A Selic vai cair? Veja quais investimentos manter e quais reduzir na carteira
Analistas divergem sobre o ritmo da queda da taxa básica de juros e apontam como ajustar seu portfólio entre renda fixa, variável e ativos alternativos

A Selic (taxa básica de juros), hoje a 15% ao ano, segue como um dos principais pontos de atenção para investidores brasileiros. Após um longo ciclo de aperto monetário, começam a surgir análises sobre a possibilidade de cortes nos próximos meses. Mas, afinal, quais são os sinais que o mercado observa e como ajustar a estratégia de investimentos diante desse cenário?
HÁ ESPAÇO PARA CORTES NA SELIC?
Para Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, a chance de redução da Selic ainda é moderada, mas crescente. Ele avalia que a inflação vem dando sinais de arrefecimento. Segundo o Relatório Focus divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (25), a estimativa para o IPCA (inflação oficial do país) no ano passou de 5,09% há quatro semanas para 4,86%.
Caso parte dos produtos antes exportados para os Estados Unidos permaneça no mercado interno, pode haver uma redução pontual de preços. Isso abriria espaço para cortes graduais pelo BC. Ainda assim, ressalta que a incerteza fiscal e o cenário externo exigem cautela.
Já José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, tem uma visão mais conservadora. Ele lembra que, apesar da melhora em alimentos e bebidas, a inflação de serviços segue em níveis elevados, pressionada por um mercado de trabalho apertado e crescimento dos salários. “Com desemprego em 5,8% e aumento do ritmo salarial, não vejo a Selic caindo nos próximos meses”, afirma Alfaix.
QUAIS INDICADORES OBSERVAR?
Segundo Patrus, o foco está nos principais índices de inflação, como IPCA e IPCA-15, além dos núcleos, câmbio e preços de commodities. “O comportamento da política comercial dos EUA também é relevante, pois oscilações do dólar impactam diretamente os preços internos”, diz ele.
Alfaix destaca, em especial, os núcleos de serviços. Para o economista da Rio Bravo Investimentos, são esses indicadores que mostram de forma mais clara a ação da política monetária. Ele acrescenta que a média dos cinco principais núcleos do Banco Central é um termômetro importante, assim como a trajetória do câmbio, que recentemente deu fôlego às expectativas de cortes.
O IMPACTO DE PRODUTOS DIRECIONADOS AO MERCADO INTERNO
A possibilidade de que parte das exportações seja redirecionada para o mercado doméstico é avaliada de forma diferente pelos especialistas. Patrus acredita que isso poderia aliviar os preços internos, especialmente em alimentos e bens industriais, ajudando a reduzir a pressão inflacionária.
Já Alfaix avalia que o impacto tende a ser neutro, mas com viés de baixa para os preços. Para o economista, a absorção dependerá da capacidade do mercado interno. Além disso, as retaliações comerciais poderiam reverter esse efeito.
COMO AJUSTAR A CARTEIRA DE INVESTIMENTOS?
Com um possível início de ciclo de cortes, Patrus recomenda aos investidores manter parte em ativos atrelados à Selic, mas reduzir essa fatia e equilibrar a carteira com renda fixa de prazos mais longos.
Debêntures e fundos de crédito privado ganham relevância, assim como ações de empresas em expansão. “Startups com modelos escaláveis e fundamentos sólidos tendem a crescer mesmo em ciclos desafiadores, oferecendo ao investidor um ganho de longo prazo que vai além do ciclo da taxa de juros", aponta o diretor da Bossa Invest.
Na avaliação de Alfaix, a renda fixa segue extremamente atrativa, principalmente diante dos juros reais elevados. Ele cita os títulos prefixados e pós-fixados mais curtos como alternativas para quem busca se antecipar a cortes, e considera que LFTs ainda podem ser uma boa opção, uma vez que o BC retome o ciclo de flexibilização. “São indústrias que foram altamente penalizadas pelo juro real elevado, dado que o investidor perde a disposição a assumir mais risco.”
O PAPEL DA RENDA VARIÁVEL E DE OUTROS ATIVOS
Os dois especialistas concordam que, com uma eventual flexibilização monetária, ativos de maior risco podem voltar ao radar. Para Patrus, ações de empresas em expansão e fundos de venture capital devem ganhar relevância.
Alfaix acrescenta que a renda variável, como fundos multimercado e o mercado acionário, tendem a mostrar atratividade conforme o ciclo de cortes se consolidar, assim como os fundos imobiliários, hoje bastante descontados.
O RISCO DE IDAS E VINDAS NA SELIC
Tanto Patrus quanto Alfaix reconhecem que há risco de o Banco Central iniciar cortes e depois ser obrigado a retomar a alta dos juros.
Patrus ressalta que startups e ativos inovadores podem se adaptar melhor a esse tipo de instabilidade. Alfaix lembra que esse movimento já ocorreu em 2024 e reforça a necessidade de diversificação da carteira em um cenário de incerteza.
Vale lembrar que é essencial sempre levar em consideração uma série de fatores antes de tomar uma decisão sobre como investir. Por exemplo, a possibilidade de perda com produtos de renda variável, além de despesas com taxa de administração, IOF e Imposto de Renda.