O telefone fixo voltou (e as crianças estão adorando)

Do charme retrô a conversas mais seguras, estes aparelhos antigos estão ajudando famílias a repensar como seus filhos se comunicam com os amigos

O telefone fixo voltou (e as crianças estão adorando)
Créditos: Lata

Chris Morris 3 minutos de leitura

Hoje, a comunicação acontece basicamente de duas formas: por smartphones ou por redes sociais. Crianças pequenas, no entanto, raramente têm acesso a esses meios – e especialistas recomendam que isso não aconteça antes dos 13 anos.

Isso acaba fazendo com que os pais tenham que controlar a vida social dos filhos. Mas uma solução analógica promete mais independência às crianças: o telefone fixo.

Antes considerado ultrapassado, o telefone residencial está voltando. A startup Tin Can, com sede em Seattle, nos EUA, quer liderar esse retorno com um modelo com fio repaginado, que permite às crianças ligar para os amigos e marcar encontros – sem depender dos pais e sem os riscos e distrações de um smartphone, como aplicativos de mensagem, câmeras ou acesso à internet.

A ideia surgiu enquanto o fundador, Chet Kittleson, conversava em um parque com outros pais de crianças em idade escolar. “Todos disseram: ‘eu tinha até esquecido que usava um telefone fixo quando era criança’. A gente lembra dele como algo de adulto, mas esquece que as crianças eram as grandes beneficiadas”, contou ele ao site “Seattle’s Child.

Os aparelhos da Tin Can, que custam US$ 75, contam com design inspirado nos modelos clássicos dos anos 1980. Como poucas casas ainda possuem linha telefônica, eles funcionam por VoIP e se conectam ao roteador ou a uma entrada de internet – uma versão com Wi-Fi já está em desenvolvimento. Por serem com fio, as crianças não podem circular livremente pela casa, e os pais conseguem controlar os horários de uso pelo aplicativo da Tin Can.

Em vez de números convencionais, cada aparelho tem um código exclusivo de cinco dígitos para que as crianças liguem umas para as outras. Não há mensalidade. Em breve, uma atualização permitirá chamadas para números comuns – e serviços de emergência – por US$ 10 por mês.

Kittleson não é o único a redescobrir os telefones fixos. Em março, uma mãe compartilhou no Instagram que instalou um em casa para os filhos. A publicação já recebeu mais de 137 mil curtidas, com dezenas de pais dizendo que fizeram o mesmo.

Ela e o marido perceberam que seus filhos estavam tão acostumados com o FaceTime que não sabiam conduzir uma conversa por telefone. Também queriam que eles pudessem ligar para familiares sem precisar pedir emprestado seus celulares.

“Meu marido e eu resolvemos trazer de volta algo que tínhamos quando crianças: um telefone fixo em casa. Nossos filhos estão adorando e amam ligar para a avó sozinhos”, escreveu ela.

É claro que os telefones fixos também têm seus riscos. Mais da metade das chamadas recebidas vêm de golpistas, que costumam ter como alvo idosos – um grupo que ainda utiliza esse tipo de aparelho. Assim como nos anos 1980, as crianças precisam ser ensinadas a não atender números desconhecidos.

O que surpreende muitos pais, no entanto, não é só o entusiasmo de seus filhos pequenos. É que os mais velhos também estão gostando da ideia.

Esses aparelhos despertam a mesma nostalgia que as fitas cassete. Para a geração Z, eles são uma alternativa sem tela, que estimula conversas reais, sem emojis, e ajuda a criar laços mais fortes. Sem falar que o fio continua sendo divertido de enrolar nos dedos.

Mas isso não significa que os smartphones correm o risco de perder espaço. Um estudo recente do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde dos Estados Unidos mostrou que, no segundo semestre de 2024, 78,7% dos adultos viviam em casas sem telefone fixo.

No fim de 2014, esse número era de apenas 44,2%.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é jornalista, escritor, editor e apresentador especializado em tecnologia, games e eletrônicos. saiba mais