Big techs se animam com vitória parcial do Google no processo antitruste

Juiz rejeita divisão do Chrome e do Android, mas decisão pode abrir precedentes para Amazon, Meta e Apple em disputas semelhantes

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Chris Morris 3 minutos de leitura

O Google escapou de um grande revés esta semana, quando um juiz federal decidiu que a empresa não precisará vender o navegador Chrome nem o sistema Android como parte do processo antitruste movido contra ele.

Embora a companhia ainda enfrente penalidades para estimular a concorrência, conseguiu evitar o pior desfecho – um alívio que reacende esperanças também entre outras gigantes de tecnologia.

Até agora, o Google é a única big tech com uma decisão judicial nesse campo, mas a Comissão Federal de Comércio (FTC) ainda tem casos em andamento contra outras empresas.

A Meta foi a julgamento no início deste ano em um processo que pode forçá-la a se desfazer do Instagram e do WhatsApp. O juiz responsável avalia a decisão neste momento. A ação, aberta em 2020, acusa a empresa de ter pago acima do valor de mercado pelas duas plataformas para manter seu domínio nas redes sociais.

a Amazon deve enfrentar julgamento em outubro de 2026 no processo antitruste da FTC. A Apple também não está imune: em março, o Departamento de Justiça dos EUA, em parceria com procuradores-gerais de 16 estados e distritos, processou a companhia sob acusação de monopolizar o mercado de smartphones.

A decisão contra o Google deve permitir que todas essas empresas respirem um pouco. O juiz Amit Mehta aceitou “na íntegra” as propostas de mitigação apresentadas pelo Google, fazendo apenas pequenas modificações e ignorando em grande parte as sugestões do governo. Para ele, a proposta de separar o Chrome ou o Android era um exagero da acusação.

No documento de 226 páginas, Mehta observou que o avanço da inteligência artificial generativa “mudou o rumo deste caso”, reconhecendo que serviços como o ChatGPT transformaram o cenário da tecnologia.

Esse argumento pode ser crucial em disputas futuras. Se os processos parecerem pender contra as big techs, invocar a IA e as novas condições de mercado pode funcionar como uma espécie de “carta de saída da prisão” para as empresas.

MUDANÇA DE CENÁRIO

A Amazon, por exemplo, poderia alegar que agentes de compras baseados em IA direcionam consumidores automaticamente para os menores preços, ampliando a competição.

Além disso, concorrentes da varejista vêm mostrando crescimento: as vendas online do Walmart subiram 22% no ano passado e voltaram a aumentar no segundo trimestre, enquanto Shein, Temu e TikTok Shop avançam sobre o mercado.

A Meta, que também intensifica seus investimentos em inteligência artificial, poderia usar um argumento parecido. A empresa afirma que o cenário das redes sociais mudou bastante desde que adquiriu alguns concorrentes.

A criação recente de uma aba exclusiva para amigos no Facebook – que devolve ao usuário um feed limpo com postagens apenas de pessoas conhecidas – é um exemplo de como o setor evoluiu.

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Ainda assim, alguns especialistas temem que os reguladores estejam deixando de lado questões mais amplas. Ao se concentrarem apenas em pontos como o domínio em busca ou redes sociais, correm o risco de ignorar formas mais abrangentes de poder de plataforma.

“O meu receio em relação ao Departamento de Justiça é se eles sabem medir o poder dessas plataformas além do serviço que oferecem. Acho que não”, diz Ram Chellappa, professor de sistemas de informação e gestão de operações na Goizueta Business School, da Universidade de Emory.

Apesar do precedente aberto esta semana, há brechas no argumento da IA. O Google continua líder incontestável em buscas, mesmo diante dos avanços de empresas de inteligência artificial. A Amazon ainda controla pouco menos de 40% do e-commerce nos EUA e conta com uma enorme rede de vendedores terceirizados. E a Meta segue sendo um gigante das redes sociais.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é jornalista, escritor, editor e apresentador especializado em tecnologia, games e eletrônicos. saiba mais