Em lugar de mineração, flores: startup aposta em plantas para extrair níquel do solo
Técnica de fitomineração pode tornar produção mais barata, neutra em carbono e até 14 vezes maior que a mineração convencional

Na África do Sul, um campo coberto de flores silvestres amarelas não parece um local industrial. Mas é o piloto de um novo tipo de mina de níquel: em vez de explodir o solo para extrair rochas, a startup de biotecnologia Genomines está fazendo “fitomineração”, usando plantas que absorvem o metal diretamente do solo.
A planta escolhida é um tipo de margarida classificada como hiperacumuladora – espécie que "puxa" metais pelas raízes e os armazena em alta concentração em caules e folhas. Com edição genética, a Genomines conseguiu triplicar o tamanho da planta e dobrar sua capacidade de absorção de níquel.
A empresa, que acaba de levantar US$ 45 milhões em investimentos, planeja escalar a técnica para garantir um fornecimento sustentável e acessível do metal crítico. “É importante porque precisamos de muito metal, especialmente para a transição energética nas baterias de veículos elétricos”, diz Fabien Koutchekian, cofundador e CEO da Genomines.
“Não só em baterias, mas o [níquel] é amplamente usado em aço inoxidável, como parte da infraestrutura. O problema é que, com os métodos tradicionais de mineração, não conseguiremos produzir o suficiente.”
Encontrar minério de níquel está ficando cada vez mais difícil: a maior parte vem de minas operadas por chineses na Indonésia. As reservas de alto teor, usadas na produção de aço inox, podem se esgotar antes do fim da década. Já as de baixo teor, voltadas para baterias, podem acabar até meados do século.
O níquel também existe no solo, mas as concentrações eram, até agora, muito baixas para tornar a extração viável. As plantas mudam essa lógica.

“As plantas que usamos têm a capacidade de concentrar o metal que encontram no solo – elas concentram na biomassa”, explica Koutchekian. “Conseguimos chegar a quase 7,6% de metal dentro das plantas.”
O piloto da Genomines fica em um terreno naturalmente rico em níquel, resultado da ação do clima sobre as rochas da região. Isso significa que não serve para agricultura convencional, já que outras culturas não crescem bem ali. Mas é o local ideal para uma fitomina.
O cultivo leva de quatro a seis meses, período em que as plantas absorvem o metal. Depois, podem ser colhidas, secas e aquecidas para gerar óxido de níquel em qualidade de bateria, pronto para venda e refino.

O processo é muito mais eficiente que o sistema atual. Construir uma mina tradicional de níquel, avaliada em bilhões de dólares, exige mais de uma década de exploração e outra de obras. “Elas têm o tamanho de pequenas cidades”, diz Koutchekian. Além disso, ao operar, é preciso mover toneladas de rocha para extrair apenas uma fração de metal.
Com agricultura, a infraestrutura necessária é mínima e o sistema pode funcionar em um ou dois anos. O consumo de energia é muito menor do que na mineração convencional. Além disso, como as plantas capturam CO2 durante o crescimento, o processo é carbono neutro. Em vez de destruir ecossistemas com explosões e poluição, ele ainda ajuda a recuperar o solo.
Segundo Koutchekian, a sustentabilidade não é o principal atrativo para clientes potenciais. O que pesa é o custo: a técnica economiza tanta energia que o produto pode ser significativamente mais barato que o modelo atual.

A empresa estima produzir óxido de níquel a cerca de US$ 10 mil por tonelada, contra uma média de US$ 16 mil na mineração (com previsão de subir para US$ 19 mil até o fim da década).
Com a nova rodada de investimentos, a Genomines pretende usar projetos-piloto para comprovar a competitividade de custos e, depois, expandir em larga escala.
O potencial é enorme: a equipe estima que entre 30 e 40 milhões de hectares de terras no mundo tenham concentração suficiente de níquel para a técnica. Em teoria, se toda essa área fosse usada, a empresa poderia produzir de sete a 14 vezes mais níquel do que a indústria tradicional gera hoje.