O que é “disforia de carreira” e como saber se você está sofrendo desse mal

Conceito descreve a sensação de estar “atrasado” em relação aos outros, mesmo diante de conquistas reais

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Eve Upton-Clark 2 minutos de leitura

Das atualizações no LinkedIn de ex-colegas que são promovidos a amigos que atingem marcos profissionais ou conquistam o emprego dos sonhos... nunca foi tão fácil sentir-se “atrasado” na vida profissional. Esse sentimento tem até nome: disforia de carreira.

Você provavelmente já ouviu falar em disforia corporal (um diagnóstico médico real) ou disforia financeira (não reconhecida clinicamente). A disforia de carreira segue a mesma lógica: trata-se de um termo que descreve (com uma pitada de humor) a desconexão entre as conquistas profissionais de uma pessoa e a percepção que ela tem do seu próprio valor.

Alguns sinais clássicos: deixar de se candidatar a promoções porque se sente despreparado, mesmo quando colegas garantem que você está pronto; acumular certificados e diplomas não por ambição, mas por medo de nunca ser “suficiente”; ou ainda ficar em silêncio em reuniões, mesmo tendo boas ideias em mente.

Também chamada de “disforia de trabalho”, a expressão tem ganhado força nos últimos meses em posts no LinkedIn, vídeos no YouTube e artigos em sites de notícias, estilo de vida e publicações voltadas ao público jovem.

Parecida com a síndrome do impostor – mas sem o medo de ser “desmascarado” –, a disforia de carreira não descreve apenas um momento de dúvida, e sim uma perspectiva que influencia a forma como alguém enxerga toda a sua trajetória profissional.

O contexto ajuda a explicar: vivemos numa era em que o sucesso é cuidadosamente editado e compartilhado em posts do tipo “É com entusiasmo que anuncio...”. O resultado é que muitos se sentem inadequados.

De acordo com uma pesquisa da Gallup de 2024, trabalhadores nos Estados Unidos estão cada vez mais desapegados de seus empregos. Outros sofrem com chefes tóxicos ou empresas que não reconhecem suas contribuições – fatores que podem alimentar a disforia de carreira.

Crédito: Fast Company Brasil

Uma nova pesquisa da Gallup, de 2025, mostra que apenas 30% dos funcionários nos EUA sentem que alguém no trabalho estimula seu desenvolvimento, contra 36% em março de 2020.

A disforia de carreira resultante de discriminação adiciona uma camada ainda mais complexa. O velho ditado “é preciso trabalhar o dobro para chegar ao mesmo lugar” segue sendo realidade para muitas mulheres, pessoas de baixa renda, profissionais negros e outros grupos marginalizados.

a expressão tem ganhado força nos últimos meses em posts no LinkedIn e YouTube.

Seja causada por uma sensação interna de inadequação ou por pressões externas e desigualdades sociais, a disforia de carreira cria um ciclo que impede trabalhadores de alcançar seu verdadeiro potencial.

Técnicas usadas para lidar com a ansiedade de comparação em geral podem ajudar: estabelecer limites no uso de redes sociais, reconhecer e processar sentimentos ou passar mais tempo com pessoas que valorizam e apoiam você.

Superar questões de confiança, seja no trabalho ou na vida pessoal, sempre leva tempo. Rir de posts do tipo “LinkedIn versus realidade” pode ser um bom começo.


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais