Escultura mostra o que o aquecimento global pode fazer com o planeta

Criada pela artista Janet Echelman, a instalação feita com fibras sintéticas foi inspirada em dados climáticos de pesquisadores do MIT

escultura com fios representa o aquecimento global
Crédito: Anna Olivella/ MIT Museum

Elizabeth Segran 2 minutos de leitura

No saguão do museu do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um imenso emaranhado de fios plásticos despenca do teto como uma onda luminosa. A escultura, feita de milhares de metros de fibras, prende o olhar: à medida que se estende pelo espaço, os fios mudam de cor, do azul ao verde, do vermelho ao laranja, criando um efeito hipnótico.

À primeira vista, a obra parece abstrata. Mas cada fio tem um significado preciso. Criada pela artista Janet Echelman, a instalação foi inspirada em dados climáticos de pesquisadores do MIT.

Cada fibra representa a temperatura do planeta em determinado período da história; a cor indica a intensidade: azuis e verdes refletem climas frios; vermelhos e laranjas, um planeta em aquecimento.

O trabalho retrocede até a era do gelo, mas é no presente que ganha força: um único fio amarelo simboliza o nosso tempo. A partir dele, o trançado se expande em direções diversas, desenhando possíveis futuros – que podem variar de um vermelho alarmante a tons mais amenos de azul e verde, dependendo das escolhas feitas agora.

A instalação foi batizada de Remembering the Future (“Lembrando o futuro”), inspirada em uma frase do filósofo Søren Kierkegaard: “o estado mais doloroso de ser é lembrar o futuro, especialmente aquele que você nunca terá.”

Echelman insiste que sua obra não é uma visualização de dados, mas um convite à contemplação da imensidão da crise climática sem paralisia. “É para ser contemplativo”, explica. “Minha esperança é que desperte um senso de ação.”

Durante três anos de residência no Centro de Arte, Ciência e Tecnologia do MIT, a artista colaborou com a professora Caitlin Mueller, dos departamentos de arquitetura e engenharia civil e ambiental, para desenvolver o software que transformou os dados climáticos em uma estrutura digital – base para a escultura.

escultura com fios  representa o aquecimento global
Crédito: Anna Olivella/ MIT Museum

No museu, visitantes podem interagir com uma versão digital da obra em uma tela, ajustando os fios virtuais e explorando as ferramentas usadas em sua criação. Apesar da tecnologia envolvida no design, a peça foi feita manualmente: levou cerca de um ano para ser tecida, fio a fio, pelo time de Echelman.

A motivação para o projeto veio de uma sensação de saturação diante das notícias sobre o estado do planeta. “É como se recebêssemos mensagens em caixa alta todos os dias dizendo que a Terra está à beira do colapso”, diz a artista. “É demais para processar, então eu me via evitando o tema.”

escultura com fios representa o aquecimento global
Crédito: Anna Olivella/ MIT Museum

Com a escultura, ela quis provocar o contrário: algo que faça o público encarar o assunto, não desviar dele, e refletir sobre os muitos futuros possíveis à nossa frente.

O fio amarelo, que simboliza o presente, é o mais tensionado de todos. “Ele reflete o quanto este momento é tenso e como as escolhas que fazemos agora importam”, afirma. À noite, iluminada por focos que ressaltam suas cores, a escultura ganha ainda mais força.

Para o diretor do museu, Michael John Gorman, a instalação cumpre um papel essencial: “a obra toca em um dos temas mais importantes do nosso tempo”, diz. “Queremos que o maior número de pessoas possível tenha a chance de vivê-la.”


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais