Cabos submarinos no Mar Vermelho expõem fragilidade da internet global
Episódio mostra riscos da infraestrutura que carrega 99% do tráfego mundial e pressiona por soluções além da fibra óptica

Conexões de internet ininterruptas tornaram-se tão essenciais quanto água encanada e energia elétrica. Mas uma grande queda de rede que afetou África, Ásia e Oriente Médio nos últimos dias expôs a fragilidade da infraestrutura que nos mantém online.
Cerca de 15 cabos submarinos passam pelo Estreito de Bab el-Mandeb, no Mar Vermelho, e quatro deles teriam sido rompidos, causando forte impacto no tráfego de dados. Centenas de cabos repousam no fundo do mar, responsáveis por carregar quase todo o tráfego global da internet (cerca de 99%).
“Já tivemos cortes no Mar Vermelho no ano passado e agora estamos na mesma situação, por assim dizer”, afirma Doug Madory, diretor de análise de internet da Kentik. Quando parte da capacidade é perdida, os provedores precisam redirecionar o tráfego para os outros cabos, o que gera latência e falhas de confiabilidade.
As interrupções, que devem persistir por conta da dificuldade de acessar a área afetada, reacenderam o debate sobre a confiabilidade dos cabos submarinos e se alternativas como conexões via satélite – oferecidas por empresas como a Starlink – podem reduzir a dependência.
Embora falhas anteriores já tenham sido provocadas de propósito, especialistas acreditam que o caso agora foi um acidente. “O Mar Vermelho é uma área problemática, porque todo o tráfego marítimo que vai para o Canal de Suez precisa aguardar a vez. Os navios ancoram em águas rasas e quando muitos lançam âncoras em pouco espaço, o desastre é quase inevitável”, explica Madory.
Normalmente, cortes são reparados rapidamente, mas a localização – próxima à costa do Iêmen, onde conflitos com os houthis dificultam a atuação técnica – torna a situação mais complexa. Estima-se que ocorram até 200 incidentes desse tipo por ano, o que reforça o interesse em alternativas aos cabos submarinos.
Uma delas é a internet via satélite. A Starlink, por exemplo, tornou-se crucial na Ucrânia para evitar sabotagem russa em cabos, e já soma mais de seis milhões de assinantes em diversos países. Em regiões como a África subsaariana, o serviço funciona como rede de segurança quando a conectividade terrestre falha.

Especialistas acreditam que episódios como o do Mar Vermelho podem acelerar a adoção em mercados dispostos a pagar mais pela resiliência. O desafio é o custo: os kits custam centenas de dólares e as mensalidades são mais caras que os planos locais, o que limita o alcance em áreas de baixa renda. Ainda assim, os satélites não conseguem competir em escala com a fibra óptica.
“Starlink, ou qualquer outro serviço via satélite, jamais vai reproduzir a capacidade que se obtém em um cabo de fibra óptica”, diz Madory. Enquanto os cabos submarinos transportam até três petabits de dados por segundo, os satélites alcançam apenas 150 terabits.
Lançamentos planejados para os próximos três anos podem elevar essa capacidade a 800 terabits, mas, por enquanto, os cabos submarinos seguem sendo a espinha dorsal da internet global.