No mundo em que máquinas pensam, sentir é vantagem competitiva

Como tecnologia, bem-estar e relações humanas se entrelaçam para moldar o futuro do trabalho

Crédito: Fast Company Brasil

Carol Romano 4 minutos de leitura

Como essa é minha coluna de estreia aqui na Fast Company, faço uma breve apresentação. Sou Carol Romano, psicanalista e consultora em cultura e inovação.

Minha paixão é explorar a psicologia dos negócios e investigar como tecnologia, bem-estar e relações humanas se entrelaçam para moldar o futuro do trabalho. Acredito que as empresas mais preparadas para o amanhã serão aquelas humanamente saudáveis e digitalmente inteligentes.

O título desta coluna de estreia nasceu de uma provocação feita por Daniel Goleman, psicólogo e autor, considerado o “pai da inteligência emocional”, um dos pensadores mais influentes nos negócios, durante sua participação no Rio Innovation Week.

Diante de uma plateia cheia de executivos, empreendedores, educadores e jovens líderes, ele lançou uma pergunta que atravessa nossos tempos hiper tecnológicos e que não sai da minha cabeça: o que vai permanecer exclusivamente humano quando a máquina parece capaz de quase tudo?

Enquanto a inteligência artificial avança em velocidade, precisão e presença no nosso dia a dia, outras formas de inteligência, como a emocional e a relacional, ganham valor de ativo estratégico.

A IA já se mostrou imbatível em processar dados, reconhecer padrões e prever comportamentos. Mas, como destacou Goleman, sentir com o outro, e não apenas reconhecer o que ele sente, continua sendo uma experiência exclusivamente humana.

A ciência mostra isso de um jeito fascinante. Em uma conversa presencial, os chamados neurônios-espelho e o cérebro social fazem com que nossas emoções se sincronizem antes mesmo da mente racional processar. É quando “o corpo sabe antes da mente” que nascem conexões genuínas.

Crédito: Istock

Esse nível de sintonia – o que poderíamos chamar de sincronia afetiva em tempo real – nenhuma automação emocional é capaz de reproduzir. E talvez nunca seja. 

“Empatia não é só reconhecer o que o outro sente. É se afetar, é se importar de verdade”, reforçou Goleman. Para ele, algumas competências humanas permanecem insubstituíveis diante da máquina:

  • Autoconsciência: reconhecer o que sentimos e decidir a partir disso
  • Autogestão: manter equilíbrio e foco em meio ao estresse
  • Consciência social: perceber e interpretar o estado emocional dos outros
  • Gestão de relações: inspirar, persuadir, colaborar e gerar confiança

Segundo ele, a intuição é resultado da nossa experiência de vida, e isso nunca poderá ser superado pela IA. Já o aprendizado social é uma habilidade que tornará as pessoas mais eficazes em todas as suas funções.

Uma série de pesquisas contemporâneas comprovam que essas competências emocionais e sociais estão diretamente relacionadas à produtividade, criatividade e bem-estar.

Não à toa, são decisivas em momentos de alta performance, como no estado de fluxo de um atleta ou de um cirurgião, aquele estado mental em que a pessoa está tão concentrada e conectada com a atividade que o tempo parece suspenso, a performance atinge seu ápice e a experiência se torna, ao mesmo tempo, desafiadora e prazerosa. 

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E O FUTURO DO TRABALHO

No campo das relações, Goleman bate fundo ao relembrar: não é só sobre o que sabemos, mas sobre como fazemos as pessoas se sentirem. Liderar, afinal, não é mexer em peças de um tabuleiro. É criar confiança, alinhar significados, incentivar vínculos, transformar colaboração em potência coletiva.

O futuro não será definido apenas pelas tecnologias que adotamos, mas pela forma como preservamos e expandimos aquilo que nos torna humanos.

É esse o espírito desta coluna: investigar o diálogo entre inovação e humanidade. Falar sobre as tensões contemporâneas, desafios emocionais que atravessam nossas relações, estruturas de trabalho e culturas organizacionais. Um espaço para ampliar o olhar, nomear o que sentimos e construir vínculos mais vivos, entre pessoas, ideias, tecnologias e mundos possíveis.

a intuição é resultado da nossa experiência de vida, e isso nunca será superado pela IA.

Porque o futuro será, inevitavelmente, tecnológico. Mas precisa ser, acima de tudo, humano. É nesse encontro entre inovação e bem-estar, entre desempenho e cuidado, entre métricas e vínculos, que construiremos organizações e sociedades mais saudáveis.

Goleman fechou sua fala com uma frase que eu carrego comigo: “o futuro não será vencido pela máquina mais rápida, mas pela pessoa mais conectada.” Eu acrescentaria: o futuro depende disso mesmo, não negar os avanços, mas manter o comando. Entendendo que a tecnologia é ferramenta. E nós, seres humanos, somos o propósito.

Este espaço é um convite para navegarmos juntos pelas fronteiras onde a inovação encontra o humano. Um lugar para repensar performance, ressignificar o trabalho e construir futuros socialmente saudáveis.

Vem comigo?


SOBRE A AUTORA

Carol é cofundadora da consultoria de inovação Futuro Co. É estrategista de negócios, especialista em cultura organizacional e futuro ... saiba mais