Primeira chance: como uma conexão inicial pode influenciar sua carreira

O impacto das primeiras experiências na sua área vai além do aprendizado – elas moldam também sua confiança e identidade

Créditos: Maica/ Getty Images/ Charles Deluvio/ Unsplash

Soon Hyeok Choi 3 minutos de leitura

Dizem que todo incêndio começa com uma simples fagulha. Na vida profissional, essa fagulha muitas vezes é uma pessoa. Alguém que, logo no início, abre uma porta, dá um incentivo ou mostra, ainda que de forma discreta, até onde é possível chegar. O que nem sempre percebemos é o quanto essa primeira conexão pode influenciar tudo o que vem depois.

Um exemplo é Serena Williams, campeã de 23 torneios de Grand Slam. Ela sempre  destacou a importância de seu primeiro treinador – o próprio pai, Richard Williams.

A confiança dele em seu talento e a decisão de colocá-la cedo em competições deram a Serena uma vantagem competitiva sobre suas rivais em termos de experiência. No esporte, esse impacto inicial é comum: o primeiro técnico geralmente é quem enxerga o potencial antes de qualquer outra pessoa.

Outro caso é o de Misty Copeland, primeira bailarina negra a se tornar principal no American Ballet Theatre. Aos 13 anos, foi descoberta por Cynthia Bradley, professora do Boys & Girls Club, que a levou para o balé formal. Apenas quatro anos depois, Copeland já integrava a Studio Company.

Em 2015, fez história ao se tornar a primeira mulher negra no posto mais alto da companhia. Aquela primeira conexão abriu portas para treinamentos de elite, bolsas de estudo e redes de contatos que sustentaram sua carreira e a ajudaram a quebrar barreiras.

Histórias como essas inspiram, mas também levantam uma questão: essas conexões iniciais realmente causam o sucesso ou são apenas mais acessíveis para quem já tem vantagens?

Afinal, um jovem atleta com pais com recursos talvez teria oportunidades de qualquer forma. Esse dilema é difícil de resolver – a não ser quando o acaso entra em cena. Foi nesse ponto que minha pesquisa se concentrou.

O MERCADO IMOBILIÁRIO COMO LABORATÓRIO

Sou professor de finanças imobiliárias e percebi que o setor de corretagem funciona quase como um experimento natural. Como poucos corretores estão ativos ao mesmo tempo, os novatos não escolhem com quem vão negociar: seu primeiro parceiro depende de quem estiver atuando naquela hora e lugar. Muitas vezes, essa primeira conexão é pura sorte.

Com base nisso, meus colegas e eu analisamos mais de 20 anos de dados de vendas em uma cidade da Carolina do Norte, nos EUA. No município de Charlotte, havia 40 mil corretores e 417 mil transações registradas entre 2001 e 2023.

Serena Williams (Crédito: Clive Brunskill/ Equipe/ Getty Images)

Descobrimos que iniciantes que fecham seu primeiro negócio com um corretor experiente e bem relacionado têm 25% mais chances de continuar na profissão após um ano.

Como muitos não conseguem emplacar uma segunda venda nesse período, essa primeira parceria aumenta muito as chances de uma carreira duradoura.

O VALOR DE UMA BOA PRIMEIRA CONEXÃO

O valor desses primeiros encontros vai além do aprendizado técnico – eles moldam confiança e identidade. Um músico convidado para uma orquestra por um maestro renomado passa a se enxergar como parte desse universo.

Uma estudante incentivada por uma cientista a participar de um concurso começa a visualizar seu futuro na pesquisa. Um atleta que treina com um medalhista olímpico passa a se imaginar em grandes competições. Em todos os casos, a primeira conexão redefine o que parece possível.

Nosso estudo também mostrou que os novatos mais propensos a desistir – os que vendem pouco no início – são os que mais se beneficiam de parceiros influentes.

Misty Copeland (Crédito: City Dance Studios)

Isso também se repete em outras áreas: atletas em dificuldade se beneficiam de técnicos experientes e alunos desmotivados recuperam o interesse graças a professores que os apresentam a programas, competições e colegas. Esses mentores fazem mais do que ensinar: eles transformam carreiras.

Para quem está começando, a lição é clara: procure pessoas respeitadas e dispostas a compartilhar experiências. Observar como elas trabalham, pensam e resolvem problemas ajuda a moldar sua própria identidade profissional.

Para quem já está estabelecido, o recado é igualmente importante: oferecer uma mão, apresentar a área ou simplesmente oferecer uma palavra de incentivo pode desencadear uma sequência de acontecimentos capaz de transformar uma vida.

Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Soon Hyeok Choi é professor assistente de finanças imobiliárias no Instituto de Tecnologia de Rochester. saiba mais