Empresa transforma escritórios vazios em fazendas urbanas

Projeto aproveita espaços comerciais desocupados para produzir alimentos, combinando inovação urbana e sustentabilidade

Empresa transforma escritórios vazios em fazendas urbanas
Area 2 Farms

Nate Berg 4 minutos de leitura

Muitos dos prédios de escritórios esvaziados pela pandemia ainda estão vazios. Um relatório recente da Moody's Analytics constatou que, no segundo trimestre de 2025, as taxas de vacância de escritórios ainda estavam acima de 20% nos Estados Unidos.

Cidades por todo o país ainda estão tentando descobrir o que fazer a respeito, se é que há algo a fazer. Uma startup tem uma solução nada convencional: quer preencher esse espaço vazio com plantações.

CONCEITO DE AGRICULTURA INDOOR

A Area 2 Farms é uma empresa com três anos de existência, sediada em Arlington, estado americano da Virgínia, que está levando o conceito de agricultura indoor para espaços inusitados.

Sua primeira fazenda, em Arlington, cultiva dezenas de variedades de plantas em um prédio baixo de tijolos, localizado entre uma creche para cães e uma oficina mecânica.

"Parte da nossa visão é que uma fazenda pode ir a qualquer lugar"

Oren Falkowitz, fundador da Area 2 Farms

Com uma nova injeção de capital de risco, a empresa planeja expandir e busca edifícios de escritórios vazios como potenciais futuras fazendas. "Parte da nossa visão é que uma fazenda pode ir a qualquer lugar", diz o fundador da empresa, Oren Falkowitz.

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Com o apoio de US$ 9 milhões em novos financiamentos da Seven Seven Six, Slow Ventures, 468 Capital e Animo, a Area 2 Farms planeja construir 10 novas fazendas nos EUA em 2026.

PRODUÇÃO PERTO DO CONSUMIDOR

Falkowitz afirma que a empresa está atualmente buscando oportunidades na Filadélfia, Charlotte, Nashville, sul da Flórida, Orlando, Austin, Raleigh-Durham e Atlanta. Seu objetivo é construir fazendas em ambientes fechados a menos de 16 quilômetros de distância de 90% da população dos EUA.

A proximidade é a ideia que impulsiona a empresa. Falkowitz cresceu no sul da Flórida e se lembra de uma época em que as laranjas eram normalmente compradas não em supermercados, mas diretamente do próprio laranjal, dos agricultores que as cultivavam. Hoje, estudos estimam que a maioria dos produtos viaja centenas de quilômetros antes de chegar ao consumidor final.

"A produção dos nossos alimentos está cada vez mais distante", diz Falkowitz. "Como resultado dessa distância, as lojas estão pedindo aos produtores que cultivem alimentos com maior estabilidade na prateleira, não necessariamente mais diversificados ou mais nutritivos."

"Nós movemos a fazenda, não a comida"

Oren Falkowitz

Falkowitz, que trabalhou anteriormente para a Agência de Segurança Nacional (NSA) e posteriormente fundou duas empresas de segurança cibernética, propõe uma alternativa hiperlocal. "Nós movemos a fazenda, não a comida", diz ele.

TECNOLOGIA NAS FAZENDAS VERTICAIS

A fazenda piloto da empresa em Arlington produziu sua primeira safra no outono de 2022. A empresa estima ter produzido mais de 20.000 colheitas desde então. Para isso, foi usado um sistema modular baseado em prateleiras que move automaticamente as plantações por um ciclo de luz do dia e escuridão simulados.

Plantada em recipientes de caixa cheios de terra, a fazenda é capaz de cultivar alimentos básicos como alface, espinafre, cenoura, batata, tomate e cogumelos, bem como itens de nicho, como microverdes de amaranto e trevo roxo. Com 5,5 metros de altura, as prateleiras amontoam 80 hectares de cultivo anual em 275 metros quadrados de terreno.

A agricultura indoor não é novidade. As estufas são uma parte essencial do sistema alimentar global. Falkowitz observa que a agricultura hidropônica existe desde os tempos da Babilônia. “Eu diria que cultivar verticalmente é apenas parcialmente interessante, e é desinteressante ou pouco inovador enviar seus produtos para a Whole Foods, Safeway ou Publix”, diz ele.

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CULTIVO AUTOMATIZADO

A Area 2 Farms funciona mais como aqueles laranjais dos quais Falkowitz se lembra quando criança, mas com o toque de alta tecnologia de suas prateleiras de cultivo automatizadas. Agricultores locais administram o espaço e sua base de clientes vem principalmente de um raio de três quilômetros para coletas semanais compartilhadas na fazenda.

“Quando construímos uma fazenda ou a transferimos de volta para as pessoas, queremos que elas interajam com ela. Não queremos ninguém entre o agricultor e o consumidor”, explica o empreendedor.

A ideia pegou. “Estamos esgotados há cem semanas”, diz Falkowitz.

É por isso que o produtor está ansioso para expandir a tecnologia de agricultura modular da Area 2 Farms para novos espaços. “O que queríamos que a tecnologia fosse capaz de fazer é caber em qualquer lugar que pudesse”, explica. “Para construir uma estufa em uma cidade, seriam necessários de um quarto de acre a um acre de terra, e isso não existe.”

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O que existe nas cidades são prédios subutilizados e terrenos com formatos estranhos. A Area 2 Farms está atualmente construindo sua segunda fazenda em um terreno trapezoidal em Fairfax, Virgínia, que está vazio há 20 anos.

Falkowitz vê ainda mais potencial nos escritórios vazios que lotam cidades por todo o país. Cidades e proprietários de imóveis estão abertos à ideia de levar essa tecnologia agrícola para dentro de antigos escritórios. “Eles simplesmente pensam: ‘Temos o espaço. Não sabemos o que fazer com ele’”, diz Falkowitz.

A Area 2 Farms é uma alternativa e talvez uma segunda chance para edifícios que, de outra forma, poderiam ter se tornado obsoletos. “No fundo, estamos realmente focados em revitalizar espaços subutilizados ou existentes”, resume Falkowitz. “E isso pode ter uma ampla gama de formatos.”


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais