Do chip ao data center: o salto quântico dos investidores em tecnologia
Em meio a rodadas recordes de investimento, a PsiQuantum levanta US$ 1 bilhão com vistas a criar um computador quântico de utilidade prática

Desde o início deste mês, a indústria de computação quântica vem registrando algumas das maiores rodadas de captação de recursos de sua história. Mesmo que a maioria das pessoas ainda tenha dificuldade em explicar o que faz um computador quântico – ou por que alguém precisaria de um –, os investidores parecem ter decidido que querem participar dessa corrida.
A PsiQuantum, startup escolhida para construir computadores quânticos em Chicago e Brisbane (na Austrália), levantou US$ 1 bilhão, alcançando uma avaliação de mercado de US$ 7 bilhões. O aporte é um dos maiores investimentos privados individuais já realizados em tecnologia quântica.
Segundo Pete Shadbolt, cofundador e diretor científico da empresa, os novos recursos vão ajudar a companhia a concretizar o plano de construir um computador quântico em escala utilitária baseado em fotônica.
Segundo ele, a empresa está passando do trabalho em “escala de centímetros”, voltado ao design de chips e dispositivos, para a “escala de quilômetros”, dedicada a desenvolver gabinetes de resfriamento e toda a infraestrutura necessária para instalações de computação do tamanho de data centers.
Os recursos vão permitir ainda ampliar a fabricação de peças e materiais sob medida, essenciais para sistemas intermediários. "Temos um plano bastante agressivo para chegar a grandes sistemas, mas não estamos tentando fazer tudo de uma vez", disse Shadbolt.
APOSTAS BILIONÁRIAS EM COMPUTAÇÃO QUÂNTICA
O fluxo de capital que vem fluindo para a computação quântica – em um nível semelhante aos investimentos em inteligência artificial – pode ser visto como um sinal de amadurecimento da tecnologia ou como reflexo do FOMO (sigla em inglês para a expressão "medo de ficar de fora") dos investidores de IA. Ou os dois.
"A inteligência artificial é construída sobre a computação clássica, que sustentou os últimos 50 anos de tecnologia", afirmou Tony Kim, chefe do grupo de tecnologia de ações fundamentais da BlackRock, no anúncio do investimento.

"Agora estamos no início de uma plataforma adjacente, enraizada na mecânica quântica, que vai permitir simular o mundo físico com muita precisão. A tecnologia vai integrar computação quântica e IA, abrindo caminho para a superinteligência das máquinas."
Além do apoio da NVentures (braço de capital de risco da Nvidia), a PsiQuantum colabora com a gigante dos chips em diversas frentes, incluindo algoritmos quânticos, softwares, integração de processadores quânticos com GPUs em sistemas híbridos e o desenvolvimento de sua plataforma de silício fotônico.
PARCERIA ESTRATÉGICA
"Nenhum computador quântico será útil isoladamente. Eles vão gerar dados para a IA e também precisarão de insumos vindos de clusters de GPU" explicou Shadbolt. Segundo ele, esse é um espaço natural para a Nvidia entrar.
"No ecossistema japonês de computação quântica existe um grande cluster de GPUs Nvidia conectado a vários computadores quânticos. É uma tendência em crescimento no mundo inteiro", completou.
a computação quântica vem registrando as maiores rodadas de captação de recursos de sua história.
A expertise da PsiQuantum em fotônica – a transmissão de informações pela luz – a torna um parceiro estratégico atraente. Isso porque fabricantes de supercomputadores de IA estão cada vez mais interessados em integrar fotônica para lidar com as enormes demandas de transmissão de dados e de energia que crescem junto com esses sistemas.
Recentemente, a TSMC apresentou em Taiwan, no Silicon Photonics Global Summit, seu novo processo COUPE (Compact Universal Photonic Engine, ou motor fotônico universal compacto), que permite fabricar chips em camadas densas fundindo circuitos fotônicos e eletrônicos.
Para Shadbolt, a competição no setor é paradoxal. "É ao mesmo tempo frustrante e muito empolgante. É frustrante que todos usemos tecnologias diferentes e isso seja tão debatido. Por outro lado, acho que é sintoma de uma jornada que está apenas começando, e prefiro estar no início de uma jornada do que no seu fim.'