Aprendizados sobre o futuro do trabalho

Empresas, governos e sociedade precisam abandonar a visão ultrapassada de que envelhecer significa sair de cena

Crédito: Keeproll/ Getty Images

Mórris Litvak 4 minutos de leitura

O MaturiFest 2025 foi, sem dúvida, o maior palco de discussões sobre longevidade, trabalho e inovação na América Latina. Foram três dias intensos, dezenas de painéis e oficinas, milhares de pessoas conectadas presencialmente e online.

Mas, mais do que os números, o que me impressiona é perceber como os temas que discutimos ali não só falam do futuro. Também são do presente – e urgentes.

Há muito tempo ouvimos que “as pessoas estão vivendo mais”. A novidade agora é que estão também trabalhando mais, seja por necessidade ou por escolha. E isso não é uma anomalia: é a nova regra do jogo.

No entanto, a maioria das empresas, das políticas públicas e até da cultura organizacional brasileira ainda não acordou para essa realidade. Continuamos presos a uma lógica linear: estuda-se no início da vida, trabalha-se até os 60 e, depois, “aposenta-se”. Esse modelo já não se sustenta.

No MaturiFest ficou claro que empreender não tem idade. Histórias inspiradoras de pessoas que começaram negócios depois dos 50 anos mostraram como experiência, networking e maturidade emocional podem se transformar em vantagem competitiva.

Mas também vimos que isso exige coragem: o mercado continua impondo barreiras e, a cada nova fase, o preconceito etário se torna um obstáculo real.

Ao mesmo tempo, as empresas que realmente entenderam o valor da diversidade etária mostraram resultados concretos. No painel “Empresas Age Friendly na prática”, ouvimos cases de organizações que descobriram que a presença de profissionais maduros reduz retrabalho, melhora atendimento ao cliente e gera mais engajamento interno.

Quando uma companhia como o Banco BMG mostra que os atendimentos feitos por pessoas 50+ quase não têm rechamadas, estamos falando de impacto direto em performance e eficiência. Diversidade etária, portanto, não é filantropia: é estratégia.

NOVA PLATAFORMA LANÇADA NO MATURIFEST

Esse ponto ficou ainda mais evidente com o lançamento do MaturiOne, plataforma criada para apoiar empresas em todo o ciclo de vida dos colaboradores 40+. Essa visão do “hire to retire” (da contratação até a aposentadoria) marca uma mudança de paradigma.

Significa entender que reter, desenvolver e valorizar profissionais maduros não é um favor, mas sim uma vantagem competitiva para enfrentar o desafio demográfico que já bate à porta: até 2040, um em cada três brasileiros terá mais de 60 anos.

Outro debate que chamou atenção foi a relação entre longevidade e tecnologia. A inteligência artificial, muitas vezes vista como ameaça aos trabalhadores mais velhos, apareceu sob uma nova perspectiva: como potencializadora da experiência acumulada.

longevidade não é um problema para a economia brasileira, é a solução.

O repertório e a capacidade de análise crítica dos profissionais 50+ são exatamente o que a IA precisa para ser usada de forma ética, estratégica e inovadora. Em outras palavras: longe de obsoletos, esses profissionais podem ser protagonistas da transformação digital.

Mas talvez as lições mais poderosas tenham vindo das histórias pessoais. De pessoas que recomeçaram aos 60, 70 ou até 80 anos. Que transformaram crises em novos negócios, que encontraram propósito em novos caminhos.

Essas narrativas mostraram que envelhecer é continuar em movimento. E que a maturidade pode ser sinônimo de reinvenção, coragem e aprendizado contínuo. O mercado precisa não apenas ouvir essas histórias, mas aprender com elas.

ENVELHERCER É NUNCA PARAR DE APRENDER

O MaturiFest também trouxe dados inéditos que reforçam o potencial desse público. Pesquisas apresentadas mostraram que oito em cada 10 brasileiros maduros querem aprender mais sobre educação financeira e nove em cada 10 têm interesse em atuar em áreas ligadas a sustentabilidade e economia circular.

Isso quebra outro estereótipo: o de que maturidade é sinônimo de acomodação. Pelo contrário, trata-se de um público disposto a se atualizar, a se reinventar e a contribuir com causas de impacto social.

Essa disposição foi visível também nas oficinas do evento: todas lotadas, algumas até com fila de espera. De inteligência artificial a marketing digital, de propósito a transição de carreira, o que vimos foi fome de aprendizado e sede de participação.

Créditos: Barbara Olsen/ Pexels/ Freepik

Isso mostra que o lifelong learning não é mais um jargão acadêmico, mas uma realidade vivida por quem entendeu que a carreira não termina aos 50.

No fim, o que o MaturiFest 2025 escancarou foi uma verdade incômoda: longevidade não é um problema para a economia brasileira, é a solução.

O desafio é cultural. Precisamos que empresas, governos e sociedade abandonem a visão ultrapassada de que envelhecer significa sair de cena. Se quisermos garantir inovação, produtividade e sustentabilidade fiscal, não podemos mais desperdiçar a potência de milhões de brasileiros maduros.

O futuro do trabalho não será jovem nem velho. Será intergeracional. E ele já começou. A questão é: vamos nos preparar para liderar essa transformação ou seremos arrastados por ela?


SOBRE O AUTOR

Mórris Litvak é fundador e CEO da Maturi, plataforma líder no Brasil para profissionais 50+. Engenheiro de Software pela FIAP, com pós... saiba mais