Investimento: vale a pena comprar dólar agora?
Veja o que dizem os especialistas sobre a estratégia de "surfar" na onda de baixa da moeda americana

Com a desvalorização do dólar frente ao real, nessa trajetória desde o início do ano, muitos investidores se perguntam: vale a pena aproveitar o momento para comprar a moeda americana ou é hora de reduzir a exposição? A dúvida é comum, principalmente para quem já tem ativos atrelados ao dólar, como ações de exportadoras, ETFs (Exchange Traded Funds ou Fundos de índices, em português) internacionais ou fundos cambiais.
Segundo especialistas, a resposta depende menos da cotação momentânea e mais da estratégia de cada investidor.
DÓLAR PARA PROTEÇÃO E DIVERSIFICAÇÃO
Para André Matos, CEO da MA7 Negócios, o dólar deve ser visto antes de tudo como um instrumento de proteção. “O dólar sempre foi um ativo de proteção. Quando ele cai, muitos enxergam isso como oportunidade de diversificação, porque a moeda tende a se valorizar em momentos de incerteza”, diz Matos.
O CEO da MA7 Negócios reforça que não faz sentido tentar adivinhar o ponto mais baixo de preço. “O importante não é tentar adivinhar o fundo do preço, mas ter disciplina: exposição em dólar é mais uma forma de blindar o patrimônio, não uma aposta especulativa”, comenta.
Na mesma linha, Silas Nunes, especialista da Barsi Investimentos, afirma que a moeda americana é um ativo que deve ser utilizado como diversificação da carteira de investimento no longo prazo. “Manter alguma parcela em moeda forte tende a fazer muito sentido, mesmo com dólar em queda”, destaca Nunes.
Nunes acrescenta que, para quem tem planos de gastar em dólar — como viagens, estudos ou importações — pode ser estratégico já travar parte do valor agora, independentemente da cotação.
Luis Talbot, também especialista da Barsi Investimentos, destaca que, em um mundo cada vez mais globalizado, a principal tendência em momentos de crise é a busca por uma moeda forte e referência internacional. “E o dólar permanece como mais relevante. Por isso, investir na economia que exerce maior influência global pode se tornar uma estratégia consistente, especialmente quando aproveitarmos as melhores oportunidades de mercado com a visão de diversificação.”
VENDER OU MANTER O DÓLAR NA CARTEIRA
Para investidores que já têm ativos dolarizados, a recomendação é cautela. Matos explica que tudo depende do horizonte de investimento. “Se a ideia é proteção de longo prazo, não faz sentido vender na baixa. Pelo contrário, esse movimento faz parte da dinâmica da moeda. O investidor que entra e sai rápido acaba perdendo o real benefício da diversificação”, destaca Matos.
Nunes concorda. Segundo ele, manter uma parte do patrimônio em moeda forte continua sendo uma forma de reduzir riscos ligados ao Brasil e à inflação local. A queda do dólar, portanto, não muda essa lógica. “Você mantém a parcela-alvo e rebalanceia com a mesma disciplina de sempre”, orienta Nunes.
Para Talbot, o melhor momento para comprar dólar é sempre o presente. “A experiência com países em desenvolvimento mostra que, ao longo do tempo, a moeda local tende a se desvalorizar frente ao dólar. Seja por fatores políticos, sociais ou até mesmo por instabilidades econômicas e conflitos.”
É comum que o medo influencie a tomada de decisão, mas vale a reflexão, segundo Talbot. Se muitos investidores consideraram aumentar suas alocações quando o dólar já estava acima de R$ 6,00, por que não enxergar valor agora?
COMO EQUILIBRAR DÓLAR E OUTROS ATIVOS
Tanto Matos quanto Nunes reforçam a importância de olhar para o portfólio como um todo para manter o equilíbrio da carteira de investimento.
De acordo com Matos, o ideal é ter parte em reais, aproveitando renda fixa e crédito no Brasil, e outra parte dolarizada, como um seguro contra crises. “Não existe porcentagem única: depende do perfil e dos objetivos de cada investidor. O que não pode é ficar 100% exposto a um único risco”, pontua Matos.
Nunes detalha esse equilíbrio em dois níveis:
- Macro: do patrimônio total, alocar entre 5% e 20% em ativos internacionais; e
- Micro: dentro dessa fatia, diversificar em diferentes classes de ativos, como renda fixa, ações, ETFs e ouro.
Esses investimentos podem ser feitos tanto de forma direta — via ETFs internacionais, BDRs (Brazilian Depositary Receipt, que são certificados de depósito de valores mobiliários emitidos e negociados no Brasil), ações no exterior, fundos cambiais ou títulos americanos — quanto de forma indireta, por meio de empresas brasileiras com receita em dólar, como exportadoras e companhias de commodities, descreve Nunes.
Não existe um único “melhor ativo”, segundo Talbot. “O que realmente importa é identificar qual opção se encaixa melhor no perfil do investidor, qual nível de oscilação está disposto a assumir e qual é o objetivo do investimento”, frisa ele.
Em comum, os especialistas ressaltam que exposição ao dólar não deve ser encarada como uma aposta de curto prazo, mas como um instrumento de proteção e equilíbrio da carteira. Seja aproveitando a baixa para diversificar, seja mantendo posição já existente, a recomendação é a mesma: disciplina e visão de longo prazo.