‘Adultização’ de crianças: viral de Felca põe regulação das redes na pauta do Congresso
As denúncias sobre exploração infantil nas redes sociais levaram o debate ao Congresso e reacenderam discussões sobre regulamentação

O youtuber Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca, publicou na última quarta-feira (6) um vídeo denunciando a exploração de menores na criação de conteúdo digital. Com o título "adultização", o vídeo já ultrapassa 31 milhões de visualizações no YouTube. O efeito foi maior do que a viralização, desde ontem, mais de 14 projetos de lei que tratam sobre a proteção de criança nas redes sociais foram apresentados na Câmara e no Senado.
No âmbito político, o presidente da Câmara, Hugo Motta, afirmou que discutirá o assunto de forma urgente nesta semana no Congresso. Em entrevista à radio Eldorado, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enviar ao Congresso um projeto de lei para regulamentar plataformas digitais, visando coibir crimes contra crianças e adolescentes.
No vídeo de 50 minutos, o influenciador mostra situações diferentes de exposição de menores online. Ele relaciona o tema à pedofilia, apontando que a manipulação dos algoritmos favorece a exploração de crianças nas redes.
“O vídeo do Felca sobre a adultização das crianças chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade”, escreveu Hugo Motta, em sua página oficial do X.
O vídeo que já tem mais de 30 milhões de visualizações
Felca cita casos espeíficos de parentes que filmam suas filhas e publicam postagens em plataformas como TikTok e Instagram, sem nenhum tipo de filtro. Nos comentários destas publicações, há comentários de supostas redes de pedófilos.
Outro caso contundente que Felca comenta é o do influenciador Hytalo Santos, que juntava adolescentes numa casa e fazia vídeos estilo "reality-show" em suas redes sociais. A conta de instagram do influenciador está desativada desde a última sexta-feira (8). Hytalo é investigado pelo Ministério Público da Paraíba desde dezembro de 2024 por suspeita de exploração de crianças e adolescentes e por trabalho infantil.
Em entrevista ao PodDelas, Felca informou que levou mais de um ano fazendo a pesquisa para basear a denúncia. O vídeo inclui entrevista com uma psicóloga, que explica os impactos psicológicos desse tipo de exposição. Com mais de 20 milhões de seguidores, o caso de Hytalo gerou ampla repercussão.
Regulamentação das redes sociais
Já existem no Congresso mais de 26 projetos que tratam sobre a proteção de crianças no meio digital. O mais avançado é o Projeto de Lei 2628/22. Aporovado pelo Senado, o projeto visa estabelecer mecanismos para combater conteúdos de exploração sexual de crianças e adolescentes em ambiente digital. E cria um marco regulatório para a proteger o público juvenil nesse ambiente.
O Supremo Tribunal Federal (STF) também avançou no tema. A Corte formou maioria para mudar o entendimento sobre a responsabilização de plataformas digitais por conteúdos publicados por usuários, tendo como alvo o artigo 19 do Marco Civil da Internet. Hoje, a lei só permite punição quando há descumprimento de ordem judicial para remoção de conteúdo.
Sete ministros, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, votaram para flexibilizar a regra.
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Eles defendem que as plataformas possam ser responsabilizadas mesmo sem decisão judicial, por exemplo, quando notificadas extrajudicialmente ou diante de conteúdos manifestamente ilegais, como discurso de ódio, pornografia infantil ou apologia ao terrorismo.
A maioria entende que o artigo 19 está ultrapassado e não contempla o impacto social e político das redes. Nos Estados Unidos, Donald Trump criticou o Brasil, acusando-o de censurar plataformas digitais e ameaçar eleições livres, repetindo argumentos de executivos como Mark Zuckerberg.
Algoritmo P
No vídeo de Felca, ele mostra como funcionam os algoritmos de recomendação de conteúdo. Em poucos minutos, o influenciador chegou em grupos de pedófilos. Em 2024, a Fast Company Brasil divulgou uma pesquisa sobre a facilidade com que conteúdos impróprios chegavam para crianças no TikTok, entre eles, publicações de cunho sexual.
Especialistas escutados pela Fast Company Brasil na época informaram que não se tratava de uma falha do algoritmo, mas de como ele foi programado. Felca chamou de “algoritmo P”, explicando que ele recomenda conteúdos de adultização infantil a partir da interação dos usuários, criando um ciclo perigoso. Segundo ele, a falha está na ausência de filtros éticos.
Quem é Felca?
Ativo desde 2012, Felca é conhecido pelo humor sarcástico e vídeos virais. Entre os mais famosos estão “testei a base da Virgínia”, com mais de 19 milhões de visualizações, e lives de NPC no TikTok, que lhe renderam R$ 31 mil, doados integralmente a instituições de caridade.
O criador também se posicionou contra apostas esportivas online, sendo convidado para a CPI das Bets, mas não participou.
(Com Redação da Fast Company Brasil)