Estamos vivendo na Matrix? Esse professor do MIT tem (quase) certeza que sim

Rizwan Virk, cientista da computação ligado ao MIT, afirma que avanços recentes em IA e realidade virtual elevam para 70% a probabilidade de estarmos vivendo em uma simulação.

Estamos vivendo na Matrix? Esse professor do MIT tem (quase) certeza que sim
Créditos: kjpargeter via Freepik

Rizwan Virk 4 minutos de leitura

Na nova edição do meu livro The Simulation Hypothesis (A hipótese da simulação), lançada em julho, atualizei minha estimativa de quão provável é estarmos em uma simulação para aproximadamente 70%, graças aos recentes avanços da inteligência artificial (IA). Isso significa que estamos quase certamente dentro de um mundo de realidade virtual como o retratado em Matrix, o filme mais comentado do final do século 20.

Mesmo jovens que não nasceram em 1999 tendem a conhecer a trama desse blockbuster: Neo (Keanu Reeves) trabalha no cubículo de uma grande corporação e acredita viver no mundo real até descobrir, com a ajuda de Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), que está dentro de um mundo gerado por computador.

O FATOR IA

O que me faz ter certeza de que estamos vivendo numa simulação? São múltiplas explicações: da estranheza quântica à natureza peculiar do tempo e do espaço, passando por teoria da informação, física digital, argumentos espirituais e religiosos, e até uma explicação baseada em informação para “falhas na Matrix”.

Mas o que motivou mesmo minha nova estimativa foi o rápido avanço da IA e da realidade virtual, junto com a pesquisa estatística do filósofo de Oxford Nick Bostrom. Nos últimos anos, IAs generativas como ChatGPT, o Gemini do Google e o Grok da X evoluíram de forma acelerada. Não temos apenas sistemas de IA que passaram no teste de Turing, como também temos personagens rudimentares de IA que vivem em mundos virtuais com os quais podemos interagir.

Um exemplo recente é o Google Veo, que permite criar vídeos realistas com atores e cenários totalmente gerados por IA, com falas originais, tudo a partir de prompts. Surgiu então a “teoria do prompt”, com personagens gerados por IA insistindo que não foram criados por uma

Outro exemplo são os companheiros virtuais do Grok, que combinam modelos de linguagem com avatares, atuando como amigos, terapeutas, professores e até parceiros românticos virtuais. A personagem de anime sexy inspirou milhares de memes sobre obsessão por personagens virtuais.

A fidelidade gráfica e a capacidade de resposta desses personagens só deve melhorar

A fidelidade gráfica e a capacidade de resposta desses personagens só deve melhorar, imagine combinar a qualidade visual do Google Veo com um assistente virtual que passe no que chamo de Teste de Turing do Metaverso, descrito em detalhe no novo livro.

O PONTO DA SIMULAÇÃO

Tudo isso nos aproxima do que chamo de ponto da simulação, um conceito que criei como uma espécie de singularidade tecnológica. É o momento em que conseguiremos criar mundos virtuais indistinguíveis da realidade física, com seres indistinguíveis de seres biológicos ou seja, seremos capazes de criar algo como Matrix, com cenários realistas, avatares e personagens de IA.

Para entender por que esse avanço aumenta a probabilidade de já estarmos em uma simulação, podemos nos basear no argumento de Nick Bostrom (2003). Ele apresenta três possibilidades para civilizações tecnológicas:

Nenhuma alcança o ponto da simulação (por autodestruição ou limitação técnica). Algumas chegam, mas decidem não criar simulações sofisticadas.

Quase certamente estamos vivendo em uma simulação.

Se uma civilização avançada pode criar mundos simulados com o clique de um botão, cada um com bilhões ou trilhões de seres simulados, então o número de seres simulados excederia em muito o número de seres reais. Estatisticamente, é muito mais provável sermos simulados do que biológicos.

ESTIMATIVAS VARIADAS

Bostrom, em seu cálculo inicial, não atribuiu uma porcentagem, mas considerou uma de três possibilidades (33,3%) e depois chegou a cerca de 20%. Elon Musk, em 2016, estimou que a chance de estarmos na “realidade-base” era de uma em bilhões. Neil deGrasse Tyson disse algo como 50%, e o cientista David Kipping, usando lógica bayesiana, chegou a número ligeiramente abaixo de 50%.

Musk se baseia na evolução dos videogames e projeta esse avanço para o futuro. No meu livro, apresento 10 etapas rumo ao ponto da simulação,  incluindo RV, RA, interfaces cérebro-computador, IA e outras tecnologias. É o progresso nesses frontes que me faz acreditar que estamos mais próximos desse ponto do que nunca.

No livro, argumento que nossa probabilidade de estar em uma simulação depende da capacidade de alcançar o ponto da simulação: se não chegarmos lá, a probabilidade cai a zero. Se for possível, a probabilidade aumenta proporcionalmente, descontando-se um pequeno fator de incerteza (pu).

Se já chegamos lá, podemos ter 99% de confiança. Mesmo sem ter chegado, a probabilidade (Psim) aproximar-se-á da nossa confiança em chegar lá (Psimpoint), menos pu:

Psim ≈ Psimpoint – pu

Com 100% de confiança e pu = 1, a probabilidade atinge 99%. Ou seja, se podemos chegar lá, então outra civilização provavelmente já chegou — e estamos em uma de suas simulações.

JÁ CHEGAMOS LÁ?

No livro, avalio que já percorremos mais de dois terços do caminho. Estou confiante de que chegaremos lá, os avanços atuais elevam a chance de alcançarmos o ponto da simulação para pelo menos 67%, e possivelmente acima de 70%.

Se considerarmos fatores da física digital e quântica, além de relatos místicos, experiências de quase-morte e psiconautas (como com DMT), nossa confiança de que vivemos em uma realidade virtual (e não física) seria ainda maior.

Mesmo sem esses relatos, a conclusão é inevitável: se podemos um dia criar algo como a Matrix, provavelmente alguém já o fez e podemos estar dentro dessa criação. É o avanço acelerado da IA que torna mais provável do que nunca que estejamos vivendo em algo virtual  como Matrix.


SOBRE O AUTOR

Rizwan Virk é pesquisador associado e doutorando em dimensões humanas e sociais da ciência e tecnologia na Universidade Estadual do Ar... saiba mais