No mundo em que máquinas pensam, sentir é vantagem competitiva
Como tecnologia, bem-estar e relações humanas se entrelaçam para moldar o futuro do trabalho

Como essa é minha coluna de estreia aqui na Fast Company, faço uma breve apresentação. Sou Carol Romano, psicanalista e consultora em cultura e inovação.
Minha paixão é explorar a psicologia dos negócios e investigar como tecnologia, bem-estar e relações humanas se entrelaçam para moldar o futuro do trabalho. Acredito que as empresas mais preparadas para o amanhã serão aquelas humanamente saudáveis e digitalmente inteligentes.
O título desta coluna de estreia nasceu de uma provocação feita por Daniel Goleman, psicólogo e autor, considerado o “pai da inteligência emocional”, um dos pensadores mais influentes nos negócios, durante sua participação no Rio Innovation Week.
Diante de uma plateia cheia de executivos, empreendedores, educadores e jovens líderes, ele lançou uma pergunta que atravessa nossos tempos hiper tecnológicos e que não sai da minha cabeça: o que vai permanecer exclusivamente humano quando a máquina parece capaz de quase tudo?
Enquanto a inteligência artificial avança em velocidade, precisão e presença no nosso dia a dia, outras formas de inteligência, como a emocional e a relacional, ganham valor de ativo estratégico.
A IA já se mostrou imbatível em processar dados, reconhecer padrões e prever comportamentos. Mas, como destacou Goleman, sentir com o outro, e não apenas reconhecer o que ele sente, continua sendo uma experiência exclusivamente humana.
A ciência mostra isso de um jeito fascinante. Em uma conversa presencial, os chamados neurônios-espelho e o cérebro social fazem com que nossas emoções se sincronizem antes mesmo da mente racional processar. É quando “o corpo sabe antes da mente” que nascem conexões genuínas.

Esse nível de sintonia – o que poderíamos chamar de sincronia afetiva em tempo real – nenhuma automação emocional é capaz de reproduzir. E talvez nunca seja.
“Empatia não é só reconhecer o que o outro sente. É se afetar, é se importar de verdade”, reforçou Goleman. Para ele, algumas competências humanas permanecem insubstituíveis diante da máquina:
- Autoconsciência: reconhecer o que sentimos e decidir a partir disso
- Autogestão: manter equilíbrio e foco em meio ao estresse
- Consciência social: perceber e interpretar o estado emocional dos outros
- Gestão de relações: inspirar, persuadir, colaborar e gerar confiança
Segundo ele, a intuição é resultado da nossa experiência de vida, e isso nunca poderá ser superado pela IA. Já o aprendizado social é uma habilidade que tornará as pessoas mais eficazes em todas as suas funções.
Uma série de pesquisas contemporâneas comprovam que essas competências emocionais e sociais estão diretamente relacionadas à produtividade, criatividade e bem-estar.
Não à toa, são decisivas em momentos de alta performance, como no estado de fluxo de um atleta ou de um cirurgião, aquele estado mental em que a pessoa está tão concentrada e conectada com a atividade que o tempo parece suspenso, a performance atinge seu ápice e a experiência se torna, ao mesmo tempo, desafiadora e prazerosa.
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E O FUTURO DO TRABALHO
No campo das relações, Goleman bate fundo ao relembrar: não é só sobre o que sabemos, mas sobre como fazemos as pessoas se sentirem. Liderar, afinal, não é mexer em peças de um tabuleiro. É criar confiança, alinhar significados, incentivar vínculos, transformar colaboração em potência coletiva.
O futuro não será definido apenas pelas tecnologias que adotamos, mas pela forma como preservamos e expandimos aquilo que nos torna humanos.
É esse o espírito desta coluna: investigar o diálogo entre inovação e humanidade. Falar sobre as tensões contemporâneas, desafios emocionais que atravessam nossas relações, estruturas de trabalho e culturas organizacionais. Um espaço para ampliar o olhar, nomear o que sentimos e construir vínculos mais vivos, entre pessoas, ideias, tecnologias e mundos possíveis.
a intuição é resultado da nossa experiência de vida, e isso nunca será superado pela IA.
Porque o futuro será, inevitavelmente, tecnológico. Mas precisa ser, acima de tudo, humano. É nesse encontro entre inovação e bem-estar, entre desempenho e cuidado, entre métricas e vínculos, que construiremos organizações e sociedades mais saudáveis.
Goleman fechou sua fala com uma frase que eu carrego comigo: “o futuro não será vencido pela máquina mais rápida, mas pela pessoa mais conectada.” Eu acrescentaria: o futuro depende disso mesmo, não negar os avanços, mas manter o comando. Entendendo que a tecnologia é ferramenta. E nós, seres humanos, somos o propósito.
Este espaço é um convite para navegarmos juntos pelas fronteiras onde a inovação encontra o humano. Um lugar para repensar performance, ressignificar o trabalho e construir futuros socialmente saudáveis.
Vem comigo?
