Consegue investir R$ 50 por mês? Veja como ter uma reserva de emergência
De quem tem o orçamento apertado aos que contam com sobra de caixa, é possível começar a construir uma base financeira movida pelos três pilares: planejamento, organização e constância

Antes de pensar em multiplicar patrimônio, é preciso garantir proteção. Por isso, a reserva de emergência é considerada o primeiro passo essencial na jornada de qualquer investidor, especialmente para quem está começando. Ela não só serve como um escudo contra imprevistos, mas também desenvolve habilidades fundamentais como disciplina, constância e planejamento.
RESERVA DE EMERGÊNCIA: ASPECTO EMOCIONAL E FINANCEIRO
O hábito de investir, ainda que seja crescente, ainda tem muito a ser disseminado entre os brasileiros. Pesquisa da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) e Datafolha, de 2024, mostra que 42% dos entrevistados mencionaram ter dificuldades para gerar receita suficiente para poupar.
Já a edição mais recente do Raio X do Investidor Brasileiro, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), divulgado neste ano, mostra que, mesmo dentre os mais ricos do Brasil, existe uma dificuldade de investir, o que está relacionada com a capacidade de se organizar e lidar com o dinheiro
Segundo Theo Braga, CEO da SME The New Economy, montar a reserva é o que dá estabilidade emocional e financeira para seguir adiante. “Ela funciona como um ‘airbag’ financeiro: evita que imprevistos comprometam seus planos de longo prazo. Começar por ela é começar com consciência”, diz.
Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, essa proteção tem um papel estratégico. “Sem essa base, o investidor fica vulnerável, podendo precisar resgatar investimentos de longo prazo em momentos ruins ou recorrer a dívidas caras, comprometendo seu planejamento”, afirma.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA COMEÇA PELA RESERVA
Construir uma reserva é mais do que juntar dinheiro: é praticar educação financeira na vida real. De acordo com Braga, o processo exige planejamento, organização e constância. São três pilares que moldam o comportamento financeiro ao longo do tempo. Ele observa que a disciplina desenvolvida aqui é a mesma que será necessária nos investimentos mais sofisticados.
Monteiro complementa que a prática ensina uma lição importante: melhor começar com pouco e com regularidade do que esperar sobrar muito. “Além de promover planejamento e controle de gastos, a experiência reforça que investir também é proteger o patrimônio”, destaca.
E SE VOCÊ COMEÇAR A INVESTIR SEM TER UMA RESERVA?
A tentação de aplicar logo em produtos mais rentáveis pode parecer atraente. Mas, segundo os especialistas, sem reserva, o investidor se torna refém dos imprevistos.
“Basta um problema de saúde ou uma demissão para ele precisar resgatar aplicações no pior momento, muitas vezes com prejuízo”, alerta Braga. Monteiro reforça que esse tipo de atitude pode levar ao endividamento e comprometer toda a estratégia financeira. “É um ciclo difícil de reverter”, afirma.
QUANDO E COMO COMEÇAR A MONTAR A RESERVA?
Uma dúvida frequente é sobre o momento e a forma de começar a montar a reserva de emergência. A resposta unânime dos especialistas é: o melhor momento é agora, mesmo que o orçamento esteja apertado ou existam dívidas.
"Se a pessoa já vive no limite, é justamente aí que a reserva se torna mais urgente"
Theo Braga, CEO da SME The New Economy
Para Braga, “se a pessoa já vive no limite, é justamente aí que a reserva se torna mais urgente”. Por isso, é importante começar com o que for possível, ainda que sejam R$ 50 ou R$ 100 por mês.
Monteiro concorda: “O ideal é começar o quanto antes. Mesmo quem tem dívidas pode equilibrar o pagamento delas com a formação da reserva, para não depender de novos empréstimos em emergências.”
COMO CALCULAR A RESERVA IDEAL
A recomendação mais comum para calcular a reserva ideal varia entre 3 e 12 meses de despesas essenciais. O número depende de cada perfil.
Segundo Braga, um servidor público, por exemplo, pode se planejar com três meses de despesas, enquanto autônomos ou empreendedores devem considerar pelo menos seis meses. Monteiro acrescenta que, para quem tem renda variável, o ideal pode chegar a 12 meses. “O ponto central é garantir cobertura suficiente para manter o padrão de vida em caso de imprevistos, sem precisar recorrer a dívidas”, afirma.
COMO GUARDAR DINHEIRO MESMO COM ORÇAMENTO APERTADO?
Os dois especialistas apontam a automatização como uma das estratégias mais eficientes. Programar transferências automáticas assim que o salário cair ajuda a formar o hábito e evitar o consumo por impulso.
Monteiro recomenda tratar a reserva como uma conta fixa a pagar. “Mesmo valores pequenos fazem diferença ao longo do tempo. Usar aplicativos de finanças ou dividir a renda em ‘envelopes’ digitais também ajuda muito”, diz.
ONDE DEIXAR SUA RESERVA DE EMERGÊNCIA?
Liquidez e segurança são as palavras-chave aqui. Tanto Braga quanto Monteiro recomendam opções como Tesouro Selic, CDBs com liquidez diária e contas digitais remuneradas protegidas pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Fundos de renda fixa simples também podem ser considerados, desde que permitam resgate rápido e tenham baixa taxa de administração.
“É importante garantir que o recurso esteja disponível em até um dia útil e que não haja risco de perda”, explica Monteiro. Braga reforça: “Evite promessas de retorno acima da média e cheque sempre a liquidez real do ativo.”
A RESERVA COMO UM SEGURO EMOCIONAL
Ter uma reserva evita decisões impulsivas em momentos de pânico, como quedas bruscas na bolsa de valores. Braga compara a reserva a um seguro emocional. “Ela dá paz de espírito e evita decisões ruins em momentos de estresse”, afirma.
Monteiro segue a mesma linha. “A reserva funciona como um colchão financeiro e emocional, evitando resgates de investimentos de longo prazo em momentos ruins do mercado”, diz.
MAIS DO QUE DINHEIRO GUARDADO: É UM TREINO PARA O FUTURO
A jornada de construção da reserva também serve como treinamento para metas de longo prazo. Ambos os especialistas acreditam que essa fase desenvolve maturidade financeira, algo essencial para quem pretende investir com consciência.
“Ela ensina paciência, responsabilidade e constância”, diz Braga. Monteiro conclui: “Essa maturidade cria uma base sólida para decisões mais estratégicas no futuro.”