Ouro, prata e platina: como aproveitar a alta dos metais

Com valorização expressiva nos últimos 12 meses, os ativos voltam a brilhar na carteira como investimentos de proteção

Ouro, prata e platina: como aproveitar a alta dos metais
SvetaZi via Getty images, Katie Harp via Unsplash

Márcia Rodrigues 4 minutos de leitura

Em um cenário global marcado por instabilidade econômica, tensões geopolíticas e as incertezas em relação à política externa com os Estados Unidos, os metais preciosos retomam o protagonismo nas carteiras de investimento. Nos últimos 12 meses, a platina acumulou valorização de cerca de 52%, o ouro subiu 42%, e a prata, 34%.

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O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

O fenômeno, segundo analistas, não é passageiro. “Estamos diante de um movimento estrutural, não apenas especulativo”, aponta Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.

A valorização desses ativos tem múltiplas causas. Segundo Fábio Murad, CEO da Super-ETF Educação, trata-se de uma resposta à inflação persistente, juros reais negativos e instabilidade geopolítica.

“Com a expectativa de novos estímulos monetários nos EUA e o aumento das tensões globais, ativos reais e escassos como ouro, prata e platina voltaram a atrair investidores institucionais e bancos centrais”, explica Murad.

Já para Vasconcellos, a combinação de fatores vai além. Inclui ainda o déficit de oferta no mercado de prata e platina, além de um forte movimento de compra de ouro por parte dos bancos centrais como um dos principais impulsionadores do ciclo atual.


COMO INVESTIR EM OURO, PRATA E PLATINA

A boa notícia para o investidor brasileiro é que há diversas formas de acessar esses ativos — inclusive com aportes baixos.

O sócio da Equus Capital sugere começar por ETFs (Exchange Traded Funds ou Fundos de índices, em português) americanos, que replicam diretamente os preços dos metais e estão disponíveis na B3, a bolsa de valores brasileira.

Há ainda os BDRs (Brazilian Depositary Receipt, que são certificados de depósito de valores mobiliários emitidos e negociados no Brasil), como GOLD11, SLV e PPLT. “Hoje, é possível começar com menos de R$ 100 e ter proteção real contra riscos maiores do sistema”, diz.

Outras opções incluem:

  • Fundos de investimento com exposição a metais;
  • Contratos futuros na B3; e
  • Compra física de ouro via corretoras ou bancos autorizados.

Para quem quer exposição direta e eficiente, o ideal é abrir conta em uma corretora internacional e comprar ETFs como GLD ou SLV, avalia Murad. “Com apenas US$ 100, qualquer brasileiro pode acessar esses ativos de forma prática e com custo baixo”, afirma.

ETFS, FUNDOS OU FUTUROS: COMO ESCOLHER?

A escolha do veículo de investimento depende do perfil e conhecimento do investidor. O CEO da Super-ETF Educação destaca que ETFs são mais líquidos, transparentes e baratos, sendo a melhor porta de entrada para a maioria das pessoas.

Para entender a diferença:

  • ETFs/BDRs: são práticos, replicam o preço dos metais, têm boa liquidez e podem ser comprados na Bolsa.
  • Fundos locais: trazem gestão profissional, diversificação e estratégia de proteção, mas sofrem com a burocracia tributária brasileira e taxas com taxas.
  • Contratos futuros: exigem maior conhecimento técnico, alocação de margem e têm alta volatilidade. São mais indicados para investidores experientes.

FUNDOS MULTIMERCADO PARA INVESTIR EM METAIS

Os investidores têm entre as opções fazeros aportes por meio dos fundos multimercado. Segundo ambos os especialistas, os ativos já incorporam exposição a metais, principalmente ouro, ainda que de forma indireta e com pouca transparência para o cotista. Para quem busca simplicidade e baixo custo, os ETFs continuam sendo a forma mais direta.

Para o sócio da Equus Capital, os metais são indicados para quem busca diversificação de carteira, proteção cambial e segurança em períodos de instabilidade. A recomendação vale tanto para perfis conservadores quanto para os mais arrojados.

Murad reforça: “Metais como ouro e prata funcionam como hedge político e institucional, principalmente para quem vive em países como o Brasil, sujeitos a volatilidade cambial e incertezas locais”.

Hedge seria uma espécie de proteção patrimonial, uma estratégia usada para reduzir riscos financeiros.

A alocação ideal depende do perfil e do cenário macroeconômico. Ambos os especialistas sugerem entre 5% e 15% da carteira internacional. “A ideia não é apostar tudo, mas usar os metais como contrapeso às oscilações de outros ativos”, resume Vasconcellos.

DIFERENÇAS ENTRE OURO, PRATA E PLATINA

Nem todo metal precioso é igual. Segundo o CEO da Super-ETF Educação, o ouro é o mais estável e amplamente reconhecido como reserva de valor. A prata, com forte uso industrial em tecnologia e energia solar, tende a ser mais volátil. A platina, usada em catalisadores automotivos e células de hidrogênio, é ainda mais sensível à atividade econômica global.

Platina e prata têm mais risco, mas também maior potencial de retorno, acompanhando ciclos de inovação”, avalia Vasconcellos.

A ALTA AINDA TEM FÔLEGO?

Apesar do rally já ter começado, com uma alta acumulada de valorização, ainda dá para aproveitar os potenciais desses metais. Ambos os especialistas enxergam espaço para mais valorização no médio e longo prazo, impulsionada por déficits de oferta, demanda por segurança e uso industrial crescente.

“O ciclo ainda parece em fase inicial. A combinação de juros reais baixos, déficits públicos crescentes e enfraquecimento do dólar como moeda de reserva cria um cenário estruturalmente favorável aos metais”, afirma Murad.

CENÁRIO GLOBAL SEGUIRÁ INFLUENCIANDO

E o que esperar dos próximos meses? Para Vasconcellos, a influência de fatores internacionais continuará forte. “As próximas eleições americanas, o redesenho das cadeias de suprimento e a tensão crescente no comércio global vão manter os metais em destaque”, afirma.

Murad concorda: “Conflitos no Oriente Médio, desaceleração na China e cortes de juros por parte dos bancos centrais só devem reforçar o papel dos metais como porto seguro em tempos turbulentos”.


SOBRE A AUTORA

Márcia Rodrigues é jornalista especializada em economia e empreendedorismo. Vegetariana e apaixonada pela defesa de causas sociais, am... saiba mais