Cuidado: você pode estar sendo manipulado sem nem se dar conta
Do marketing à pressão social, a manipulação é um problema sério que precisamos enfrentar

Cass Sunstein é professor da Faculdade de Direito de Harvard e um dos juristas mais citados do mundo.
Fundador do Programa de Economia Comportamental e Políticas Públicas da universidade, ele atuou na Casa Branca durante o governo Obama, recebeu o prêmio Holberg do governo da Noruega e é autor de dezenas de livros sobre temas que vão da ciência comportamental ao direito constitucional.
QUAL É A IDEIA CENTRAL?
Nossas decisões estão o tempo todo sob influência de forças ocultas – seja pela pressão social, pelo marketing ou pelas normas culturais. A manipulação é silenciosa, generalizada e perigosa. Por isso, precisamos encontrar formas de nos proteger dessas interferências que moldam nossas escolhas sem nos dar a chance de decidir com plena consciência.
Em seu livro “Manipulation: What It Is, Why It’s Bad, and What to Do About It” (Manipulação: o que é, por que é ruim e o que fazer a respeito), Sunstein compartilha cinco insights sobre o tema.
1. A manipulação nos tira a liberdade de escolha
Manipular não é simplesmente persuadir – é enganar. Tira das pessoas a capacidade de refletir de forma consciente. Pode despertar emoções, omitir informações essenciais ou esconder cláusulas importantes em letras miúdas, impedindo uma decisão realmente informada. O perigo está justamente em como, sem perceber, perdemos autonomia e a possibilidade de refletir genuinamente.
2. “Sludge”: manipulação em pequenas doses
“Sludge” é o nome dado às barreiras desnecessárias – formulários intermináveis, longas filas de espera, burocracias – que dificultam alcançar o que queremos ou sair de uma situação ruim.
Muitas empresas, por exemplo, facilitam a adesão a um serviço, mas dificultam ao máximo o cancelamento. Essa lógica de “entrar fácil, sair difícil” é a manipulação em sua forma mais desgastante.
3. O direito de não ser manipulado
Já existem leis contra fraude e estelionato, mas não contra a manipulação em si. Isso é um problema, porque ela pode desperdiçar nosso tempo, tirar nosso dinheiro e prejudicar nossa saúde sem violar nenhuma lei. Precisamos criar uma proteção clara e eficaz para que as pessoas não fiquem vulneráveis a esse tipo de exploração.
4. Consumir o que preferíamos que não existisse
Muitos produtos não são comprados por desejo genuíno, mas porque as normas sociais os tornam quase inevitáveis. É o caso de bonecas como a Barbie, cigarros, algumas redes sociais e outros itens que muita gente adquire, mas secretamente gostaria que não existissem.
As empresas exploram isso para forçar escolhas de consumo que não refletem nossas reais preferências. Induzir pessoas a comprar algo que não querem de verdade – e do qual se arrependem – é uma forma grave de manipulação que precisa ser enfrentada.
5. As normas sociais podem virar armadilhas
Quando um produto se populariza, recusá-lo pode soar estranho: em alguns grupos, negar uma bebida pode passar a impressão de que você é “chato”; não usar um aplicativo da moda pode fazer parecer que você está por fora.
Para evitar julgamentos, muitos acabam cedendo – mesmo sem querer. Esse é um tipo de manipulação por pressão social, uma das mais difíceis de resistir, justamente porque nossas escolhas carregam significados sobre quem somos.
Este artigo foi publicado originalmente na revista “Next Big Idea Club” e reproduzido com permissão. Leia o artigo original.