a elas nos EUA, de acordo com a Administração Federal de Rodovias.

Durante a pandemia, a quantidade de acidentes com mortos ou feridos bateu recordes históricos. Nos primeiros nove meses de 2021, mais de 31 mil pessoas morreram nas estradas norte-americanas, um número 12% maior do que no ano anterior. Foi o maior índice de crescimento desde que os registros começaram, em 1975.

Um novo estudo da organização Bloomberg Philantropies mostra que parte da solução deste problema de saúde pública pode vir de uma ferramenta simples e surpreendente. Não se trata de uma nova sinalização de trânsito ou de alguma obra de infraestrutura, mas de um simples balde de tinta.

Crédito: Christopher Leaman/ Bloomberg Philanthropie

Pinturas artísticas feitas no chão, em cruzamentos e esquinas, aumentam significativamente a segurança, reduzindo a taxa de acidentes envolvendo veículos e pedestres em até 50%  e a de batidas de carro em 17%, de acordo com a pesquisa.

Os projetos de arte no asfalto incluem murais multicoloridos e trabalhos de pintura nas ruas, calçadas e cruzamentos muito movimentados. Geralmente chamativas e impossíveis de não ver, as figuras tendem a levar os motoristas a reduzir a velocidade, serem mais cuidadosos e prestarem mais atenção nos pedestres.

Essas intervenções simples foram incorporadas como parte da Iniciativa Arte no Asfalto, da Bloomberg Philantropies, adotada em 41 cidades norte-americanas e três europeias, em um total de 45 projetos. O estudo se concentrou em alguns deles e as informações coletadas fornecem dados que sugerem que as pinturas conseguem aumentar o nível de segurança em cruzamentos.

O fechamento da Times Square, em Nova York, apenas para pedestres começou com um simples trabalho de pintura na rua e algumas barreiras de plástico. “Ninguém acreditava que aquilo funcionaria”, lembra Janette Sadik-Khan, ex-diretora do departamento de transportes da cidade.

Crédito: Matt Eich/ Bloomberg Philanthropies

Análises mostraram que o projeto não influencia no tempo gasto nos trajetos, incentiva o hábito de se deslocar a pé e beneficia até os negócios no entorno. “Pinturas e outras medidas temporárias custam uma fração do que se gastaria com cimento e mão-de-obra, e ainda por cima entregam retorno real sobre o investimento”, diz Sadik-Khan, que agora é diretora de transportes na Bloomberg Associates, o braço de consultoria da Bloomberg Philantropies.

O estudo analisou 22 projetos financiados pela entidade nos Estados Unidos, comparando dados de acidentes antes e depois da intervenção artística, a partir de 2016. Mais de três quartos dos projetos analisados mostraram redução do número de acidentes depois das pinturas no chão.

Os planos da entidade não param. Ela vai direcionar US$ 25 mil para 20 cidades na Europa para custear projetos de arte no asfalto. As inscrições para o financiamento estão abertas e as cidades contempladas serão anunciadas no segundo semestre.

A executiva diz que o estudo fornece o tipo de informação prévia que as cidades geralmente buscam antes de experimentar algo novo. Com a redução de acidentes comprovada pelos dados coletados, ela espera que outras cidades reconheçam os benefícios de se implantar esse tipo de iniciativa.

“Essas informações fornecem aos prefeitos, aos cidadãos e mesmo aos planejadores de políticas nacionais, evidências de que esse tipo de projeto pode, antes de mais nada, prevenir acidentes,”, garante a diretora.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais