TACO e a Teoria do Louco: o que explica o tarifaço de Trump

Governo americano tem anunciado acordos, como o assinado com a União Europeia, Japão e Reino Unido, e sinaliza com uma tarifa-base na faixa de 15% a 20%; Brasil ainda não sentou para negociar com a Casa Branca

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Tibor Janosi Mozes from Pixabay

Paula Pacheco 5 minutos de leitura

Os países que ainda não conseguiram ir à mesa de negociação com o governo americano estão torcendo para que prevaleça a versão “TACO trade” do presidente Donald Trump. Não, a palavra não tem nada a ver com o prato mexicano.


EXPRESSÃO IRRITOU O PRESIDENTE

O apelido, que desagradou o republicado, é sigla para “Trump Always Chickens Out”, ou “Trump Sempre Amarela”. A expressão tem sido usada por alguns analistas e parte da imprensa internacional para alfinetar as idas e vindas do titular da Casa Branca na pauta tarifária.

Quem primeiro cravou a expressão foi o jornal econômico Financial Times. Depois, foi a vez de um banco de investimentos usar o TACO em um comentário sobre o adiamento das tarifas sobre as exportações da União Europeia para os EUA.

COMO SURGIU A EXPRESSÃO 'TACO'?

A explicação para a expressão começa com a escolha da palavra "chicken" - galinha em inglês. A ave é associada ao pavor ou nervosismo. Em português, a expressão "chicken out" significa algo como "amarelar" ou "pipocar".

Um repórter que cobre a Casa Branca decidiu perguntar para Trump, no final de maio, o que ele achava de ter seu comportamento associado à expressão. Ele se referiu ao fato de investidores aproveitarem as quedas do mercado após o presidente fazer ameaças tarifárias, prevendo que ele acabará cedendo, com efeito de alta nas ações.

Irritado, o presidente americano respondeu: “Você chama isso de amarelar? Isso é negociação.” Para Trump, trata-se de uma ação intencional que “estabeleceria um número ridiculamente alto” e depois “o reduziria um pouco” como parte das tentativas de acordo. Não demorou para que o apelido se disseminasse pelas redes sociais e rendesse uma onda de memes.

SERÁ QUE HAVERÁ RECUO?

Agora, com a proximidade de 1º de agosto – data anunciada pelo presidente americano para que entre em vigor o tarifaço em massa, incluindo sobre os 50% sobre o Brasil -, a torcida é para que haja um recuo por parte do republicano. Seja no sentido de protelar o início da cobrança das novas taxas ou uma revisão para baixo, como aconteceu até agora com seis países. Entre eles, Reino Unido, Japão e Indonésia.

A onda tarifária da Casa Branca começou em abril, com o temos dos parceiros comerciais dos EUA e queda das principais bolsas no mundo. Depois de uma semana do anúncio, Trump voltou atrás sob a alegação de que havia sido procurado por representantes de várias nações em busca de negociação.

Logo depois que as ameaças tarifárias foram deflagradas, os EUA protelaram a aplicação do tarifaço em países como México e China. No caso da União Europeia, que seria sobretaxada em 50% a partir de 1º de junho, além de adiar a cobrança, a Casa Branca negociou e anunciou no domingo (27) uma cobrança de 20% sobre os embarques feitos a partir de países integrantes do bloco.

Agora, as centenas de países que ainda não negociaram com os EUA, torcem pela versão TACO. Por outro lado, há que avalie que Trump pode querer justamente mostrar que não vai “pipocar”.

O QUE É A TEORIA DO LOUCO

Há quem não veja coerência nas ações de Trump, mas os cientistas políticos explicam o que está por trás do comportamento de alguém que, como o líder americano, busca manter uma imagem crível e consistente de imprevisibilidade: a chamada Teoria do Louco.

Um líder mundial tenta persuadir seu adversário sob a estratégia de que é temperamentalmente capaz de qualquer coisa com o objetivo de arrancar concessões, como faz Trump. A coerção, quando funciona, coloca esses adversários em posição frágil, tornando mais fácil o acordo desejado.

O CASO DA UE

No caso da União Europeia, por exemplo, que fechou com o EUA uma tarifa de 15% sobre suas exportações, a ameaça inicial de Trump era de 30%.

Sob crítica, o principal negociador da UE, o comissário europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, disse que estava “100% certo de que este acordo é melhor do que uma guerra comercial com os Estados Unidos”.

Já o primeiro-ministro francês, François Bayrou, afirmou que o bloco “submeteu-se” à Casa Branca com este acordo. Para ele, foi “um dia sombrio” para a Europa, que “se resigna à submissão”.

Até o primeiro-ministro húngaro, o ultraconservador Viktor Orban, alinhado a Trump, criticou ao dizer que o acordo foi “pior” do que o alcançado pelo Reino Unido. “Não foi Trump quem fez um acordo com Ursula von der Leyen, mas sim Trump jantou Ursula von der Leyen”, declarou Orban.

SÓ EM CASO DE CRISE

Em reportagem publicada em março, o site alemão Deutsche Welle lembrou que foi o ex-presidente americano Richard Nixon (na Casa Branca de 1969 a 1974) quem cunho o termo “Teoria do Louco” ao descrever sua convicção de que, ao dar a sensação de instabilidade mental, poderia ajudar na vitória dos EUA na guerra do Vietnã.

"A teoria do louco é a ideia de que é útil ser visto como louco em uma negociação coercitiva. Isso é particularmente útil quando o cumprimento das ameaças é muito custoso", disse Roseanne McManus, cientista política da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, à Deutsche Welle. "Mas é muito difícil distinguir a loucura genuína do blefe crível.”

Antes de assumir o primeiro mandato (2017-2021), ao responder a uma pergunta do The Washington Post, Trump sinalizou como é o seu instinto negociador e o que estaria por vir. "Temos que ser imprevisíveis", disse ele ao apontaro que pretendia fazer em relação à expansão chinesa. "Somos muito previsíveis, e o previsível é ruim."

Reportagem de 2017 da BBC sobre Trump e a Teoria do Louco trouxe um ponto levantado por David Petraeus, general da reserva dos EUA, em um debate na Universidade de Nova York. "Pode haver algum mérito na Teoria do Louco desde que você esteja numa crise", disse ele.

"Você não quer que o outro lado pense que você pode ser irracional o suficiente para conduzir um primeiro ataque ou fazer algo impensável", observou Petraeus.

Entre avaliações sobre quão racional é o presidente americano e quais serão os próximos passos na política comercial, empresas brasileiras - exportadoras e importadoras - seguem de olho no relógio na esperança de o avanço da Casa Branca terminar em TACO.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais