Quando a inovação cansa: o dilema de sempre buscar o novo

Quando a inovação cansa: o dilema de sempre buscar o novo
Créditos: BlackJack3D ePaul Campbell via Getty images

Genesson Honorato 2 minutos de leitura

Vivemos num tempo em que tudo precisa ser novo o tempo todo.

Nova ideia. Nova trend. Nova buzzword. Nova estrutura organizacional com nome em inglês e promessas de disrupção.

É como se o mundo tivesse sido tomado por uma ansiedade crônica de reinvenção. Uma inquietação que transforma qualquer método em moda passageira, qualquer conceito em slide superado.

O velho não tem tempo de amadurecer. Já virou ultrapassado.

Mas será que essa obsessão pelo novo não está nos impedindo de aprofundar o que já funciona? Será que não estamos jogando fora ferramentas sólidas, ideias úteis e teorias relevantes apenas porque elas não carregam mais a aura do ineditismo?

Penso muito nisso quando falo da pirâmide de Maslow. Criada há 82 anos, ela ainda diz muito sobre os desejos e dilemas que enfrentamos hoje. E, mesmo assim, vira e mexe aparece alguém dizendo que, se tem mais de um ano, já “está ultrapassada”.

O mesmo acontece com a análise SWOT, nascida nos anos 1960. Ou com o Design Thinking. Ou com o modelo Spotify. São ferramentas que abriram caminhos e que, por isso mesmo, talvez merecessem ser revisitadas, não descartadas.

Mas, no culto à inovação, tudo que envelhece vira suspeito.

Como se o novo, só por ser novo, carregasse em si um valor automático. Como se profundidade tivesse sido substituída por velocidade. Como se aprender algo fosse menos interessante do que anunciar que “não se usa mais”.

Queremos parecer novos o tempo todo. Mas, como diria Belchior, talvez ainda sejamos os mesmos, vivendo como os nossos pais. Só que agora com um novo framework embaixo do braço.

O problema é que essa pressa nos rouba algo essencial: o tempo de maturação. Pulamos de metodologia em metodologia como quem troca de aba no navegador. E seguimos girando, sem aprofundar, sem consolidar, sem transformar de verdade.

Inovar é necessário. Mas inovar o tempo todo, a qualquer custo, pode ser só um jeito disfarçado de evitar o incômodo de fazer bem feito agora. De repetir. De praticar. De aprender com intencionalidade.

Às vezes, o que chamamos de “obsoleto” é apenas algo que ainda não foi vivido com profundidade. E o que chamamos de “novo” é só a reinvenção apressada de algo que ainda não tivemos tempo de compreender por inteiro.

Inovar cansa. Porque exige energia, ruptura, adaptação. E talvez o nosso cansaço com a inovação não venha da necessidade de inovar, mas da angústia de parecer que estamos usando o modelo errado, algo “ultrapassado”. É o FOMO dos frameworks.

Talvez o verdadeiro diferencial agora não esteja em quem adota o próximo método antes de todo mundo, mas em quem permanece tempo suficiente para extrair valor daquilo que já tem.

Porque o novo de verdade não é o que chega mais rápido. É o que permanece depois que o hype passa.

Até a próxima.


SOBRE O AUTOR

Genesson Honorato é psicólogo com olhar para a psicanálise, tem formação em Marketing e Design Digital pela ESPM e MBA em inovação pel... saiba mais