Home office: o problema são chefes incompetentes, não o trabalho remoto

O que aprendi em dez anos trabalhando de casa

Créditos: Karolina Grabowska/ Pexels/ Narvo Vexar/ Getty Images

Shoshana Deutschkron 4 minutos de leitura

Há 10 anos, fiz o que muitos sonhavam: abandonei meu trajeto diário de três horas até o escritório e passei a trabalhar de casa. Não porque detestava meu trabalho, mas porque queria minha vida de volta.

Tive sorte. Minha empresa na época me permitiu continuar no mesmo cargo e trabalhar de onde eu me sentisse melhor – isso muito antes de a pandemia popularizar o trabalho remoto. Essa decisão me deu mais foco, energia e capacidade de contribuir do que qualquer promoção teria dado.

Desde então, vi modelos remotos que funcionam e outros que fracassaram. E posso garantir: quando não funciona, o problema não é o trabalho remoto. O problema são líderes que não sabem liderar sem vigiar cada movimento da equipe.

Quando empresas recuam nas políticas de home office, quase nunca é sobre “restaurar a cultura” ou “fortalecer a colaboração”. É sobre controle – e, cada vez mais, sobre medo.

Lembro de quando a IBM, anos atrás, obrigou todos a voltar ao escritório. Respondi com uma carta aberta aos funcionários remotos, que teve milhares de reações. Ficou claro que as pessoas queriam trabalhar, entregar resultados e serem tratadas com confiança. O que receberam, porém, foi uma política que restringia sua vida.

Essa história vem se repetindo. No último ano, a Amazon passou a monitorar os crachás de entrada. A Meta impôs três dias presenciais obrigatórios. O Google incluiu “presença” nas avaliações de desempenho. E a Zoom, ironicamente, determinou que quem mora a até 80 quilômetros de um escritório precisa trabalhar presencialmente duas vezes por semana.

Está claro que muitas empresas ainda não encontraram o modelo certo – nem para suas equipes, nem para seus negócios.

DADOS PROVAM: O TRABALHO REMOTO FUNCIONA

A discussão não deveria ser se o home office pode ser produtivo. As evidências mostram que sim. Pesquisas da Gallup revelam que funcionários que trabalham de casa três a quatro dias por semana são os mais engajados e produtivos.

Estudos da Microsoft reforçam que o modelo remoto aumenta a produtividade em tarefas individuais, embora possa dificultar a colaboração entre equipes se não houver gestão ativa. A solução não é forçar todos a voltar ao escritório, mas criar sistemas que promovam conexão e visibilidade.

O debate não é sobre local de trabalho, mas sobre gestão. As melhores empresas não improvisam. Sabem que, assim como boas equipes presenciais exigem esforço, as remotas também.

Crédito: Portra/ iStock

Aquelas que se destacam hoje não são “pró-remoto” ou “pró-escritório” – são “pró-empoderamento”. Confiam nas pessoas e oferecem clareza, flexibilidade e infraestrutura para que façam seu melhor. Isso inclui desde as ferramentas que usam até a forma de se comunicar.

Elas valorizam documentação clara em vez de conversas de corredor, usam plataformas como Miro, Notion, Loom e ChatGPT para apoiar o trabalho assíncrono e treinam líderes para orientar times remotos.

Também entendem que conexão humana importa. Encontros presenciais ocasionais, coworking voluntário e rituais de equipe ajudam a evitar o isolamento. E investem pesado em comunicação interna. No trabalho remoto, a comunicação não é um mero detalhe – é o que mantém tudo de pé.

O QUE VOCÊ PODE FAZER

Se a sua empresa ainda não encontrou o modelo ideal, você pode melhorar sua experiência adotando práticas que favoreçam comunicação clara e colaboração.

Defenda o uso de ferramentas e processos que tornem o trabalho mais organizado e transparente. Isso melhora sua rotina e aumenta seu valor como alguém capaz de operar bem em ambientes flexíveis.

Se sua empresa não apoia o trabalho remoto – ou resiste às suas tentativas de fortalecê-lo –, veja isso como um sinal de alerta. Pode indicar liderança insegura, prioridades equivocadas ou até problemas financeiros. Nesse caso, talvez seja hora de procurar novas oportunidades.

No trabalho remoto, a comunicação não é um mero detalhe – é o que mantém tudo de pé.

Sim, o mercado está competitivo. Mas os melhores talentos ainda têm opções. E há algo que muitos líderes ignoram: os profissionais mais qualificados nem sempre estão perto do escritório. Em alguns casos, simplesmente não há como preencher certas vagas localmente.

Ao adotar a flexibilidade geográfica, as empresas podem contratar a pessoa certa para a função, não apenas quem mora a uma distância viável de deslocamento. Isso amplia o acesso a talentos e fortalece a posição da empresa em setores competitivos.

As organizações que entenderem que presença obrigatória não gera produtividade, que confiarem em suas equipes e criarem sistemas alinhados à forma como as pessoas realmente trabalham vão reter os melhores talentos, superar concorrentes e moldar o futuro do trabalho. As outras ficarão com escritórios cheios de mesas vazias.


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