A diferença de salário entre executivos e trabalhadores está alta – e deve crescer

Em 2024, os CEOs das empresas do índice S&P 500 ganharam, em média, 285 vezes mais que seus funcionários

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Kristin Toussaint 3 minutos de leitura

Em 2015, poucos meses após lançar sua candidatura à presidência, Donald Trump criticou os salários exorbitantes dos CEOs, chamando-os de “uma completa e absoluta piada” em entrevista à CBS.

Mas, desde então, a remuneração desses executivos só cresceu – assim como a distância entre seus salários e os dos trabalhadores comuns. E, no cargo de presidente, Trump tem adotado políticas que contribuem ainda mais para esse desequilíbrio.

De acordo com o relatório Executive Paywatch, da AFL-CIO, em 2024, nos EUA, a diferença média entre o que ganham os CEOs e os funcionários das empresas do índice S&P 500 chegou a 285 para um – um aumento em relação à proporção de 268 para um registrada em 2023.

Enquanto boa parte da população norte-americana enfrentava a alta nos preços de alimentos e moradia – e a sensação de estar sendo deixada para trás pela economia –, os CEOs dessas companhias viram seus rendimentos crescerem, em média, US$ 1,24 milhão em comparação ao ano anterior. A remuneração total média em 2024 foi de US$ 18,9 milhões, um aumento de 7%.

E tudo indica que esse valor deve aumentar ainda mais. Com os cortes de impostos propostos por Trump, cada CEO deve economizar, em média, US$ 500 mil em tributos. Somando todos os executivos analisados pelo relatório, as isenções chegam a cerca de US$ 738 milhões.

Enquanto isso, o mesmo projeto prevê cortes drásticos em programas públicos como o Medicare, o SNAP (programa de assistência alimentar) e até a merenda escolar. A AFL-CIO – federação sindical que representa mais de 15 milhões de trabalhadores e tem mais de 70 anos de história – publica o relatório justamente para escancarar esse contraste.

“O sistema claramente não funciona”, afirmou Fred Redmond, secretário-geral da entidade, durante uma coletiva de imprensa. “Os trabalhadores estão fazendo um pedido simples: querem ter acesso a uma parte justa dos lucros que ajudam a gerar todos os dias. Essa proporção de 285 para um está longe de ser aceitável.”

DIFERENÇA DE SALÁRIO EM CURVA ASCENDENTE

O aumento desenfreado dos salários dos CEOs não é novidade. A diferença entre o que ganham os executivos e os funcionários vem crescendo há décadas no país. Segundo o relatório, apenas entre as empresas do S&P 500, a remuneração média dos CEOs subiu US$ 6,5 milhões nos últimos 10 anos. Em 1965, essa proporção era de apenas 20 para um.

Hoje, o salário médio anual de um trabalhador nos Estados Unidos é de US$ 49,5 mil. Para ganhar o que um CEO do S&P 500 recebe em um único ano, esse trabalhador teria que estar empregado desde 1740.

Claro, essa diferença varia bastante entre as empresas. Em 2024, o novo CEO da Starbucks, Brian Niccol, recebeu US$ 95 milhões – o equivalente a 6.666 vezes o salário médio de um funcionário da empresa. Já Satya Nadella, CEO da Microsoft, recebeu US$ 79 milhões, o que representa uma proporção de 408 para um.

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Além de reduzir impostos para os mais ricos, o governo Trump também estuda eliminar a exigência de que essas informações sejam divulgadas aos investidores. Desde 2017, graças a uma regra aprovada em 2015, as empresas são obrigadas pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) a informar a razão entre a remuneração do CEO e a dos demais funcionários.

Mas Paul Atkins, indicado por Trump para presidir a SEC, afirma que essas exigências se tornaram “longas e complexas demais” – e estaria considerando flexibilizar essas regras, inclusive as que tratam de benefícios pessoais dos CEOs, como jatinhos para uso pessoal.

A AFL-CIO defende que as normas sejam mantidas. “Acreditamos que a transparência é a melhor forma de combater abusos salariais, desperdícios e fraudes”, diz Redmond. “Estamos incentivando os visitantes do site Executive Paywatch a enviarem mensagens à SEC pedindo a manutenção da divulgação dessas informações.”


SOBRE A AUTORA

Kristin Toussaint é editora assistente da editoria de Impacto da Fast Company. saiba mais