Esqueça os chatbots: IA física e IA embutida são a nova ameaça aos empregos

Tecnologias que permitem que robôs entendam e interajam com o mundo real estão impulsionando uma nova revolução na robótica

inteligência artificial física e inteligência artificial embutida
Crédito: gremlin/ Getty Images

Michael Grothaus 5 minutos de leitura

A Amazon anunciou recentemente que alcançou a marca de um milhão de robôs em sua força de trabalho – um feito impressionante, especialmente considerando que estamos falando de uma única empresa.

Mais impressionante ainda é o tempo que levou para atingir esse número: pouco mais de 12 anos. Para efeito de comparação, a empresa levou quase três décadas para formar seu quadro atual de 1,5 milhão de funcionários humanos.

Se continuar nesse ritmo, não deve demorar para que a Amazon tenha mais robôs do que pessoas trabalhando. E ela não será a única. Outras empresas também devem seguir esse caminho – não apenas em fábricas, mas em diversos setores. 

Os robôs estão ganhando espaço em funções tradicionalmente ocupadas por humanos, tanto em trabalhos manuais – como entregas, construção civil e agricultura – quanto em áreas de serviços, como varejo e alimentação.

Essa versatilidade não se deve apenas à parte mecânica – como articulações, sensores e motores –, mas também aos avanços em duas áreas promissoras da inteligência artificial: a IA física e a IA embutida (ou incorporada).

A seguir, explicamos como cada uma funciona e o que as diferencia da inteligência artificial generativa que alimenta chatbots como o ChatGPT.

O QUE É IA FÍSICA?

A IA física é um tipo de inteligência artificial que compreende as propriedades do mundo real e a maneira como interagem entre si. Segundo a Nvidia, ela também é chamada de “IA generativa física” porque consegue analisar dados sobre processos físicos e sugerir ações para pessoas, governos ou máquinas.

Em outras palavras, essa tecnologia consegue “raciocinar” sobre o funcionamento do mundo – e isso abre muitas possibilidades. Um exemplo: com base em dados de um sensor de chuva, ela pode prever se determinada área corre risco de alagamento.

Créditos: Milad Fakurian/ Diego PH/ Unsplash

Isso acontece porque o sistema consegue interpretar dados climáticos em tempo real usando seu conhecimento sobre dinâmica dos fluidos – ou seja, como a água se comporta em diferentes tipos de terrenos e superfícies.

A IA física também pode ser usada para criar “gêmeos digitais” de ambientes, como fábricas ou até cidades inteiras. Com isso, é possível planejar, por exemplo, onde instalar máquinas pesadas em uma planta industrial, levando em conta sua estrutura e a resistência dos pisos, de acordo com os materiais usados na construção.

O QUE É IA EMBUTIDA?

A IA embutida é a inteligência artificial integrada a um corpo físico – ou seja, ela “vive” dentro de um dispositivo que pode se mover e interagir com o mundo físico. Essa tecnologia está presente em diversos tipos de aparelhos, como aspiradores inteligentes, robôs humanoides e veículos autônomos.

Robô cortador de grama da empresa Segway
Robô cortador de grama (Crédito: Segway/ Divulgação)

Assim como a IA física, a IA embutida entende como o mundo real funciona. Mas, por estar literalmente incorporada a uma máquina, consegue agir sobre o ambiente – seja realizando uma cirurgia com um braço robótico, construindo com um robô humanoide ou fazendo entregas com um caminhão autônomo.

O corpo físico também dá à IA mobilidade e acesso a sensores como câmeras e tecnologia LiDAR, que permitem que ela “enxergue” e compreenda melhor o ambiente à sua volta.

DISTINÇÃO EM TEMPO REAL

Vale notar que os termos “IA física” e “IA incorporada” estão sendo usados, cada vez mais, como sinônimos para descrever qualquer forma de inteligência artificial que compreenda a física e as relações espaciais do mundo real – e use esse entendimento como base para o funcionamento de robôs.

No entanto, a maioria dos especialistas concorda que IA física e IA incorporada são formas inter-relacionadas, mas diferentes, de inteligência artificial.

Robôs agora entendem como o mundo funciona e também podem atuar diretamente sobre ele.

Segundo Henrik I. Christensen, especialista em robótica e IA e professor de ciência da computação na Universidade da Califórnia, uma das diferenças entre elas está na capacidade de operar em tempo real.

“IA física utiliza sistemas que [fazem inferências] relacionadas ao mundo físico, como atrito, elasticidade”, explica. Esse tipo de sistema “pode não operar em tempo real, mas tem um modelo detalhado de interação com o mundo físico.”

Já a IA incorporada “utiliza sistemas que operam no mundo físico [e também] interagem com objetos reais, [portanto] precisam funcionar em tempo real”, diz Christensen.

robôs que desmontam aparelhos eletrônicos
Robôs usados na desmontagem de aparelhos eletrônicos para reciclagem (Crédito: Molg)

Essa exigência de operar em tempo real é essencial para robôs que atuam no mundo físico. Se um robô não pegar um objeto com rapidez suficiente, um desastre pode ocorrer no chão de fábrica.

Christensen observa que sistemas de IA incorporada muitas vezes precisam recorrer a modelos simplificados para garantir que consigam “fornecer uma resposta rápida o bastante.

OS ROBÔS VÃO TOMAR TODOS OS EMPREGOS?

Grandes modelos de linguagem como ChatGPT, Claude, Llama e Grok já são vistos como uma ameaça a empregos administrativos, graças à sua capacidade de processar informações e gerar respostas de forma parecida com a humana.

Mas, por não terem corpo físico nem compreenderem plenamente as dinâmicas do mundo real, essas inteligências artificiais sempre pareceram representar menos risco para os empregos que envolvem trabalho manual.

Os robôs estão ganhando espaço em funções tradicionalmente ocupadas por humanos.

Com o avanço da IA física e da IA incorporada, essa percepção começa a mudar. Robôs agora não apenas entendem como o mundo funciona – também podem atuar diretamente sobre ele.

Ou seja, robôs equipados com essas tecnologias têm o potencial de gerar uma grande economia para as empresas, principalmente ao reduzir seu maior custo: a força de trabalho humana. E tudo indica que elas não vão deixar essa oportunidade passar.

A única dúvida que fica é: quando a IA substituir todos os nossos empregos, quem vai comprar os produtos e serviços que essas empresas vendem?


SOBRE O AUTOR

Michael Grothaus é escritor, jornalista, ex-roteirista e autor do romance "Epiphany Jones". saiba mais