Confira sempre as respostas da IA para não passar vergonha como estas pessoas

Exemplos de gafes causadas pela inteligência artificial que poderiam ter sido facilmente evitadas

Crédito: gremlin/ Getty Images

Emily McCrary-Ruiz-Esparza 3 minutos de leitura

Caro leitor,

Espero que este artigo o encontre bem.

E desejo, do fundo do coração, que se você usa IA generativa para aumentar sua produtividade no trabalho, tenha o bom senso de revisar tudo o que ela produzir. Caso contrário, corre o risco de acabar com dados inventados, citações falsas – ou até chamando seu chefe pelo nome errado. E aí, a vergonha é certa.

Atenciosamente,

Os resultados não revisados da sua IA

A tecnologia vem ganhando espaço no ambiente de trabalho, mesmo sem regras muito claras sobre seu uso. Com a pressão para adotá-la, o cenário fica propício a erros de inteligência artificial – muitos deles totalmente evitáveis.

Um dos erros mais comuns é deixar de revisar o conteúdo gerado pela IA. E isso pode resultar desde situações embaraçosas até problemas mais sérios.

Um exemplo simples: uma profissional de vendas de software, que preferiu não se identificar, contou à Fast Company que uma colega usava o ChatGPT para deixar seus e-mails com um “tom mais natural”. Mas as mensagens saíam muito formais e até antiquadas – começando com frases como: “espero que este e-mail o encontre bem”.

Algo parecido aconteceu com Clemens Rychlik, diretor de operações da agência de marketing Hello Operator. Um colega usou o ChatGPT para responder mensagens no Slack e acabou chamando Clemens de “Clarence”. Ele respondeu na brincadeira, trocando o nome do colega também. “Foi constrangedor, claro – e, depois disso, as respostas passaram a ser bem mais humanas.”

A RECOMENDAÇÃO INADEQUADA

Tem gente usando inteligência artificial para gerar recomendações a clientes sem nem revisar o que foi gerado, o que afeta diretamente a qualidade do trabalho e pode trazer consequências mais sérias.

Alex Smereczniak, CEO da Franzy – uma startup que conecta compradores e vendedores de franquias – conta que a empresa usa um modelo de IA treinado internamente para sugerir oportunidades a clientes. Mas muitas pessoas nem sabem que estão interagindo com uma máquina.

Foi o caso de uma cliente que pediu sugestões de franquias voltadas para bem-estar – e recebeu como recomendação abrir um restaurante da rede de fast-food Dave’s Hot Chicken, especializada em frango frito. A sugestão não agradou nem um pouco. O funcionário, então, admitiu que usou IA para gerar a resposta.

“Percebemos que o modelo estava priorizando demais critérios como lucratividade e crescimento da marca, sem considerar o estilo de vida ou os valores da cliente”, explica Smereczniak. Após ajustar os dados e os parâmetros do sistema, as sugestões ficaram mais alinhadas e a cliente saiu satisfeita.

A FONTE INVENTADA

Algumas empresas estão aproveitando os erros da inteligência artificial como oportunidade para melhorar seus processos. Foi o que aconteceu com a agência de relações públicas onde trabalha Michelle (nome fictício, já que ela não pode citar a empresa).

Segundo ela, um colega usou o Claude (assistente de IA da Anthropic) para redigir um relatório em nome de um cliente. O problema? O sistema inventou fontes e citou especialistas que simplesmente não existem.

“A citação foi atribuída a um suposto funcionário de uma das três maiores gestoras de ativos do mundo”, conta Michelle. Mesmo assim, o material chegou a ser publicado.

deixar de revisar o conteúdo gerado pela IA pode resultar desde situações embaraçosas até problemas mais sérios.

O erro só foi descoberto quando a própria gestora enviou um e-mail indignado. “Nunca tínhamos passado por algo assim. Acreditávamos que a IA tornaria o processo de criação de conteúdo mais rápido e simples. Mas, infelizmente, o resultado foi esse”, diz ela.

No fim, a empresa conseguiu contornar a situação com transparência: explicou o que aconteceu ao cliente e à gestora, adotou novos protocolos e garantiu que o problema não se repetiria. O relacionamento com ambos foi mantido.

Estamos vivendo uma fase de experimentação com a IA e empresas mais abertas já entenderam que os erros fazem parte do aprendizado. Por enquanto, usar inteligência artificial no trabalho ainda é visto como um sinal de inovação, não de desleixo.

Mas, aos poucos, estamos descobrindo os limites. E, por ora, muitos profissionais ainda preferem pedir desculpas depois, em vez de pedir permissão antes.


SOBRE A AUTORA

Emily McCrary-Ruiz-Esparza é jornalista e cobre a área de negócios e mercado de trabalho. saiba mais