De promessa a tendência: a ascensão dos celulares dobráveis
Honor, Samsung e Google estão entre as empresas que conseguiram superar os antigos desafios de design dessa categoria – e a próxima pode ser a Apple

Quinze anos depois do lançamento do iPhone, ainda paira uma grande dúvida sobre o setor de tecnologia de consumo: qual será o próximo grande dispositivo pessoal depois do smartphone?
Uma das categorias que surgiu nesse tempo, mas que foi por muito tempo subestimada, é a dos celulares dobráveis. Eles não pretendem substituir os smartphones. Na verdade, eles são smartphones. Mas, ao oferecer a experiência de um tablet em um aparelho que cabe no bolso, rompem com o formato que a Apple consagrou e que toda a indústria reproduziu.
Mesmo após seis anos no mercado, os dobráveis ainda representam apenas 1,5% das vendas globais de smartphones. O maior desafio tem sido criar modelos práticos para o dia a dia, já que, quando fechados, eles ficam com o dobro da espessura de um celular comum.
Por muito tempo, esses aparelhos vinham com câmeras medianas e componentes inferiores aos de topo de linha e levantavam dúvidas sobre a durabilidade das dobradiças. Isso sem falar nos preços elevados.
Mas, nos últimos anos, a categoria parece ter encontrado o seu caminho. Meu colega Jared Newman ficou bastante impressionado com o Galaxy Z Fold7, da Samsung. Já o Pixel 10 Pro Fold, do Google, que chega às lojas nas próximas semanas, é o primeiro dobrável com certificação IP68, de resistência à água e poeira.
Segundo Mark Gurman, da “Bloomberg”, a Apple já está preparando seu primeiro iPhone dobrável para 2026 – sinal de que a empresa acredita no potencial da categoria e não vê essa tecnologia como uma moda passageira.

Outro destaque é o Magic V5, da Honor, que acaba de ser lançado na Europa como o celular dobrável mais fino do mundo.
É preciso, no entanto, fazer algumas ressalvas: o título vale apenas para a versão branca (Ivory White). Além disso, o aparelho supera o Fold7 em meros 0,1 milímetro e o cálculo desconsidera o volumoso módulo de câmeras traseiras, que se projeta como um estepe preso na traseira de um jipe.
Ainda assim, depois de passar uma semana testando o aparelho, fiquei bastante surpreso. O preço continua salgado: € 1.999 (cerca de R$ 12.690). Mas a Honor conseguiu resolver boa parte dos antigos problemas de design que limitavam a categoria.

O grande diferencial está na bateria de carbeto de silício, que oferece maior densidade de energia mesmo em um corpo tão fino – resolvendo outro ponto crítico dos dobráveis, a autonomia. No uso intenso do dia a dia, a bateria nunca chegou perto de zerar.
Fechado, o Magic V5 funciona como um excelente smartphone Android. Ele roda o MagicOS 9, uma versão personalizada do Android 15, tão parecida com o iOS que, em alguns momentos, meus dedos esqueciam que não estavam diante de um iPhone.
Eu esperava câmeras decepcionantes, como as de outros dobráveis que já testei. Mas as fotos feitas com suas três lentes traseiras – ultrawide, wide e telefoto 3X – ficam no mesmo nível das imagens capturadas pelo iPhone.

Aberto, o Magic V5 se aproxima muito mais de um tablet do que de um celular. Sua tela de 7,9 polegadas é menor que a de um iPad Mini, mas já faz uma grande diferença em tarefas que parecem limitadas em smartphones comuns, como assistir filmes, ler livros ou mexer em planilhas.
A interface multitarefa da Honor torna simples abrir vários aplicativos ao mesmo tempo, seja lado a lado ou em janelas flutuantes. O aparelho também traz uma série de apps nativos – calendário, bloco de notas, galeria de fotos – que aproveitam muito bem o espaço extra.
No entanto, muitos apps de terceiros ainda não estão otimizados. A maioria parece simplesmente ampliada para a tela maior, sem explorar de fato o formato dobrável. É a mesma limitação dos primeiros tablets Android, que rodavam versões “esticadas” de aplicativos de celular.
Não sei dizer se já estou convencido a comprar um aparelho dobrável. Mas ver as fabricantes investindo de verdade nessa categoria despertou minha curiosidade. E isso, por si só, já é um grande avanço. Agora é esperar para ver até onde os dobráveis vão chegar quando eu finalmente decidir me render a um deles.