Sua mente está cheia de abas abertas? O preço disso é mais alto do que parece

O verdadeiro custo de alternar entre tarefas não é apenas o tempo perdido. É a erosão do pensamento amplo e profundo de que todos precisamos para identificar padrões, explorar ideias e criar inovações.

Sua mente está cheia de abas abertas? O preço disso é mais alto do que parece
Crédito: Fast Company Brasil

Tony Martignetti 4 minutos de leitura

Quantas abas estão abertas no seu navegador agora? E no seu cérebro? Para a maioria dos líderes, a resposta é a mesma: muitas.

Eu sei bem como é, criar experiências de desenvolvimento organizacional, orientar executivos, escrever livros, apresentar um podcast e, ao mesmo tempo, lidar com as demandas do dia a dia de um negócio. Minha agenda se transforma em um mosaico de reuniões de 30 minutos, entregas urgentes e notificações constantes. Eu repetia para mim mesmo que prosperava com a variedade, mas, na verdade, estava fragmentando minha atenção. E aqui está a lição que aprendi: o verdadeiro custo de alternar mentalmente entre tarefas não é só tempo. É a perda do espaço mental necessário para enxergar padrões, mergulhar em ideias e criar algo novo.

Pesquisas da American Psychological Association indicam que alternar entre atividades pode levar a uma perda de até 40% do tempo produtivo, devido ao “custo de transição” para se reorientar em um novo contexto. Gloria Mark, autora de Attention Span, descobriu que, depois de uma distração, levamos em média 23 minutos e 15 segundos para retomar o foco total na tarefa inicial. E um estudo da Universidade de Stanford revelou algo ainda mais preocupante: pessoas que fazem muito multitarefa têm mais dificuldade para filtrar informações irrelevantes e se distraem com mais facilidade. Quanto mais você alterna, mais o cérebro começa a tratar tudo como igualmente urgente — e mais difícil fica priorizar o que realmente importa.

POR QUE ISSO IMPORTA PARA LÍDERES

Alternar mentalmente entre tarefas é um imposto sobre a moeda mais valiosa da liderança: a clareza. Quando sua atenção está fragmentada, você entra no modo reativo — respondendo ao próximo alerta, ao próximo problema, à próxima pergunta.

Pensar estrategicamente, ser criativo e ter visão de longo prazo exige um tipo de pensamento expansivo: tempo e espaço para explorar ideias sem a pressão de agir imediatamente. No meu trabalho com executivos, vejo isso o tempo todo. Um CEO me disse: “Estou tão ocupado apagando incêndios que não olho para o nosso plano de três anos há meses”. Outra líder comentou que se sente mais criativa durante caminhadas de fim de semana, quando o cérebro tem liberdade para divagar e criar novas conexões.

Quando sua atenção está fragmentada, você entra no modo reativo

Eu sempre acreditei que a variedade era minha força criativa — seja ao planejar um encontro da equipe, pintar ou conduzir sessões de coaching profundo. Mas existe uma diferença entre a polinização cruzada, que acontece quando você intencionalmente conecta ideias de diferentes áreas, e o “chicote cognitivo”, que ocorre quando você muda de foco tão rápido que não consegue se aprofundar em nada.

ESTRATÉGIAS PRÁTICAS PARA REDUZIR AS MUDANÇAS MENTAIS

Muitos líderes acreditam que a única forma de produzir mais é trabalhar mais, lotar a agenda e ficar “sempre ligados”. Mas os verdadeiros avanços raramente surgem quando sua mente está correndo de uma demanda para outra. Criar espaço mental não é trabalhar menos: é criar as condições certas para que o foco floresça. É nesse estado — sem pressa, sem distrações, totalmente presente — que surgem os melhores insights.

Aqui estão algumas estratégias práticas para criar esse espaço:

1. Auditoria de abas. Uma vez por dia, feche todas as abas do navegador. Reabra apenas as que você realmente precisa para o próximo bloco de foco. Esse reset visual sinaliza ao cérebro que é hora de começar de novo, com mais intenção.

2. Agrupamento de contexto. Organize tarefas semelhantes juntas. Reserve um meio período para todas as reuniões individuais. Dedique uma tarde ao trabalho estratégico. Agrupar tarefas relacionadas melhora a performance e reduz o cansaço.

3. Pausas estratégicas. Antes de mudar de atividade, tire 60 segundos para anotar onde parou. Essa “marca mental” ajuda o cérebro a liberar a tarefa atual e retomar o trabalho com mais agilidade depois.

Pensamento expansivo não é luxo; é necessidade

4. Check-in semanal de inspiração. Uma vez por semana, reserve de 60 a 90 minutos para uma sessão de reflexão pessoal — um momento estruturado para se afastar do ruído e se reconectar com o que realmente importa. Eu costumo usar perguntas específicas para refletir, visualizar e agir sobre minhas prioridades. Ao final, escolho um único movimento iluminador para a semana seguinte. Líderes com quem trabalho dizem que esse ritual não só reduz a bagunça mental, mas também abre espaço para conexões criativas que não surgem em meio a reuniões sucessivas.

Pensamento expansivo não é luxo; é necessidade. Sem ele, você não conduz o barco — só tenta evitar que ele afunde.

Por isso, aqui vai um desafio: faça uma auditoria das suas “abas mentais” nesta semana. Feche as que puder e organize o restante. Proteja o espaço do seu pensamento mais importante. As abas sempre estarão lá, mas os grandes insights? Eles precisam de espaço para respirar e ganhar forma.

É nesse espaço que a estratégia ganha clareza, a criatividade pega fogo e a liderança evolui de reativa para protagonista. Defenda esse espaço com a mesma prioridade que qualquer reunião da sua agenda, porque seu próximo grande salto dificilmente virá de uma mente sobrecarregada.


SOBRE O AUTOR

Tony Martignetti é chief inspiration officer na Inspired Purpose Partners e autor do livro "Climbing the Right Mountain: Navigating th... saiba mais