Este cimento especial mantém o ambiente fresco sem o uso de ar-condicionado
Um novo tipo de cimento consegue manter os espaços resfriados de forma natural, e a um custo bem menor

Parece cimento comum. Tem a mesma aparência, a mesma textura. Mas esconde uma capacidade surpreendente: este “cimento super-resfriante” consegue manter os prédios naturalmente mais frescos, sem precisar de ar-condicionado ou eletricidade.
O cimento tradicional absorve calor do sol, aquece as construções e nos obriga a ligar o ar-condicionado. Esse ciclo agrava a crise climática: com o planeta cada vez mais quente, a demanda por refrigeração cresce. Estima-se que o consumo global de energia com ar-condicionado triplique até meados do século.
O paradoxo é que os próprios aparelhos de climatização liberam calor para o ambiente externo e emitem gases que alimentam o aquecimento global. Mas o ar-condicionado não é a única solução possível para refrescar prédios.
Cientistas da Universidade do Sudeste da China, desenvolveram uma nova versão de cimento que altera esse ciclo. Ao modificar a química do material, eles criaram uma fórmula capaz de refletir muito mais radiação solar.
Além disso, quando absorve calor, o material consegue dissipá-lo diretamente para a atmosfera. Nos testes, o novo cimento reduziu a temperatura interna dos ambientes em até de 5,5 °C.
Em regiões de clima quente e seco, ou em locais de céu claro, o impacto pode ser suficiente para eliminar completamente a necessidade de ar-condicionado. Em outras condições, o material ajuda a reduzir o uso de energia.
“Em climas áridos ou sob céus limpos, o cimento super-resfriante pode baixar significativamente a temperatura dos ambientes, reduzindo ou até eliminando a necessidade de climatização mecânica”, afirma Guo Lu, autor principal do estudo publicado na revista "Science Advances".
COMO O CIMENTO SUPER RESFRIANTE É FEITO
Para chegar a essa inovação, os pesquisadores ajustaram a mistura do cimento de modo a formar uma quantidade muito maior de etringita, um mineral que aparece em pequenas doses no material convencional. O novo processo gera cristais de etringita em diferentes tamanhos, o que potencializa a reflexão da luz e espalha os raios solares em múltiplas direções.
Além disso, ao adicionar minerais ricos em alumina e modificar a microestrutura da mistura, os cientistas permitiram que o material refletisse calor pela chamada “janela atmosférica”: uma faixa de radiação que consegue escapar da atmosfera da Terra diretamente para o espaço.
O novo cimento incorpora a capacidade de refletir luz e calor em sua própria estrutura.
A fórmula pode ser produzida em temperaturas mais baixas que o cimento Portland convencional, o que significa menor emissão de carbono desde a origem. De acordo com os pesquisadores, o processo reduz em cerca de 25% a pegada de carbono da produção.
Ao longo de sua vida útil em uma edificação, ao economizar energia de refrigeração, o cimento pode até se tornar carbono negativo – algo notável, considerando que o cimento tradicional é hoje um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta, no que diz respeito ao setor de construção civil.
VANTAGENS SOBRE TINTAS E REVESTIMENTOS
Nos últimos anos, outras soluções para reduzir o calor dos prédios chamaram atenção, como a “tinta mais branca do mundo” ou revestimentos iridescentes de origem vegetal. Essas alternativas, porém, são frágeis e exigem reaplicações periódicas.
O novo cimento, por sua vez, incorpora a capacidade de refletir luz e calor em sua própria estrutura, tornando-se muito mais durável. Também pode ser aplicado como revestimento, mas com a vantagem de ser permanente.

Os testes em escala piloto foram conduzidos em parceria com a empresa chinesa Jiangxi Yinshan White Cement. Agora, o trabalho avança para a produção de painéis maiores, um passo crucial para a comercialização em larga escala – e para demonstrar que o ar-condicionado não é a única forma de manter prédios frescos.
“O resfriamento radiativo é uma estratégia passiva e de consumo zero de energia, mas isso não significa que seja menos eficaz”, destaca Lu. “Na verdade, o resfriamento passivo é estável, não exige manutenção e é altamente eficiente, especialmente em regiões onde o acesso à eletricidade é limitado ou o custo de energia é alto.”