Esta bateria gigante ajuda a esquentar ambientes usando areia como aquecedor

Novo sistema de armazenamento térmico garante água quente e reduz a dependência de combustíveis fósseis

Crédito: Polar Night Energy

Adele Peters 2 minutos de leitura

A pequena cidade de Pornainen, na Finlândia, está testando uma tecnologia promissora: a maior bateria de areia do mundo.

O sistema consiste em um silo de 13 metros de altura por quase 15 metros de largura, cheio com duas mil toneladas de pedra triturada. Quando sobra energia renovável na rede e o preço da eletricidade cai, o sistema aproveita para aquecer as pedras. Esse calor fica guardado até ser necessário para aquecer prédios próximos.

A ideia é simples. “Aquecemos o ar e o fazemos circular pela areia”, explica Liisa Naskali, diretora de operações da Polar Night Energy, startup finlandesa responsável pela tecnologia.

A areia – ou qualquer material com partículas de tamanho similar – consegue reter calor por semanas. Diferente de baterias convencionais, não usa substâncias químicas, não perde eficiência com o tempo e não oferece risco de incêndio.

Pornainen já contava com uma rede de aquecimento distrital, que abastece escolas, prédios públicos, residências e o comércio da cidade. Até recentemente, o sistema funcionava com óleo e madeira triturada. Mas, para alcançar a neutralidade de carbono, a cidade decidiu investir em alternativas mais sustentáveis.

Agora, quando um morador abre o chuveiro, a água quente vem direto da bateria de areia. Assim como em outros sistemas distritais, o calor armazenado atravessa as tubulações de água quente até os edifícios, que contam com equipamentos próprios para distribuí-lo em radiadores, pisos aquecidos e sistemas de climatização.

O sistema começou a operar no verão europeu e foi inaugurado oficialmente na semana passada. Durante esse período, a rede funcionou apenas com a bateria.

Com a chegada do inverno, a expectativa é que a rede combine o uso da bateria com madeira triturada, mas com uma redução de cerca de 60% na demanda desse material. Embora a queima de madeira seja considerada neutra em carbono, já que as árvores absorvem CO2 enquanto crescem, esse ciclo é muito mais lento que o processo de queima – além de gerar poluição.

Apesar do nome, a “bateria de areia” pode usar outros materiais. No caso de Pornainen, a Polar Night Energy aproveitou resíduos de esteatita de uma fábrica local de lareiras, reduzindo desperdícios e evitando os impactos ambientais da extração de areia em rios, lagos e áreas costeiras.

Dentro do silo, o calor é transferido por meio de um trocador e circula em um sistema fechado. Um software gerencia os aquecedores e só ativa a recarga nos horários de energia mais barata.

Durante o verão, a concessionária chegou a pagar apenas 10% do preço médio ao carregar a bateria em horários estratégicos. Isso torna a tecnologia competitiva, apesar de o investimento inicial ainda ser alto.

A startup já negocia novos projetos com outras concessionárias. Fábricas poderiam adotar a tecnologia para substituir combustíveis fósseis em processos que exigem altas temperaturas. Outras empresas, como Rondo Energy e Antora Energy, também estão desenvolvendo soluções inovadoras de armazenamento térmico.

Para a Polar Night Energy, o projeto é um marco. “É muito importante para nós”, afirma Naskali. “Agora podemos mostrar que realmente funciona.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais