5 palavras que mostram o cansaço do público com a IA em 2025

Segundo dados da YouGov de julho, cresce a percepção de que a IA será ruim para os humanos

5 palavras que mostram o cansaço do público com a IA em 2025
Créditos: Jolygon via Getty images

Michael Grothaus 4 minutos de leitura

Enquanto Sam Altman, Elon Musk e outros líderes da indústria não param de exaltar as maravilhas da inteligência artificial, um número cada vez maior de usuários comuns está formando uma opinião bem diferente.

Segundo dados da YouGov de julho, cresce a percepção de que a IA será ruim para os humanos. Especificamente, 43% dos americanos dizem temer que a IA acabe com a raça humana (alta de 6 pontos em relação a março), e 47% acreditam que o impacto líquido da tecnologia na sociedade será negativo (alta de 7 pontos desde março).

Com essa onda de pessimismo, surgiram também novos xingamentos e gírias que capturam as conotações negativas ligadas à IA,

1. IA WASHING

Não, a IA ainda não encontrou uma forma de lavar sua roupa enquanto você pinta quadros. Quando alguém fala em AI washing, está se referindo a uma prática de marketing enganosa em que empresas exageram o papel da IA em seus produtos ou serviços.

O termo vem de “greenwashing”, usado para descrever companhias que vendem uma imagem ambientalmente responsável sem sê-lo de fato. Qualquer empresa pode ser acusada de AI washing se mentir ou distorcer a importância da IA em suas soluções — algo comum nos setores de tecnologia e finanças. Tanto que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) já alertou publicamente contra a prática.

“AI washing, seja feito por intermediários financeiros como consultores de investimento e corretoras, ou por empresas que buscam captar recursos do público, pode violar a lei de valores mobiliários”, alertou o então presidente da SEC, Gary Gensler, em 2024. O governo Trump também parece estar endurecendo contra essa prática, segundo análise do blog SECond Opinions, do escritório Holland & Knight.

Se alguém é chamado de AI washer, significa que está sendo acusado de vender um produto que depende muito menos de IA do que afirma.

2. CLANKER

Esse é o insulto mais recente da lista e sua popularidade explodiu nos últimos meses. “Clanker” é um termo depreciativo para robôs, que vem do universo fictício de Star Wars, onde os dróides são tratados como cidadãos de segunda classe.

Agora, porém, a palavra vem sendo usada para descrever não apenas robôs físicos, mas também sistemas de IA que ameaçam empregos ou afastam conexões humanas. Um exemplo clássico é o chatbot usado em centrais de atendimento: “Liguei para o banco para perguntar meu saldo, mas tive que falar com um clanker em vez de um humano.”

3. GROCKSUCKER 

Enquanto clanker é usado contra sistemas de IA, outros xingamentos surgiram para rotular os humanos que se envolvem demais com certos chatbots. O mais visceral deles é “Groksucker” (não é difícil imaginar com qual palavrão em inglês ele se parece).

O termo vem do Grok, chatbot da startup xAI, de Elon Musk. O próprio Grok define assim: “pessoas que interagem comigo de forma frequente, repetitiva ou irritante”. O apelido também remete a preocupações sobre privacidade e uso excessivo de IA no X (ex-Twitter).

Em geral, a palavra fica restrita a usuários do Grok. Para quem depende demais do ChatGPT, existe outro termo: slopper.

4. SLOP

Se há uma palavra que se tornou sinônimo de conteúdo gerado por IA, é slop.

O termo descreve produções de baixa qualidade e em grande volume que tomam conta dos feeds digitais: desde as imagens bizarras do “Shrimp Jesus” no Facebook e no Instagram até vídeos inteiramente feitos por IA no YouTube, com roteiros, imagens e miniaturas automáticas, que acabam sufocando criadores humanos. Slop também é artigo escrito por máquina em vez de jornalista.

Esse excesso está dando força a uma teoria antes considerada conspiratória, a do “internet morta”, segundo a qual boa parte do conteúdo online não é mais produzido por pessoas reais.

O slop já está em todo lugar e tende a aumentar.

5. SLOPPERS 

Por fim, não dá para deixar de fora a gíria usada para descrever pessoas que dependem demais do ChatGPT. O termo é “sloppers”.

A palavra ganhou popularidade depois que um vídeo no TikTok viralizou. Nele, o usuário @intrnetbf dizia que um amigo havia inventado o termo para definir “gente que usa o ChatGPT para tudo”.

Um slopper é alguém que terceiriza quase todos os processos cognitivos para a IA: desde planejar a noite, responder uma mensagem da família ou até tomar decisões importantes, como pedir demiss

O PESO DOS APELIDOS 

Por mais que esses termos soem engraçados, o fato de entrarem no vocabulário popular preocupa empresas de IA. Quando surgem apelidos depreciativos para produtos, tecnologias e seus usuários, isso costuma indicar que a percepção pública está virando para o lado negativo.

Foi o que aconteceu com o “glasshole”, usado contra os primeiros usuários do Google Glass — e que ajudou a enterrar o produto.

Claro, a inteligência artificial é muito mais ampla e transformadora do que o Google Glass. Mas esse vocabulário emergente reforça o que as pesquisas já apontam: a sociedade está cada vez mais desconfiada da tecnologia — e não tem medo de dizer isso em voz alta.


SOBRE O AUTOR

Michael Grothaus é escritor, jornalista, ex-roteirista e autor do romance "Epiphany Jones". saiba mais