Tempo de tela prejudica o cérebro das crianças? Especialistas respondem

Nas redes sociais não faltam informações ligando o tempo de tela a problemas como depressão, distúrbios do sono e até mesmo alterações no cérebro. Mas e as evidências?

veja o que os especialistas dizem
Telas não são vilãs por si só. Foto: Freepik

Jessica de Holanda 2 minutos de leitura

Desde o lançamento do iPad, Steve Jobs e Bill Gates admitiram limitar o uso de tecnologia de seus próprios filhos em casa. Nas redes sociais não faltam informações ligando o tempo de tela a problemas como depressão, distúrbios do sono e até mesmo alterações no cérebro. Mas e as evidências?

Em um artigo publicado na BBC News, o psicólogo Pete Etchells, da Bath Spa University, afirma que essas preocupações podem estar infladas. “Simplesmente não há evidência científica concreta para sustentar as histórias sobre os supostos efeitos terríveis do tempo de tela”, afirma em seu livro Unlocked: The Real Science of Screen Time.

Contexto importa mais do que tempo

Para Etchells, o problema não está apenas no tempo de exposição às telas, mas no tipo de uso. Ele diferencia momentos de aprendizado ou interação com amigos de situações como o “doomscrolling”, a rolagem contínua por notícias negativas.

“Se telas realmente mudassem o cérebro para pior, veríamos isso em grandes conjuntos de dados. Mas não vemos”, disse. Andrew Przybylski, da Universidade de Oxford, alerta que controlar de forma rígida pode transformar as telas em um “fruto proibido”, o que só aumenta o fascínio por elas.

Estudos

Nem todos os estudos isentam o tempo de tela. Uma pesquisa dinamarquesa de 2024 indicou que limitar o uso a três horas semanais melhorou o bem-estar psicológico e o comportamento pró-social de crianças e adolescentes.

Outro estudo britânico encontrou associação entre o uso intenso de redes sociais e níveis mais altos de depressão entre meninas. “Mais tempo online, geralmente sozinhas; menos tempo dormindo; menos tempo com amigos. Essa é uma fórmula terrível para a saúde mental”, disse a psicóloga Jean Twenge.

Falta consenso

A pediatra Jenny Radesky, da Universidade de Michigan, critica o tom moralista do debate. “Tanta coisa que se diz hoje em dia parece mais focada em induzir culpa nos pais do que em explicar o que a pesquisa pode nos dizer”, afirmou em evento da Dana Foundation.

As diretrizes oficiais também divergem. A Organização Mundial da Saúde recomenda zero tempo de tela para crianças menores de um ano e no máximo uma hora por dia para menores de quatro. Já entidades como a Academia Americana de Pediatria evitam estabelecer limites rígidos, reconhecendo a falta de evidência conclusiva.

E se estivermos olhando para o lado errado?

Sem consenso científico e com a tecnologia evoluindo rapidamente, especialistas alertam para o risco de focar no tempo, quando o conteúdo e o contexto são tão ou mais importantes.

Se telas forem mesmo prejudiciais, talvez leve anos para que isso fique claro. Mas se não forem, podemos estar restringindo o acesso e desperdiçando energia tentando combater um inimigo mal definido.

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SOBRE A AUTORA

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com passagem pela BandNews, Portal RIC.com.br, JB Litoral e Massa FM. saiba mais