Câmeras de IA em ônibus prometem acabar com atrasos no transporte público
Tecnologia já está em uso em algumas cidades dos EUA

A cidade da Filadélfia, nos EUA, instalou recentemente câmeras com inteligência artificial em ônibus para flagrar motoristas que invadem ou estacionam em faixas exclusivas. Soluções como essa são fundamentais porque muitas pessoas ainda sofrem do chamado “cérebro de carro” – a mentalidade de sempre priorizar o uso de automóveis.
As cidades convivem há décadas com um problema irritante: carros estacionados de forma ilegal que bloqueiam as faixas de ônibus, aumentam o tempo de viagem e afastam passageiros do transporte coletivo. Pesquisas mostram que essas obstruções elevam os atrasos em 20% a 30% nos horários de pico.
Agora, com câmeras instaladas diretamente nos ônibus, é possível resolver isso em tempo real. Usando visão computacional e aprendizado de máquina, os sistemas identificam os infratores e emitem multas automaticamente, sem os altos custos – e a baixa confiabilidade – da fiscalização humana.
COMO FUNCIONA
Diferente das câmeras convencionais, os sistemas de IA se adaptam a mudanças constantes de luz, clima e situações inesperadas que fazem parte do ambiente urbano. Além de manter as faixas livres, a tecnologia gera dados para otimizar rotas, diminuir o tempo parado em semáforos e melhorar a eficiência geral da rede – fortalecendo o transporte multimodal que conecta ônibus, bicicletas, pedestres e carros.
A SEPTA (Autoridade de Transporte do Sudeste da Pensilvânia) e a PPA (Autoridade de Estacionamento da Filadélfia) lançaram a Iniciativa de Fiscalização Automatizada em abril de 2025. Mais de 150 ônibus e bondes foram equipados. Após um período de adaptação de 30 dias, começaram a aplicar multas de US$ 100. E os resultados apareceram rápido: menos bloqueios e mais ônibus chegando no horário.
Na Costa Oeste, a Autoridade de Transporte de Los Angeles implementou uma tecnologia semelhante no início de 2025. Agentes de trânsito analisam as imagens, confirmam as infrações e emitem as autuações. Só nos primeiros meses, foram 10 mil multas registradas. O efeito foi claro: a velocidade dos ônibus aumentou em até 36% e os acidentes caíram 34%. Um lembrete de que manter as faixas exclusivas livres beneficia não apenas os passageiros, mas todos os usuários da via.
VIAGENS MAIS RÁPIDAS
Além da Filadélfia e de Los Angeles, cidades em todo o país que adotaram a fiscalização automatizada registraram reduções de 10% a 30% no tempo de viagem dos ônibus. Em testes iniciais, Chicago e Nova York observaram ganhos de até 25% em velocidade durante os horários de pico. Ônibus mais rápidos atraem mais passageiros e reduzem a quantidade de carros nas ruas.
Em Nova York, as informações ajudaram a ajustar os semáforos, reduzindo atrasos em 5% em corredores estratégicos
Os sistemas de IA também oferecem dados em tempo real sobre padrões de tráfego, pontos críticos de infrações e gargalos de infraestrutura. Em Nova York, as informações ajudaram a ajustar os semáforos, reduzindo atrasos em 5% em corredores estratégicos. Já a SEPTA, na Filadélfia, está testando o roteamento dinâmico – em que os ônibus mudam de trajeto com base nos níveis de congestionamento em tempo real.
Outro ponto forte é a escalabilidade. Washington, D.C. e São Francisco planejam lançar seus próprios programas até o fim de 2025, com a intenção de compartilhar dados regionalmente. Isso pode levar a sistemas de transporte integrados, funcionando de forma coordenada entre cidades vizinhas.
OS DESAFIOS
É claro que existem desafios. É natural a preocupação com o uso de dados das placas de veículos e com o valor das multas. Para lidar com isso, as cidades têm limitado a retenção das informações a 30 dias, anonimizado os dados de não infratores e promovido campanhas educativas sobre o sistema. Mas existe uma forma simples de evitar multas: não estacionar na faixa de ônibus.
Assim como os radares de velocidade e de avanço de sinal, a fiscalização automatizada deve se tornar parte essencial de um sistema de transporte multimodal eficiente. Quando o serviço é pontual e confiável, mais pessoas deixam o carro de lado e escolhem o transporte coletivo.
Vale lembrar: um sistema de ônibus bem planejado funciona como uma “calçada expressa” – uma infraestrutura que amplia consideravelmente o número de destinos acessíveis a pé. Precisamos parar de enxergar o ônibus apenas como um programa social e começar a tratá-lo como essa calçada expressa que conecta as pessoas ao que precisam.