Como a IA tem mudado seu Pix? Pagamento por áudio na era do WhatsApp

Startups investem no desenvolvimento de serviços que vão do pagamento de conta até o planejamento financeiro pelo aplicativo de mensagens instantâneas

Como a IA tem mudado seu Pix? Pagamento por áudio e a nova era das finanças no WhatsApp
Meta

Paula Pacheco 6 minutos de leitura

Não dá para duvidar do sucesso do Pix entre os brasileiros. Este já é o meio de pagamento mais popular por aqui. Também é sabido, segundo o próprio fundador da Meta, Mark Zuckerberg, que o Brasil lidera a lista entre os países com usuários do WhatsApp que mais enviam figurinhas e mensagens de voz.

Agora, junte isso tudo e imagine as oportunidades de negócio impulsionadas pelo uso da Inteligência Artificial (IA). Além de bancos e instituições financeiras, algumas startups decidiram mirar justamente aí para desenvolver seus produtos. Entre os mais populares está o Pix feito por áudio via WhatsApp.


“OI, QUERO FAZER UM PIX PELO WHATS”

A Magie é uma das startups que tem investido em soluções financeiras que passam pelo WhatsApp e pela IA. Luiz Ramalho, cofundador e CEO, conta que no início de 2023, o movimento de agentes de IA chamou a atenção para a possibilidade de uso no cuidado do dinheiro das pessoas.

Naquele momento, o Pix já vinha se consolidando entre as preferências nacionais e o Brasil já contava com o Open Finance – o sistema bancário aberto que permite o compartilhamento de dados bancários pessoais. “Pareceu natural começarmos pelo WhatsApp e na busca de formas de possibilitar que as pessoas resolvessem tudo por meio de mensagens”, explica Ramalho.

Em abril de 2024, a startup passou a operar oficialmente e a oferecer operações como Pix por mensagem de WhatsApp, por meio de voz, imagem ou texto, e pagamento de boletos. A IA ajuda não só na integração das plataformas, mas na interpretação dos comandos de execução dessas operações, inclusive áudios encaminhados por outras pessoas.

Para serviços como esse, o cliente tem de abrir uma conta (gratuita) on-line com filtros de segurança como a biometria facial. É possível fazer transações apenas via Magie (pessoa física ou jurídica) ou integrar contas de outros 12 bancos no ambiente do Open Finance por meio de autorização.

R$ 1 BILHÃO EM TRANSAÇÕES EM UM ANO

Em cerca de um ano de operação, a Magie já registrou cerca de R$ 1 bilhão de transações em sua plataforma. Apesar da possibilidade de uso de recursos com mensagem de áudio, o ponto de partida sempre é o reconhecimento facial e o uso da senha para se logar à plataforma. Em caso de valores elevados, a plataforma de integração financeira pode pedir a confirmação de dados como forma de reduzir as chances de golpe.

A maior parte das operações usa o WhatsApp, mas os clientes da Magie também podem utilizar o aplicativo da startup, o que minimiza o risco de ficar sem acesso às operações em caso de intermitência do app de mensagens da Meta.

Por ora, depois de receber duas rodadas de investimento, a Magie não tem planos de cobrar pelas transações. No futuro, segundo Ramalho, podem surgir novas frentes de negócios. Por exemplo, a recomendação de produtos financeiros, inclusive de bancos.

Para Ramalho, não há conflito de interesse entre a startup e as instituições financeiras. “A principalidade do banco do cliente segue como decisão dele. O que oferecemos a possibilidade de interface, somos facilitadores. Mas, com a expansão do Open Finance, o papel da principalidade terá de ser repensado”, avalia o fundador da Magie.

De acordo com Ramalho, a startup, apesar de pouco tempo de mercado, já tem conseguido aproveitar o crescimento do Open Finance. No mês passado, do total de transações do sistema aberto no Brasil – cerca de 1 bilhão -, 3% vieram da Magie.

ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA VIA WHATSAPP

A startup JOTA, fundada em 2025, também viu no WhatsApp a possibilidade de se posicionar no mercado brasileiro como uma plataforma de serviços financeiros. O desafio era semelhante ao da Magie: juntar os recursos do WhatsApp ao Pix com a IA como viabilizadora.

“Nascemos a partir do desenvolvimento de uma tecnologia para levar às pessoas a uma experiência diferente de como se relacionam com o dinheiro delas”, sintetiza Marcelo Leite, um dos fundadores do JOTA. A ideia é trazer transações financeiras para um contexto de software e de gestão, completa.

O que os fundadores do JOTA esperam é disponibilizar progressivamente aos clientes um assistente pessoal e financeiro 100% dentro do WhatsApp com cada vez mais serviços, tanto para a pessoa física quanto para empresas com faturamento de até R$ 300 mil por mês.

Como as evoluções em IA são muito rápidas, explica o fundador do JOTA, as atualizações das ferramentas seguem na mesma velocidade. Com isso, Leite acredita que não deve demorar muito até que o usuário tenha mais serviços da agenda de compromissos, com envio de documentos, reuniões, pagamentos que vão vencer, fazer a organização de finanças de cobranças/recebíveis.

Será possível trabalhar, por exemplo, com os dados da fatura do cartão de crédito. Isso vai permitir ter mais atenção com despesas simples, como os gastos com o aplicativo de entrega de refeições, até os lançamentos da PJ.

IA GUIA EXPANSÃO DE SERVIÇOS

Se tem startups que atuam diretamente na ponta, na oferta de serviços para o cliente final, há aquelas que miram os fornecedores de serviços financeiros. É o caso da Botmaker.

Erick Buzzi, country manager da operação no Brasil, conta que a startup surgiu do encontro de um grupo de engenheiros e empreendedores argentinos e brasileiros (com passagens por Google e Facebook). Em 2015, alguns amigos se reuniram para analisar o mercado e concluíram que os chats iam ser cada vez mais usados para comunicação.

Em 2016, explica Buzzi, a ideia avançou. Naquele momento, um piloto seria testado na marca El Noble Repulgue. O projeto tinha o objetivo de atender pedidos de empanadas via Facebook Messenger.

“O piloto deu certo e logo surgiram novas ideias, mais clientes e até outros canais de texto e voz. Aliás, a ideia inicial de que o WhatsApp seria o canal de chat mais usado no mundo também se tornou realidade”, relembra o country manager.

ATENÇÃO AOS SERVIÇOS FINANCEIROS

Hoje, a Botmaker atua também em serviços financeiros, com clientes no Brasil e na América Latina, como bancos, cooperativas, carteiras digitais e seguradoras. A empresa se posiciona como uma plataforma de desenvolvimento de agentes de IA. Ela trabalha em parceria com bancos e empresas de serviços financeiros para que possam oferecer soluções conversacionais. Não há prestação de serviços diretamente para os usuários finais. A Botmaker capacita as instituições financeiras a construí-los e escalá-los para seus clientes.

O setor financeiro representa a principal vertical de negócios da Botmaker. A empresa percebeu que muitos dos clientes do segmento já utilizavam canais conversacionais para aprimorar o relacionamento com seus usuários, seja no atendimento.

“Vimos, então, que havia um espaço para ir além e aplicar a IA diretamente em soluções financeiras, apoiando desde a personalização de ofertas, a jornada de compra e até a automação de processos”, explica o executivo da Botmaker.

Uma das inovações recentes da Botmaker é a funcionalidade de pagamentos via WhatsApp, que permite que empresas aceitem Pix, cartões de crédito e boletos diretamente no canal. A solução oferece a jornada completa de compra dentro do aplicativo, o que, segundo o executivo, garante conveniência, segurança e rapidez, além de integrar os sistemas de pagamento existentes das empresas.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais